Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Thaís Teixeira Folgosi (USP)

Minicurrículo

    Bacharel em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, cursa atualmente o mestrado no programa em Meios e Processos Audiovisuais, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde desenvolve projeto, na linha de pesquisa “História, Teoria e Crítica”, acerca dos filmes do cineasta brasileiro Júlio Bressane dedicadas ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche a partir da atuação e do aporte da filósofa Rosa Dias, especialista no pensamento nietzscheano

Ficha do Trabalho

Título

    Diálogos trágicos em Dias de Nietzsche em Turim (2001)

Resumo

    A comunicação centra-se na abordagem das inserções, na pista sonora do filme Dias de Nietzsche em Turim (2001, Júlio Bressane), de diálogos provenientes de Édipo Rei (1967, Pier Paolo Pasolini) e de Otelo (1952, Orson Welles), examinando o diálogo cinematográfico que se estabelece a partir do som e, com base no pensamento nietzscheano, conjectura-se a presença de tais tragédias às quais os filmes apropriados se referem como sinal da tragédia que se avizinha ao filósofo em sua passagem por Turim

Resumo expandido

    Em Dias de Nietzsche em Turim (2001), para compor a última passagem do filósofo pela cidade italiana entre fim de setembro de 1888 e início janeiro de 1889, Júlio Bressane insere no longa-metragem dois diálogos extraídos de Édipo Rei (1967), de Pier Paolo Pasolini, e outro de Otelo (1952), de Orson Welles. Apenas os escutamos, pois não assistimos aos planos aos quais correspondiam originariamente. Esses diálogos são deslocados de seu contexto original e passam por uma recombinação, agora, com as imagens do filme de Bressane.

    Destarte, a comunicação busca, em primeiro lugar, examinar este diálogo cinematográfico que se estabelece a partir do som: tal prática de apropriação de sons provenientes de outros filmes – chamados de “fonogramas” pelo cineasta – faz com que Dias de Nietzsche em Turim (2001) se reporte ao próprio cinema, pois as escolhas dos diálogos referentes às obras de Pasolini e de Welles se apoiam também na compreensão de Bressane, nesta ordem, do som artificial (feito em estúdio) e da voz. Ademais, esse procedimento, que também surge em outros filmes do realizador, aparece como um recurso estilístico que encara a história do cinema não apenas como um acervo de arquivos imagéticos, mas também sonoros.

    Também guiada pelo entendimento de Bressane das potencialidades do som no cinema – “inaugurar o ver com o ouvir e o ouvir com o ver”, citando o padre sermonista Antônio Vieira –, examina-se cada um dos três momentos em que se deu a inserção de um fonograma: na sequência em que Nietzsche (Fernando Eiras) se encontra na livraria-biblioteca; o filósofo a conversar com a senhora Fino (Tina Novelli), mulher do dono da pensão onde se hospedara, na presença da filha, a senhorita Fino (Mariana Ximenes); e por fim, na sequência da dissolução do sujeito. Desse modo, indagamo-nos, primeiro, à nível diegético, acerca das relações que se estabelecem entre a banda imagem e a banda sonora e o que tais diálogos manifestam em relação à narrativa, isto é, à passagem do filósofo por Turim.

    Já em uma perspectiva extra-diegética, leva-se em conta que o filme de Pasolini e o de Welles reportam-se, por sua vez e a seu modo, à tragédia: respectivamente, a tragédia edipiana de Sófocles e a do mouro de Veneza, de William Shakespeare. Também, partindo do fato de que Nietzsche foi um grande pensador da tragédia grega e que apreciava ambos os autores, conjectura-se a respeito desses diálogos comporem a tessitura fílmica enquanto elementos que configurariam a própria tragédia nietzscheana vivida em Turim, isto é, a dissolução do sujeito Nietzsche. Portanto, discute-se se a presença sonora desses diálogos, contaminando de ares trágicos as sequências em que os ouvimos, não se afiguraria como prenúncio daquilo que se avizinha ao filósofo, à maneira do oráculo em Édipo Rei.

Bibliografia

    BRESSANE, Júlio. Alguns. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.

    ______. Cinemancia. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2000.

    ______. “Samba em Berlim”. In: AB-Cena. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018, pp. 10-16.

    DIAS, Rosa. Nietzsche e a música. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994.

    ______. A euforia de Nietzsche em Turim. Revista o que nos faz pensar, n. 18, pp. 37-44, set. 2004.

    Flôres, Virginia Flores. “O som em quatro obras de Bressane”. In: Além dos limites do quadro: o som a partir do cinema moderno. Tese de doutorado. Campinas: Unicamp, 2013, pp. 135-168.

    Xavier, Ismail. Roteiro de Júlio Bressane: apresentação de uma poética. Alceu, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p. 5-26, jan./jun. 2006.