Ficha do Proponente
Proponente
- José Wilker Carneiro Paiva (UFC)
Minicurrículo
- Mestrando em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes no Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, é graduado em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição, onde desenvolve pesquisa sobre o estado da arte do remix (teoria e prática como potencial político).
Ficha do Trabalho
Título
- Prometeu 21: CARA-O-QUÊ? webTVs na gravidade sob controle remoto
Mesa
- Prometeu 21: CARA-O-QUÊ? webTVs na gravidade sob controle remoto
Resumo
- O confinamento compulsório deslocou-nos dos encontros físicos para outras virtualidades. Se as tecnologias pertencem aos continentes mais poderosos, como nos apropriarmos destas maquinarias que cotidianamente controlam nossos dados? Esta performance em tempo real visa debater a estética das Lives desde gestos de montagem audiovisual: experimentações sonoro-videográficas a uma transmissão e contágio das fruições artísticas, transformando os espectadores em participa’dores neste quasi-cinema.
Resumo expandido
- Esta performance trata-se de um filme-ensaio a ser montado ao vivo, com possível participação do público, a partir de um triplo desdobramento tecno-conceitual: (1)as estéticas televisivas -entre programas de auditório e design em movimento (FECHINE,2008;MACHADO,2000)-, (2)cinema como arqueologia das mídias (MANOVICH,2001;ELSAESSER,2018) e (3)audiovisual via inteligência artificial hoje (SZAFIR,2020;HUI,2020).
Se o “vídeo é uma forma que pensa” (DUBOIS,2004), propomos uma metalinguagem poética -e suas materialidades em órbita-, compreendendo que o “ao vivo” dá margem à emergência daquilo nem sempre programado: formas de risco que envolvem o improviso estético diante da falha e dos ruídos destas (tele-)audiovisualidades que visam nos arremessar reflexivamente em atravessamentos do caos em que vivemos.
Neste século 21 -com seus novos Prometeus, onde as contemporâneas mercadorias tecnológicas funcionam de acordo com suas próprias necessidades econômicas e de controle-, como construirmos uma retórica audiovisual em live streaming? Esta indagação nos guia a um projetar crítico dos gestos de montagem às “novas” tecnologias audiovisuais.
Retornando a uma basilar teoria cinematográfica, identificamos que tanto para Kuleshov quanto para Eisenstein a representação A e a representação B devem ser buscadas de tal modo que “sua justaposição suscite na percepção e nos sentimentos do espectador a mais completa imagem do próprio tema”. Da montagem das atrações (o processo do conhecimento através do jogo vivo das paixões) à justaposição ideogramática, operacionaliza-se o conceito de choque/ conflito – um esquema/ síntese como forma algorítmica conceitual/ intelectual. Ainda, a obra audiovisual pode ser vislumbrada como uma partitura orquestral – composição dos diversos elementos que aparecem no quadro desde camadas diferentes: várias pautas, cada uma contendo a parte (desenvolvida horizontalmente) do todo (em progressão vertical), entrelaçados ao movimento complexo e harmônico. A relação da linguagem musical à gramática do cinema é estabelecida também por Vertov, quando de sua teoria do Intervalo para experimentações metalinguísticas e não-narrativas.
Ao trabalharmos a montagem audiovisual como uma performance ao vivo no online, retomamos também tanto Godard – para quem a imagem não pertence a quem a produz e sim a quem a utiliza – quanto a segunda geração da videoarte brasileira (para quem fazer televisão era uma meta desde reinveções da estética mainstream). Ou seja, dos gestos de apropriação dos bancos de dados da Internet à subversão da estética dominante nas Lives durante a pandemia COVID19 (que tornou nossos encontros remotos, provocando novas experiências de presença digital), o coletivo Intervalos & Ritmos (#ir!) elabora experimentações sonoro-videográficas a uma transmissão e contágio nas (im)possíveis formas de webTV, na busca por transformar os espectadores em participa’dores neste quasi-cinema – como proposto por Neville D’almeida e Hélio Oiticica (SZAFIR,2015).
Apostamos que, se as tecnologias pertencem aos continentes mais poderosos, os processos artísticos pertencem a como nos apropriamos destas maquinarias que cotidianamente apropriam-se de nossos dados: a criatura de Frankenstein observava a vida dos seres humanos tomando conhecimento das emoções e também da linguagem verbal dos homens, classificando e nomeando suas expressões e seus sentimentos. Frente ao Prometeu Moderno visamos debater audiovisualmente a inteligência artificial de nossa era neobiopolítica: “quem sabe faz ao vivo” (ou, na máxima de Chacrinha, “eu não vim pra explicar, vim pra confundir”).
Um manifesto à supressão das fronteiras entre cinema, design, mídias emergentes e as artes em seus processos de criação: nosso filme-ensaio em tempo real operará através de um remix audiovisual no atual cenário de confluência da vida para o digital, onde a semântica, as frequências vocais e os reconhecimentos faciais (cara-o-quê?) passam a ser calculados ad infinitum.
Bibliografia
- BRANDÃO, A.; LIRA, R. (orgs.).A Sobrevivência das Imagens [SOCINE 2013]. Campinas:Papirus, 2015.
DUBOIS,P. Cinema,vídeo,Godard. SP:CosacNaify,2004.
EISENSTEIN,S. O sentido do filme. RJ:Jorge Zahar, 2002.
ELSAESSER,T. Cinema como arqueologia das mídias. SP:SESC,2018.
FECHINE,Y. Televisão e Presença. SP:Estação, 2008.
GODARD,J. JLG par JLG. Paris:Belfond,1968
HUI,Y. Tecnodiversidade. SP:Ubu,2020.
MACHADO,A. A televisão levada a sério. SP:Senac, 2000.
MANOVICH,L. The Language of new media. MIT, 2001.
SZAFIR,M. (A)Live or Dead @COVID19. DAT Journal, v.5,n.3, p. 263-287, 2020
_. Composição: Ensaio em 03 Movimentos. ouvirOUver, v14,n2, p.340-360, 2018.
_. Retóricas Audiovisuais 2.1: Ensino e Aprendizagem Compartilhada (Passado, Presente, Futuro ou Por uma Arqueologia-Cartografia da Montagem). Tese ECA/USP, 2015.
XAVIER, I. A experiência do Cinema. RJ:Graal, 1983.
#ir! WebTV hoje: Web Data Live Remix (O que é inteligência artificial?) Fortaleza: Vila das Artes, youtu.be/6191PjWGbzE?t=111,2020