Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Soares Mendes (PPGCine-UFF)

Minicurrículo

    Doutoranda no PPGCine-UFF, recebendo bolsa da FAPEJ / CAPES Brasil. Mestra em Ciências Sociais pelo PPGECsA/UnB (antigo PPG/CEPPAC). Possui graduação em Publicidade e Propaganda pela UnB e em Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. É pesquisadora do Programa de Extensão de Ação Contínua Comunicação Comunitária – FAC/UnB.

Ficha do Trabalho

Título

    O discurso feminista e o glamour da bruxa de Charmed: Nova Geração

Formato

    Presencial

Resumo

    A bruxa empata Maggie é personagem da série Charmed: Nova Geração (2018-atual). Entre as protagonistas, ela tem mais características convencionalmente femininas, sendo vista como infantil por seu glamour (MOSELEY, 2022). Negocia sua feminilidade com girl power, se desenvolvendo como uma personagem forte, inclusive após sobreviver a relacionamento abusivo. Sua magia conectada a emoções ajuda no combate a vilões que personificam opressões de gênero, como ocorre no Feminismo Mágico (WELLS, 2007).

Resumo expandido

    Analisamos a personagem Maggie, uma das bruxas protagonistas da série Charmed: Nova Geração (2018-atual), procurando entender como o conceito de glamour (MOSELEY, 2022) a atravessa, de modo que performa feminilidade ao mesmo tempo que se insufla de girl power. A negociação revela a maneira como os discursos feministas são intencionalmente apropriados pela série, que usa diferentes fontes na criação das bruxas.
    No audiovisual, as bruxas já foram apresentadas com várias características. De início, em Hollywood de 1898 a 1912, ela era a mulher acusada, a selvagem ou a velha bruxa da fantasia. A última era mais recorrente e, quando as histórias ficaram longas, buscaram contos de fadas para adaptações (GREENE, 2021).
    Ainda que as personagens nos contos de fadas precisassem fazer o mal para serem reconhecidas como bruxas (CALADO, 2005), nessa primeira onda do audiovisual dos EUA, a personagem não é uma grande vilã – a partir de 1934 isso muda com a bruxa se destacando e, na fantasia, se tornando monstruosa (GREENE, 2021).
    Além da bruxa histórica e a má, Veiga (2022) nos lembra da bruxa boa. Essa personagem conecta sensualidade, beleza e amor. É representada por mulheres comuns que possuem magia, como aquela da série A Feiticeira (1964-1972). De estilo conservador, mas atento à moda, ela personifica a dona de casa da TV de 1960 (GREENE, 2021).
    Similar a ela, encontramos a personagem Maggie com seu glamour. Para Moseley (2002), essa palavra significa feitiço e beleza. Poderia resultar no fortalecimento da confiança, mas, em algumas séries, é abordado de forma limitadora.
    Maggie é uma das protagonistas de Charmed: Nova Geração, inspirada no universo da série original Charmed (1998-2006). Há o interesse declarado de construir um elenco diverso (diferente daquele branco do primeiro programa) com narrativa feminista, em oposição à onda conservadora da eleição de Trump nos EUA.
    A série se encaixa em narrativas da era post-network, enfatizando a retórica da sororidade. Voltada para segmentos específicos da audiência, apresenta um coletivo de mulheres diversas como protagonistas, cuja sororidade se baseia em alianças e não só amizade (ALSOP, 2019).
    Aí encontramos Maggie, uma bruxa que se enquadra em modelos convencionalmente compreendidos como femininos. Tem agitada vida social e sempre com um interesse amoroso. Mostrando interesse por moda, usa tons de rosa de batom e roupas coloridas (com as cores vibrantes funcionando com um marcador da personagem quando ela troca de corpo com outra). Sua magia, vinculada às emoções, também pode ser lida como convencionalmente feminina (com o toque compreende os sentimentos dos outros e tem o poder de incutir estados de espírito).
    Porém esses elementos são vistos por outros personagens como sendo infantis. Em sua fala, Maggie expressa o seu desacordo com essa visão: “Só porque eu tenho a pele limpa e uma atitude positiva, o mundo inteiro pensa que eu sou uma criança. Mas eu sou uma baita mulher adulta”. A infantilização aparece inclusive em um sonho mágico para enfrentar seus medos, quando se vê literalmente como uma criança.
    Mas, a partir da lente do Feminismo Mágico (WELLS, 2007), percebemos Maggie como uma mulher empoderada. Com as irmãs, enfrenta vilões que personificam a opressão machista. Usando a empatia, compreende ameaças, desarma inimigos e tira vítimas de transe.
    Em sua vida pessoal, enfrenta um relacionamento abusivo e, apesar de seus poderes mágicos, não consegue se proteger. Após oito episódios, recusa o convite de seu abusador de começar do zero, se despedindo dele. A postura de se afastar de relacionamentos potencialmente problemáticos reaparece quando entende que, apesar da química com alguém, prefere ficar com quem a faça se sentir segura. Assume um novo papel, não mais como “enfermeira da alma” (RODRÍGUEZ, 2007), mas como alguém que recebe cuidados (ajudada em crises de pânico). A personagem indica formas de apresentar características convencionalmente femininas como poderosas.

Bibliografia

    ALSOP. Sorority flow. Feminist Media Studies, vol 19, n 7, 2019.
    CALADO. O encantamento da bruxa. João Pessoa: Idéia, 2005.
    GREENE. Lights, camera, witchcraft. Minnesota: Llewellyn Publications, 2021.
    JOSEPH. The CW Arrowverse and myth-making, or the comm. of trans. franch. International Journal of TV Serial Narratives, Vol IV, n 2, 2018.
    LE FÈVRE-BERTHELOT. Gossip Girl and the CW. International Journal of TV Serial Narratives, Vol IV, n 2, 2018.
    MOSELEY. Glamorous witchcraft. Screen, Vol 43, n 3, 2002.
    RODRÍGUEZ, Carolina. Orígenes y configuración clásica del arquetipo de “la Cenicienta”. In: FERNÁNDEZ, Carmem. Diosas del celuloide: arquetipos de genero en el cine clasico. Madrid: Ediciones Jaguar, 2007.
    VEIGA. Conferência de abertura. 2022. 1 vídeo (107 min). Publicado pelo canal Mostra Mulheres Mágicas.
    WELLS. Screaming, flying, and laughing. [Tese de doutorado] Texas A&M University, Philosophy, 2007.