Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Raquel Valadares de Campos (UFJF)

Minicurrículo

    Introduzindo os conceitos parelhos de “leitura documentarizante” (ODIN) e “consciência documentária” (SOBCHACK), refletiremos sobre a hibridez do longa-metragem ficcional “Além do Azul Selvagem” (The Wild Blue Yonder, 2005), de Werner Herzog, e em como a factualidade potencial do testemunho, ainda que ficcional, é estratégica para que o espectador reaja emocionalmente e reconheça a total impossibilidade de compreender acontecimentos catastróficos, dentro de qualquer estrutura preestabelecida de

Ficha do Trabalho

Título

    Leitura documentarizante no SciFi – testando um tensionamento

Resumo

    Introduzindo os conceitos parelhos de “leitura documentarizante” (ODIN) e “consciência documentária” (SOBCHACK), refletiremos sobre a hibridez do longa-metragem ficcional “Além do Azul Selvagem” (The Wild Blue Yonder, 2005), de Werner Herzog, e em como a factualidade potencial do testemunho, ainda que ficcional, é estratégica para que o espectador reaja emocionalmente e reconheça a total impossibilidade de compreender acontecimentos catastróficos, dentro de qualquer estrutura preestabelecida de

Resumo expandido

    Além do Azul Selvagem (The Wild Blue Yonder) é um longa-metragem roteirizado e dirigido por Werner Herzog e classificado como uma ficção. O filme é ancorado no testemunho de um personagem extraterrestre, que relata os equívocos cometidos por seu povo, ao empreender uma viagem espacial com o objetivo de colonizar outro planeta, em virtude do esgotamento de recursos energéticos no planeta de origem. Utilizando-se materiais de arquivo de viagens espaciais reais e entrevistas com cientistas, o filme permite ao espectador furar o véu da ficção, realizando uma leitura documentarizante (ODIN) ou com a consciência documentária (SOBCHACK), e tomar o relato ficcional como um testemunho possível, de uma realidade futura nossa.
    Ainda que não seja consensual nos estudos de cinema de que seja possível definir o que é um documentário com base em características textuais dos filmes, é predominante a leitura de que filmes documentários estejam convencionalmente ancorados no discurso factográfico, apresentando relatos de o que efetivamente aconteceu, diferentemente daquilo possível de acontecer, convencionalmente relacionado à ficção. Distinção essa compartilhada tanto por quem produz quanto por quem recebe o filme documentário.
    A partir de meados do século XX, com a crise das representações, desmontou-se os sistemas explicativos totalizantes e se alargou a noção de verdade. Segundo Seligmann-Silva (2013), a arte a partir do Romantismo, passou a usar o conceito-chave a dissimulação (Verstellung) para borrar as fronteiras entre verdade e mentira, entre o real e o imaginário e a ter tanto direito quanto a historiografia de arquivar os fatos.
    Autores como Roger Odin (1992 e 2012) e Vivian Sobchack (1999 e 2000), segundo uma abordagem fenomenológica do cinema, refutam a distinção entre ficção e não-ficção baseada em aspectos representacionais e formais intrínsecos ao texto fílmico e compreendem o documentário enquanto um modo de leitura do espectador. Esta proposta visa evidenciar as instruções de leitura documentarizante no filme de Herzog e propor questões metodológicas para se analisar filmes híbridos, abrindo a possibilidade de se cogitar a produção factográfica a partir de ficções científicas – uma hipótese ainda em construção para projeto de doutorado.

Bibliografia

    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Coleção Campo Imagético, Papirus, 2005.
    ODIN Roger. Filme documentário, leitura documentarizante. São Paulo: Significação, ano 39, no 37, 2012, pp. 10-30
    SOBCHACK, Vivan. Toward a Phenomenology of Nonfictional Film Experience. In: GAINES, Jane M e RENOV, Michael (Ed.). Collecting visible evidence. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1999, pp. 241-254.
    SELIGMANN-SILVA, Márcio. Ficção e imagem, verdade e história: sobre a poética dos rastros. In: Dimensões, vol. 30, 2013, p. 17-51, ISSN: 2179-8869. Vitória: UFES – PPG em História.