Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivana Bentes (UFRJ)

Minicurrículo

    Professora Titular da UFRJ, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pró-Reitora de Extensão da UFRJ desde junho de 2019. É professora e pesquisadora do Programa da Pós Graduação em Comunicação da UFRJ

Ficha do Trabalho

Título

    Emergência Audiovisual: A Casa, a Tela e a Virtualização da Vida

Resumo

    Uma análise da emergência audiovisual no período da pandemia quando vimos surgir uma produção audiovisual massiva nas redes e plataformas e pudemos entrar em mundos que não frequentávamos, descobrir novos sujeitos políticos que utilizam o audiovisual, o vídeo, os remixes, um regime de imagens em fluxo continuo e em recombinatória. imagens-mundo que produzem uma “TV reversa”, em que pessoas comuns, influenciadores e celebridades protagonizam vidas-linguagens e outros regimes de imagens.

Resumo expandido

    A pandemia da Covid-19 instaurou uma série de interdições e abriu feridas doídas: o mundo exterior, o fora da casa, a rua, a cidade, o “mundo-abrigo” como lugar dos encontros, das trocas, da sociabilidade corpo-a-corpo se torna um mundo interditado, a ser evitado, ameaçador ou proibido. Não existe lugar para se esconder do vírus. A casa é o lugar mais seguro para retardar o contágio (desacelerar a propagação do vírus, achatar curvas de infecção) e esperar uma vacina.

    A experiência inicial do isolamento social, o #ficaemcasa global, foi uma perda de mundo que colocou a casa, o espaço doméstico, a intimidade na centralidade da sociabilidade pós-pandemia. Não uma casa qualquer, mas uma casa-tela ou uma tela-casa, uma casa-interface, uma casa dispositivo, uma casa-plataforma como horizonte de mundo.

    Nova Ordem Doméstica

    Os afazeres domésticos, a nossa intimidade, os interiores dos apartamentos invadem as reuniões on line, se materializam em imagens. A intimidade revelada é o acidente estrutural das “lives” e transmissões em tempo real. Uma violência ou urgência doméstica irrompe, situações tragicômicas se tornam banais. O real vaza por todas as telas e interfaces.

    Também vemos de forma massiva uma “TV reversa”, em que pessoas comuns, influenciadores e celebridades passam a mostrar suas vidas, seus avatares e seus personagens. Vemos emergir uma estética remediada com dramas performados em cozinhas, quartos desarrumados, afazeres domésticos, cabelos crescidos, o estar de pijama o dia todo, o fitness improvisado, um penteado, a hora de se maquiar na frente da tela : micro acontecimentos, grandes acontecimentos e a banalidade cotidiana em pessoa.

    As telas nos submetem a um regime de over exposição que demanda uma gestão contínua das imagens, nossas, de nossa casa, da infodemia (pandemia de informações) o que produz uma exaustão.

    Nos ambientes de trabalho presenciais estamos protegidos pelo espaço comum e homogêneo, padronizado e segmentado. Misturar os tempos e espaços domésticos, a intimidade e o mais formal produz perturbações espaço-temporais e pequenas e grandes catástrofes e constrangimentos. As assimetrias, desigualdades e privilégios podem ser materializados nas imagens.

    Co-Presença e Estamos em Lives

    Está comunicação é uma proposta de compartilhar e analisar essa emergência audiovisual no período da pandemia quando pudemos entrar em mundos que não frequentávamos, descobrir novos sujeitos políticos que utilizam o audiovisual, o vídeo, os remixes, um regime de imagens em fluxo continuo em recombinatória (remixofagia), imagens-mundo que rompem com as imagens como em perfis do @mototaxiduamor que produz vídeos enquanto conduz seu moto-táxi pelas favelas e conversa com seus passageiros; @leosantan_ , um humorista negro que encarna a personagem de Mãe Rita e traz a cultura de matriz africana para o centro da cena; @oyurimarcal jovem que produz vídeos que trazem questões como o racismo para o cotidiano pelo humor; crônicas da pandemia de um deprimido de pijama no canal @embrulhaoficial; @historiasdeterapia, narrativas contadas enquanto se lava a louça, e uma miríade de expressões audiovisuais que aproximam essas imagens-mundos de vidas-linguagens.

    Podemos invocar aqui a análise que a cineasta e ensaísta alemã Hito Steyerl (2009) faz das imagens do cinema de 35mm enquanto discurso, baseadas na nitidez e na alta resolução como fundadoras de uma “sociedade de classes das imagens”? A alta definição das imagens digitas perseguindo essa “imagem modelo” do cinema. Estamos vendo emergia uma nova fratura ou deriva nos regimes de imagens? Podemos falar de um outro regime de imagens expressivas desses novos sujeitos do discurso, influenciadores, produtores de memes, etc que usam formatos low tech, imagens e gifs de baixa resolução, filtros e imagens “remediadas” disputando o sistema das imagens em escala massiva.? É o que queremos analisar.

Bibliografia

    BENTES, Ivana. Economia narrativa: do midiativismo aos influenciadores digitais. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET-MG: Belo Horizonte. 2018

    BENTES, Ivana. Mídia-Multidão. Estéticas da comunicação e biopolíticas. Rio de Janeiro, Editora Mauad X, 2015.

    CHAGAS,  Viktor (Org.)  A cultura dos memes: aspectos sociológicos e dimensões políticas de um fenômeno do mundo digital. Editora: Edufba. 2020.

    STEYERL, Hito. In Defense of the Poor Image. E-Flux: Journal 10. 2009.