Ficha do Proponente
Proponente
- Sayd Mansur (ECO-UFRJ)
Minicurrículo
- Sayd Mansur é doutorando em Comunicação (UFRJ), mestre em Artes pela (UFF), e graduado em Estudos de Mídia pela mesma universidade. Tem experiência na área de Comunicação e Artes, com ênfase em Novas Tecnologias, Estética
e Filosofia. Dirigiu o curta metragem Lacerda: O Corvo da Guanabara
Ficha do Trabalho
Título
- Imagens críticas do Estado Novo. Propaganda Oficial em Conflito
Seminário
- Outros Filmes
Resumo
- Este trabalho busca expor a relação íntima entre a construção de um ideal estético que se empenhou na sustentação do Estado Novo. Para tanto, daremos especial atenção à construção da imagem de uma nação em vias de desenvolvimento, buscando amparo na crença no desenvolvimento técnico e no trabalho.
Resumo expandido
- O uso recente de arquivos audiovisuais na Arte deixa transparecer um problema muito forte, em especial a partir da segunda metade do século XX, o da autoridade das imagens para uma criação ética. As imagens técnicas, regularmente contestadas como representações motivadas pela ilusão de um referencial originário, tem provocado em seus artífices uma persistente investigação sobre novas operações e modos de produção crítica frente ao potencial mimético das imagens diante dos grandes públicos. Logo, o aprimoramento de procedimentos que evidenciam os usos dessas imagens enquanto índices de uma verdade histórica se apresenta como um bom ponto de partida para salientarmos algumas de suas contradições internas e o desvelamento das práticas que consolidaram estas representações sobre nossa memória.
Neste contexto, o período do Estado Novo (1930/45) é um período rico para análises e reinterpretações tanto do projeto político, como do projeto estético de nação elaborado por Vargas e levado à cabo por dois de seus ministros, Gustavo Capanema (Saúde e Educação), e Lourival Fontes (Propaganda). Cabe destacar, que o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) sob as ordens de Lourival, é certamente o órgão da burocracia estadonovista que expõe melhor que nenhum outro as aproximações entre o varguismo com os regimes nazifascistas europeus. O DIP foi encarregado de produzir ao longo desses quinze anos, inúmeros cinejornais, programas de rádio difusão, registros fotográficos e imagens de propaganda, além de ter gerido outras atividades voltadas à criação e manutenção de uma ideia/ideal de nação, como o turismo e a censura, mecanismos por meio do quais se obstruiu a penetração e disseminação de qualquer ideia considerada perturbadora à unidade nacional.
Vargas, como sabemos, vitorioso ao tomar as rédeas da Revolta Tenentista em 1930, assume o poder num governo de exceção que se estendeu por quase duas décadas. Aqui nos interessa, um olhar mais atento não apenas sobre o DIP, departamento antenado com os instrumentos de propaganda da Europa e dos EUA, como levantar a influência do intelectual Gustavo Capanema como mentor dos rumos da cultura e da criação de um ideal de nação nesse período. Ainda que distante da predileção nazifascista de Lourival Fontes, Capanema sempre norteou sua política cultural identificado com os valores nacionalistas em comunhão com a crença na ciência e racionalidade dos homens de seu tempo (LACERDA, 2000).
Partimos da premissa de que as imagens não estão prontas a nos dizer nada, não mentem ou emitem qualquer verdade, não são obscuras, mas estão sempre disponíveis para que nos debrucemos sobre elas, “quer dizer, de analisa-las, descompô-las, remontá-las, interpretá-las, distanciá-las fora dos clichês linguísticos que suscitam os clichês visuais.” (HUBERMAN, 2017). Por esta razão, pretendemos tencionar a relação entre o documentário e o documento para além de suas afinidades semânticas. Parte deste esforço se dará na problematização do ideal de documento enquanto monumento, ou seja, da edificação de narrativas oficiais a partir da hierarquização de documentos históricos.
Deste modo, podemos destacar como primeira e fundamental contradição nesses registros, a sistemática representação da imagem do trabalhador enquanto figura ideal, e portanto, despersonificada. Homens sem rosto, anônimos que estão presentes como significação do ideal de trabalho enquanto uma grandeza abstrata, desumanizada. São inúmeras fotografias e frames cinematográficos onde observamos cidadãos diminutos em função de enquadramentos que privilegiam o maquinário, este sim o elemento fundamental dessa narrativa modernizante. Enquadramentos soberbos que favoreciam a abstração da técnica, das ferramentas e construções, de onde emergiria um ideal excludente onde toda “ação” prevalece em detrimento do elemento humano, onde os valores de força e produção simbolizam a corrida de um país em busca de seu futuro, ainda que deixando para trás seu povo.
Bibliografia
- BUCK-MORSS, Susan. O presente do passado. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, 2018
DIAS, Susana de Sousa. ‘48’: Imagens que gritam. Entrevista com Susana de Sousa Dias. Entrevista concedida a Manuel Halpern, 2011.
DIDI HUBERMAN, Georges. Quando as Imagens Tomam Posição – o olho da história vol. I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.
LACERDA, Aline Lopes de. A obra getuliana ou como as imagens comemoram o regime. Estudos históricos, v.7, n.14, p.241-263. Rio de Janeiro, 1994.
LISSOVSKY, Mauricio, JAGUARIBE, Beatriz. Imagem fotográfica e imaginário social: a invenção do olhar moderno na Era Vargas. (in) XV COMPÓS, 2005, Bauru, 2006.
LINS, Consuelo; REZENDE, Luiz Augusto; FRANÇA, Andréa. A noção de documento e a apropriação de imagens de arquivo no documentário ensaístico contemporâneo. Revista Galáxia, São Paulo, n. 21, p. 54-67, jun. 2011.
MARTINS, Andrea França. Jânio a 24 Quadros e a Montagem como farsa. DEVIRES (UFMG), v. 12, p. 52-67, 2015.