Ficha do Proponente
Proponente
- Diego Paleólogo (UERJ)
Minicurrículo
- Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ. Pós-doutorado no PPGCOM-UFRJ (2015) e no PPGCOM-UERJ (2017 – atual). Mestre em Letras pela PUC-Rio. Graduado em Comunicação Social pela UFRJ. Trabalha e pesquisa literatura e imagem; investiga questões de representação do corpo, alteridade, monstruosidades, estética e política; sexualidades perturbadoras em filmes de terror; futuros imaginários e o apocalipse; ficção científica. Artista visual, escritor, editor.
Ficha do Trabalho
Título
- “That doesn´t look very scary”: quando a imagem adquire carne.
Resumo
- A fala que abre essa comunicação é dita por um menino ao observar a imagem do esqueleto de um dinossauro na tela de um computador. “Isso não parece muito assustador”, na tradução, é a reação dos espectadores diante dos vestígios imóveis de criaturas terríveis. A intenção é tomar o filme Jurassic Park como campo de tensões para discutir o cinema enquanto espaço no qual restos e vestígios de passados podem adquirir carne e tornam-se assustadores, anacrônicos, destruidores.
Resumo expandido
- A fala que abre essa comunicação é dita por um menino ao observar a imagem do esqueleto de um dinossauro na tela de um computador. “Isso não parece muito assustador”, na tradução, é a reação dos espectadores diante dos vestígios imóveis de criaturas terríveis. O menino, sem nome, que vocaliza essa falta de surpresa – ou até mesmo apatia – incorpora um olhar desencantado, incapaz de imaginar. Surpreso com a reação da criança diante da imagem do fóssil, o paleontólogo Alan Grant, interpretado por Sam Neil no filme Jurassic Park (Spielberg, 1993), narra como seria um ataque de dinossauros contra o menino. Essa cena oferece pistas para pensarmos as relações entre o audiovisual, afetos e afecções, produção de sentido, pele e carne das imagens.
A intenção, nessa apresentação, é tomar o referido filme como campo de tensões para discutir o cinema enquanto espaço no qual restos e vestígios de passados podem adquirir carne e tornam-se assustadores, anacrônicos, destruidores. Nesse sentido, resgato aqui também a ideia de que monstruosidades ameaçam as estruturas hegemônicas de poder – a alteridade como figura nômade disruptiva.
Esse trabalho faz parte de pesquisas iniciadas no pós-doutorado, em 2017, observando a transição do final do século XX para o início do XXI a partir de um cinema mainstream, hollywoodiano, seguindo suas fissuras, escapes e estranhezas. Como recorte temporal tenho me debruçado sobre os anos 1990 e dialogado com Laura Mulvey, Donna Haraway, Jack Halberstam, Braidotti, Sobchack, Mondzain, entre outros.
Os dinossauros (re)criados digitalmente por Spielberg podem ser lidos como um texto, uma escrita – DNA – que adquire carne, atualizando as metáforas sobre carne, pele, afetos e poderes das imagens. Essas monstruosidades, agora de carne e osso, escapam ao controle, tanto no filme quanto para espectadores, e desorganizam o mundo como conhecemos. Imagens como entidades desejantes, incontroláveis. No filme, a câmera se aproxima das peles rugosas, dos dentes imensos, da língua dos monstros e provoca em nós o tremor do asco e o desejo do toque (Bataille). Somos interpelados por essas sensações enquanto assistimos personagens que tentam sobreviver em um novo mundo habitado por novas (e antigas) criaturas.
Essas chaves estéticas podem ser usadas, também, para abrir discussões pertinentes ao presente sobre política e ética das imagens, agenciando as novas configurações do presente aos tempos e criaturas que pulsam no passado. Dessa forma, esse trabalho atualiza também a provocação “o que podem os mortos?”, como exercício estético de imaginar como esse cinema costura imagens monstruosas de alteridades, anunciando de maneiras enviesadas as alianças improváveis.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. O caráter destrutivo. Disponível em: https://www.revistapunkto.com/2011/06/o-caracter-destrutivo-walter-benjamin.html
BRAIDOTTI, Rosi. Ética afirmativa, futuros sustentáveis. In: in AUTORIA. Utopia/Dystopia: a paradigm shift in art and architecture. Milão: Mousse Publishing, 2018.
HALBERSTAM, Jack. A arte queer do fracasso. Recife: Cepe, 2020.
HARAWAY, Donna. Staying with the trouble: making kin in the chthulucene. Durham and London: Duke University Press, 2016.
MITCHELL, W. J. T. What do pictures want? The lives and loves of images. What do pictures want? The lives and loves of images. Chicago: The University of Chicago Press, 2005.
MONDZAIN, Marie-Jose. A imagem pode matar? Lisboa: Vega, Passagens, 2017.
MULVEY, Laura. Death 24 x a second: stillness and the moving image. Londres: Reaktion Books Ltd, 2006.