Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    RAFAEL ROSINATO VALLES (——————–)

Minicurrículo

    Documentarista, escritor, pesquisador e professor. Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGCOM/PUCRS), com Doutorado Sanduíche na Universidad Carlos III de Madrid, Espanha. Mestre em Cinema Documentário pela Fundación Universidad del Cine (FUC/ Buenos Aires, Argentina). Autor do livro “Fotogramas de la memoria – encuentros con José Martínez Suárez” (Argentina, INCAA-ENERC). Foi professor nas instituições universitárias UNISUL e UFPEL.

Ficha do Trabalho

Título

    Pensar o cinema a partir dos diários íntimos dos cineastas

Resumo

    Este trabalho pretende analisar de que forma os diários íntimos escritos por cineastas contribuem para pensar o cinema e a condição do cineasta frente ao seu ofício. Serão analisados fragmentos dos livros “A conquista do inútil”, de Werner Herzog e “Diários, 1970-1986”, de Andrei Tarkovski. Em ambos livros será analisado como o contexto determina o processo de escrita do diário e como eles lidam com a condição de serem cineastas e enfrentarem as especificidades da realização cinematográfica.

Resumo expandido

    Ao longo dos anos, é possível constatar que muitos diários íntimos escritos por cineastas já foram publicados em forma de livro. Desde publicações de diários de cineastas mais experimentais (Derek Jarman, Jonas Mekas), passando por realizadores que concentraram a sua produção em filmes de ficção (Andrei Tarkovski, Yazujiro Ozu) ou responsáveis por produções documentais (Dziga Vertov, Paul Rotha), a verdade é que essas fontes nos possibilitam entender o cinema a partir de uma outra ótica. A questão que buscaremos analisar aqui é a seguinte: de que forma é possível entender o cinema e a condição do realizador cinematográfico frente ao seu ofício, a partir da escrita e da posterior publicação em forma de livro desses diários íntimos?

    Diante desse questionamento, se soma outra problemática. Não estamos falando aqui de autobiografias ou livros de memórias. Muito menos de conceber o diário como obra (Lejeune, 2015). Na sua essência, o diário íntimo é uma escrita fragmentária, privada, pautada pelo uso do calendário (Blanchot, 2005) e inserida na práxis da vida cotidiana do seu autor. Quando a escrita de um diário é feita por escritores ou cineastas, é recorrente perceber que o diário também possa vir a ser um caderno de estudos ou um diário de trabalho.

    Analisar os diários dos cineastas nos possibilita um exercício de metalinguagem. Esses diários colocam determinado filme em perspectiva, possibilitam entender o contexto no qual esse filme foi feito, assim como as implicações que determinada obra assume na práxis da vida cotidiana do seu realizador. Também nos possibilita descobrir projetos que acabaram não sendo realizados, assim como o processo de elaboração em que um filme foi realizado nas suas diferentes etapas (pré-produção, produção, pós-produção).

    A partir das especificidades dessa escrita, este trabalho buscará relacionar determinadas convergências e divergências entre diários que foram publicados em forma de livro. O trabalho tomará como base dois tipos de diário, em situações opostas: o diário de filmagem, com a sua escrita concentrada num momento e numa temática mais específica, num período mais curto; o diário que acompanha a práxis da vida cotidiana do autor durante um período mais extenso, no qual percorre anos da sua trajetória, sem se deter a uma temática ou momento específico.

    No primeiro caso, será analisado o livro “A conquista do inútil” (2013), de Werner Herzog, diário de filmagem que o cineasta realizou durante a produção do filme Fitzcarraldo. No segundo caso, será analisado o livro “Diários 1970-1986” (2012), de Andrei Tarkovski.

    Serão analisadas notas que, de alguma forma, abordem a relação do cineasta com o ofício da realização cinematográfica. Será analisado como o contexto determina o processo de escrita do diário e como eles lidam com a condição de serem cineastas e enfrentarem as especificidades da realização cinematográfica.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Teoria dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
    BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
    BRAUD, Michel. La forme des jours – Pour une poétique du journal personnel. Paris: Éditions du Seuil, 2006.
    HERZOG, Werner. A conquista do inútil. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
    LEJEUNE, Philippe. O diário: gênese de uma prática. In : GUTFREIND, Cristiane Freitas (org.). Narrar o biográfico – a comunicação e a diversidade da escrita. Porto Alegre: Sulina, 2015.
    TARKOVSKI, Andrei. Diários: 1970-1986. São Paulo: É Realizações Editora, 2012.