Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Camargo de Barros (FBAUL)
Minicurrículo
- Lucas Camargo de Barros é realizador e doutorando pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em paralelo à produção audiovisual com exibições em janelas de cinema de autor no Brasil, França, Portugal e Holanda, Barros investiga o cinema contemporâneo de maneira interdisciplinar propondo um estudo acerca dos conflitos de um corpo permeado por memórias e relação afetivas mediadas pelo pathos. Vive e trabalha entre São Paulo e Lisboa.
Ficha do Trabalho
Título
- Patogenia fantástica: subversão narrativa em Cemitério do Esplendor
Formato
- Remoto
Resumo
- “Cemitério do Esplendor” (Apichatpong Weerasethakul, 2015) parte da patologia tripanossomíase africana para compor uma fábula que atravessa tempos, espaços e planos – físicos, espirituais e cinematográficos. Nesta análise fílmica, proponho abordar as ferramentas estético-formais contidas na longa-metragem que geram uma narrativa subversiva. A “patogenia fantástica” é a base estrutural que gera os sintomas que adoecem os soldados protagonistas e o próprio corpo fílmico.
Resumo expandido
- A presente pesquisa parte de uma análise fílmica centrada nas representações da patologia física presente em Cemitério do Esplendor (Apichatpong Weerasethakul, 2015). O objetivo principal é explorar como o elemento narrativo da doença do sono que acomete os soldados (a tripanossomíase africana) acaba por incidir também no próprio corpo fílmico, modificando sua estrutura e lançando-o para lugares complexos e insuspeitos. Chamo de “patologia fílmica” (Barros, 2021) o uso inventivo da mise-en-scéne, da montagem e de elementos extra-diegéticos que o realizador lança mão a fim de representar seus personagens doentes. Tal operação acaba por produzir uma subversão da gramática cinematográfica, contrapondo-se à dramaturgia hegemônica dos manuais de roteiro, somatizando os afetos enfermos dos personagens e gerando uma narrativa doente. Na medicina ocidental, a patogenia é o ramo da patologia que se dedica a analisar a origem de um estado patológico específico. Se a patologia é a doença, a patogenia é sua origem. Sequestrando esta ideia para o campo de estudos fílmicos, o conceito de “patogenia fantástica” presente na longa-metragem analisada, substitui e contrapõe o conceito de “incidente incitante” (McKee, 2017), ou seja, ela torna-se a agente primária do desenvolvimento narrativo e geradora do conflito central. Nesta análise interdisciplinar atravesso conceitos da medicina clínica, da filosofia, semiótica psicanalítica e da teoria de cineastas.
Bibliografia
- Amont, J. (2006). As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus.
Barros, L. C. (2021). Patologias fílmicas: subversão formal em narrativas doentes. Lisboa: Nova FCSH.
Canguilhem, G. (2009). O Normal e o Patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Coelho, C., Ávila, L. (2007). “Controvérsias sobre a somatização”. Em Revista Psiquiatria Clínica, n. 34, v. 6. SJRP: FAMERP. Pp. 278-284.
Deleuze, G. (2011). Francis Bacon: a lógica da sensação. Lisboa: Ed. Orfeu Negro.
Didi-Huberman, G. (2015). Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière. RJ: Contraponto.
Foucault, M. (1977). O Nascimento da Clínica. RJ: Forense Universitária.
McKee, R. (2017). Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. Curitiba: Arte & Letra.
Morin, E. (2015). O Cinema ou o Homem Imaginário – Ensaio de antropologia sociológica. SP: É Publicações.
Santaella, L., Hisgail, F. (org.). (2009). Semiótica Psicanalítica – Clínica da Cultura. São Paulo: Iluminuras.