Ficha do Proponente
Proponente
- Igor Araújo Porto (UFRGS)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), orientado pela Professora Doutora Miriam de Souza Rossini. Bacharel em Jornalismo e Mestre em Comunicação e Informação pela mesma universidade. Participa do grupo de pesquisa Processos Audiovisuais (PROAV-UFRGS). Bolsista CAPES.
Ficha do Trabalho
Título
- Questões de estilo no cinema ficcional de som direto brasileiro
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Resumo
- O trabalho pretende realizar uma aproximação da noção de estilo em Bordwell (2013) e do uso do som direto em filmes de ficção no cinema brasileiro entre 1964 e 1983, dentro do que Costa (2006) descreve como seu período de inserção. Para tal, realizo abordagem exploratória a partir de uma lista de 20 filmes desta época que possuem som direto em suas fichas técnicas, em busca de elementos estéticos em comum que possam ser definidos como parâmetros de estilo.
Resumo expandido
- A proposta desta comunicação é olhar para os filmes de ficção que passam a fazer uso do som direto em externas quando as tecnologias para realizar isso chegam ao Brasil, ou seja, no período entre 1964 e 1983, com o objetivo de entender se é possível traçar paralelos entre escolhas técnicas e estéticas e, com isso, entender se há alguma semelhança estilística no uso que esses filmes de ficção fazem do som direto ou correspondência com o que é feito no documentário.
Para a análise, parto de uma lista elaborada no âmbito de minha pesquisa de doutorado, da qual este trabalho se configura como um recorte, a partir das fichas técnicas dos filmes produzidos no Brasil entre 1964 e 1983, período que Costa (2006) aponta como de inserção do som direto na filmografia nacional. Utilizando este levantamento, chego em 83 longas-metragens de ficção que identificam som direto em suas fichas técnicas. Pesquisando depoimentos de cineastas e técnicos e excluindo filmes que usaram gravação de som direto como som guia ou que possuíam som direto, mas optaram por dublar na pós-produção. Por exemplo, foi possível reduzir para 20 filmes que parecem adquirir um uso mais amplo. Para a presente comunicação, pretendo realizar uma aproximação entre estes filmes que me possibilite chegar à parâmetros estéticos em comum entre eles.
A inserção do som direto em externas como recurso técnico no cinema documental brasileiro, a partir da chegada do Nagra e do movimento do Cinema Verdade, foi estudada à exaustão em trabalhos como a dissertação de Guimarães (2008) ou em Bernardet (1985). A contraparte ficcional deste processo é bem documentada em escritos e entrevistas de cineastas e técnicos, mas como sua adesão foi mais difusa e demorada do que no documentário, ainda há uma carência de estudos que lidem com esse tema de maneira sistemática. Costa (2006, p.157) alega que “na produção de longas-metragens de ficção da mesma época a passagem para o som direto ocorreu de forma mais difusa, e seu impacto parece ter sido diluído”. O autor também descreve como o som direto impactou as produções da época, entretanto, a partir de características mais contextuais e gerais, como o uso de canções nacionais, o aumento dos ruídos mesmo nos filmes dublados, entre outros. A partir desta reflexão, busco pensar como foi esse uso, se estes filmes que foram pioneiros no uso desta técnica partilham características estéticas/estilísticas.
Como base teórica, parto da noção de estilo em Bordwell (2013), na medida em que o autor vai reler a história do cinema e da crítica cinematográfica com base em determinados parâmetros estilísticos que se repetem ou não. Também entendo este estilo como algo que não parte de cima para abaixo a partir de um cineasta e, sim, como algo que emerge a partir de uma discussão pública entre profissionais da área, críticos e realizadores, nos moldes da discussão identificada por James Lastra sobre o início do cinema sonoro (LASTRA, 2000). Desta maneira, procuro entender quais são estes parâmetros que norteiam a discussão em torno problemática dos primeiros momentos do som direto no cinema brasileiro, sobretudo no sentido de como esse recurso técnico impactou nas propostas estéticas desse cinema.
Sirvo-me, também, da discussão consolidada nos estudos do som no cinema sobre um possível maior “realismo” atribuído ao direto. Michel Chion (2011) utiliza argumentos parecidos para sugerir que a noção de um maior realismo é falaciosa, uma vez que os filmes costumam ser enriquecidos posteriormente por outros efeitos. Rick Altman segue a mesma linha quando discute o caráter indicial do som, porém entende que o direto manteria as “assinaturas espaciais” do áudio (Altman, 2012, p. 24, tradução do autor). Assim, é possível refletir se há, por exemplo, uma tendência ao uso maior ou menor de ruídos de locação, aumento ou diminuição da voz over, se o uso do som direto foi extenso ou restrito a algumas cenas ou alguns elementos da trilha apenas, entre outros parâmetros.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Four and a half film fallacies. In: ALTMAN, Rick. Film/Genre. London, Palgrave Macmillian, 2012
CHION, Michel. Audio-vision: Sound on Screen. New York Chischester, West Sussex. Columbia University Press, 1994
BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e Imagens do Povo. Brasiliense. Brasília, 1985.
BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
COSTA, Fernando Morais. O som no cinema brasileiro: Revisão de uma importância indeferida. Tese (Doutorado). Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, 2006.
GUIMARÃES, Clotilde de Barros. A introdução do som direto no cinema documentário brasileiro na década de 1960. Dissertação (Mestrado). Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.
LASTRA, James. Sound Technology and the American Cinema: Perception, Representation, Modernity. New York: Columbia University Press, 2000.