Ficha do Proponente
Proponente
- Thaís Teixeira Folgosi (USP)
Minicurrículo
- Bacharel em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, cursa atualmente o mestrado no programa em Meios e Processos Audiovisuais, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde desenvolve projeto, na linha de pesquisa “História, Teoria e Crítica”, acerca dos filmes do cineasta brasileiro Júlio Bressane dedicadas ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche a partir da atuação e do aporte da filósofa Rosa Dias, especialista no pensamento nietzscheano
Ficha do Trabalho
Título
- Diálogos trágicos em Dias de Nietzsche em Turim (2001)
Resumo
- A comunicação centra-se na abordagem das inserções, na pista sonora do filme Dias de Nietzsche em Turim (2001, Júlio Bressane), de diálogos provenientes de Édipo Rei (1967, Pier Paolo Pasolini) e de Otelo (1952, Orson Welles), examinando o diálogo cinematográfico que se estabelece a partir do som e, com base no pensamento nietzscheano, conjectura-se a presença de tais tragédias às quais os filmes apropriados se referem como sinal da tragédia que se avizinha ao filósofo em sua passagem por Turim
Resumo expandido
- Em Dias de Nietzsche em Turim (2001), para compor a última passagem do filósofo pela cidade italiana entre fim de setembro de 1888 e início janeiro de 1889, Júlio Bressane insere no longa-metragem dois diálogos extraídos de Édipo Rei (1967), de Pier Paolo Pasolini, e outro de Otelo (1952), de Orson Welles. Apenas os escutamos, pois não assistimos aos planos aos quais correspondiam originariamente. Esses diálogos são deslocados de seu contexto original e passam por uma recombinação, agora, com as imagens do filme de Bressane.
Destarte, a comunicação busca, em primeiro lugar, examinar este diálogo cinematográfico que se estabelece a partir do som: tal prática de apropriação de sons provenientes de outros filmes – chamados de “fonogramas” pelo cineasta – faz com que Dias de Nietzsche em Turim (2001) se reporte ao próprio cinema, pois as escolhas dos diálogos referentes às obras de Pasolini e de Welles se apoiam também na compreensão de Bressane, nesta ordem, do som artificial (feito em estúdio) e da voz. Ademais, esse procedimento, que também surge em outros filmes do realizador, aparece como um recurso estilístico que encara a história do cinema não apenas como um acervo de arquivos imagéticos, mas também sonoros.
Também guiada pelo entendimento de Bressane das potencialidades do som no cinema – “inaugurar o ver com o ouvir e o ouvir com o ver”, citando o padre sermonista Antônio Vieira –, examina-se cada um dos três momentos em que se deu a inserção de um fonograma: na sequência em que Nietzsche (Fernando Eiras) se encontra na livraria-biblioteca; o filósofo a conversar com a senhora Fino (Tina Novelli), mulher do dono da pensão onde se hospedara, na presença da filha, a senhorita Fino (Mariana Ximenes); e por fim, na sequência da dissolução do sujeito. Desse modo, indagamo-nos, primeiro, à nível diegético, acerca das relações que se estabelecem entre a banda imagem e a banda sonora e o que tais diálogos manifestam em relação à narrativa, isto é, à passagem do filósofo por Turim.
Já em uma perspectiva extra-diegética, leva-se em conta que o filme de Pasolini e o de Welles reportam-se, por sua vez e a seu modo, à tragédia: respectivamente, a tragédia edipiana de Sófocles e a do mouro de Veneza, de William Shakespeare. Também, partindo do fato de que Nietzsche foi um grande pensador da tragédia grega e que apreciava ambos os autores, conjectura-se a respeito desses diálogos comporem a tessitura fílmica enquanto elementos que configurariam a própria tragédia nietzscheana vivida em Turim, isto é, a dissolução do sujeito Nietzsche. Portanto, discute-se se a presença sonora desses diálogos, contaminando de ares trágicos as sequências em que os ouvimos, não se afiguraria como prenúncio daquilo que se avizinha ao filósofo, à maneira do oráculo em Édipo Rei.
Bibliografia
- BRESSANE, Júlio. Alguns. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.
______. Cinemancia. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2000.
______. “Samba em Berlim”. In: AB-Cena. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018, pp. 10-16.
DIAS, Rosa. Nietzsche e a música. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994.
______. A euforia de Nietzsche em Turim. Revista o que nos faz pensar, n. 18, pp. 37-44, set. 2004.
Flôres, Virginia Flores. “O som em quatro obras de Bressane”. In: Além dos limites do quadro: o som a partir do cinema moderno. Tese de doutorado. Campinas: Unicamp, 2013, pp. 135-168.
Xavier, Ismail. Roteiro de Júlio Bressane: apresentação de uma poética. Alceu, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p. 5-26, jan./jun. 2006.