Ficha do Proponente
Proponente
- Marise Berta de Souza (UFBA)
Minicurrículo
- Professora da Universidade Federal da Bahia – Bacharelado Interdisciplinar em Artes e do Mestrado Profissional em Artes/ProfArtes / IHAC
Pesquisadora e produtora audiovisual;
Pós Doutorado em Design /UFPE; Doutorado em Artes Cênicas/UFBA; Mestrado em Artes Visuais/UFBA;
Coordenadora do BI em Artes IHAC/UFBA 2013 /2014;
Coordenadora da TV UFBA 2013/2015;
Coordenadora do Mestrado Profissional em Artes 2015/2018;
Vice-Diretora do Instituto de Humanidades Artes e Ciências Prof. Milton Santos/IHAC.
Ficha do Trabalho
Título
- Edgard Navarro, cineasta em queda livre
Resumo
- Essa comunicação tem como proposta discutir elementos da cinematografia de Edgard Navarro, tomando como partida uma trilogia representativa para pontuar a sua trajetória constituída pelos filmes: O rei da cagaço (1977), O superoutro (1989) e Abaixo a gravidade (2017). Esses filmes, sem deixar de levar em conta o todo de sua obra, ajudam a colocar em perspectiva e demarcar o território de criação em que o cineasta propõe uma estética antigravitacional.
Resumo expandido
- Nada mais oportuno nesta SOCINE que tem como mote – Desafiar a gravidade: incertezas, trânsitos e rumos para quedas – apresentar um cineasta em queda livre. A antigravidade em Navarro é exercício de liberdade traduzido em filmes que não se acomodam e não têm adesão a um modelo convencional, contido em certo padrão apresentado pelo cinema brasileiro, até mesmo no quadro do cinema autoral. É constatada no viés dos seus temas, recorrentemente autobiográficos; na escritura de suas narrativas desobedientes; na estética própria, extremamente assertiva e articulada com densa força criativa, que nos surpreende ao revelar personagens que emergem da margem; e no modo em que opera a estratégia de produção de recursos mínimos e potência máxima.
Consideramos nesta análise a sua relação com a matriz de experiência artística relacionada ao cenário da contracultura baiana-brasileira em que alicerçou seu cinema antigravitacional. Insubmisso, com atitude iconoclasta e extrema coerência entre arte e vida, nos leva a acompanhar as deambulações de seus personagens pela soterópolis em experiências sensoriais e oníricas em diálogo permanente com sua cultura. Nesse exercício cabe pensar o cinema de Edgard no cruzamento entre a Estética do Sonho glauberiana, o Brasil Diarreia de Oiticica e o cinema de invenção de Ferreira.
Na trilogia selecionada para esta apresentação Edgard burila, filosoficamente e conceitualmente, os meandros da existência humana com irreverência e encaixes engenhosos. A frase-mantra “Abaixo a gravidade” anuncia o voo libertário do Superoutro, sem rede de proteção porque sabe voar, retorna em Abaixo a gravidade para envolver Bené na rede de uma paixão temporã. Em um mundo em queda livre, Edgard Navarro trança arranjos, desafia conceitos, desmonta o estabelecido, estilhaça a vidraça – assim como o Superoutro – para acordar a humanidade.
Bibliografia
- FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. São Paulo, Max Limonad, 1986.
MACIEL, Luiz Carlos. “O tao da contracultura”. In: ALMEIDA, M. I. ; NAVES, S. C. (org.). Por que não? Rupturas e continuidades da contracultura. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007.
NAVARRO, Edgard. Homenagem. Entrevista concedida a Marcus Pierry. Catálogo da 14ª Mostra de cinema de Ouro Preto. Belo horizonte, 1 edição, p. 40-59. Junho, 2019.
OITICICA, Hélio. “Brasil diarreia”. Em Oiticica Filho, César (org.). Hélio Oiticica. Museu é o mundo. Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2011.
PUPPO, Eugênio e HADDAD, Vera. Cinema Marginal e Suas Fronteiras: Filmes Produzidos nas Décadas de 60 e 70. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil/Heco Produções, 2004.
ROCHA, Glauber. “Eztetyka do sonho”. Em Rocha, Glauber. Revolução do Cinema Novo. São Paulo, Cosac Naify, 2004.
ROSZAK, Theodore. Para uma contracultura. Petrópolis: Vozes, 1972.
SETARO, André. Panorama do cinema baiano. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976.