Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia de Oliveira Iuva (UFSC)

Minicurrículo

    Professora do Curso de Cinema, na Universidade Federal de Santa Catarina. Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Bacharel em Publicidade e Propaganda pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria. Áreas de interesse: semiótica crítica, paratextos audiovisuais, montagem cinematográfica, experiências estéticas, narrativas seriadas, cultura pop.

Ficha do Trabalho

Título

    As vozes autorais e os gestos de criação na nova trilogia de Star Wars

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    A proposta discute o processo de criação da nova trilogia de Star Wars e a configuração da autoria nessa etapa da franquia, através da análise de enunciados de paratextos: entrevistas, críticas e making ofs. Articulando a crítica de processo e a Teoria de Cineastas, o estudo parte da produção como espaço criativo, a fim de desvelar a relação da cineasta Kathleen Kennedy com o cinema e como isso reverbera nos gestos criativos e dá a ver múltiplas vozes autorais nos 3 últimos filmes da saga.

Resumo expandido

    Este trabalho propõe questionamentos que buscam colocar em diálogo duas perspectivas teóricas: a Crítica de Processo e a Teoria de Cineastas. Nesse sentido, as questões que balizam nossa investigação dizem respeito aos seguintes aspectos: como se deu o processo de criação da nova trilogia de Star Wars e como se configuram as vozes autorais nessa etapa da franquia.
    Do ponto de vista da crítica de processo é necessário ressaltar que o lugar de onde suscitam os fluxos de pensamento é aquele ao qual o filósofo Gilles Deleuze intitulou em uma de suas conferências como “O ato de criação”. Sinto que há algo no cinema que opera um efeito, um sentido de que “as obras” importam menos que os “processos”, de que o cinema tem muito mais a ver com um pensamento processual, um dado fazer, do que necessariamente um “fazido” ou um realizado. Assim, o foco recai mais na ordem das ações da e pela linguagem, a partir dos processos de criação sobre o fazer, como fazer, do que sobre a finalização de uma dada obra/filme.
    Seguindo um caminho diferente daquele apontado por Deleuze em sua conferência, acredito que para adentrar a esfera dos estudos de processos da criação no (e do) cinema é preciso compreender que o mesmo diz respeito a resultados de relações entre tecnologias, estéticas, sujeito e sociedade (FLUSSER, 2014). Ou seja, há que se reconhecer uma série de articulações tecnoculturais. Na esteira do pensamento flusseriano, prefiro recolocar, portanto, a questão do ‘ato de criação cinematográfica’ nos termos que a revestem de um dado gesto.
    Diante disso, pretendemos aprofundar os gestos de criação a partir dos princípios éticos, estéticos e tecnológicos que orientaram o projeto artístico na nova trilogia da franquia Star Wars. Por se tratar de uma franquia, é válido destacar que o contexto do processo de criação está marcado por um trabalho de gestão de equipes – trabalho que recai sobre o espaço da produção executiva. No caso da franquia de Star Wars, esse espaço é ocupado pela presidente da Lucas Films e produtora Kathleen Kennedy, responsável por escolher e gerir roteiristas e diretores na concepção e realização dos filmes.
    Na perspectiva da Teoria de Cineastas de Aumont (2012), uma possível vertente de investigação, tendo como ponto de partida a produção como espaço de criação, seria desvelar a relação da cineasta com o cinema e como tal relação reverbera em determinados gestos criativos e nos dá a ver múltiplas vozes autorais. A autoria desponta no estudo, não como lugar privilegiado do gênio criador, mas como manifestação discursiva cuja função classificatória permite-nos reunir um conjunto de enunciados numa relação de homogeneidade, filiação, autenticação e de explicação recíproca (FOUCAULT, 1996).
    A busca pelos gestos de criação no cinema conduz, portanto, nosso olhar para diferentes paratextos que podem operar no sentido de evidenciar as processualidades, a tessitura de inferências, esboços, referências, anotações, cenas, etc. Do ponto de vista metodológico, a análise recai sobre os enunciados de um conjunto de paratextos (entrevistas, críticas, livros e making ofs documentários), com intuito de compreender e descrever o modo de funcionamento do processo criativo da nova trilogia de Star Wars e as vozes autorais que configuram essa etapa da franquia.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2012.
    BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.
    BAZIN, Andre. De la Politique des Auteurs (1957). In: GRANT, Barry Keith (ed). Auteurs and Authorship, a film reader. Oxford: Blackwell Publishing, 2008.
    FLUSSER, Vilém. Gestos. São Paulo: Annablume, 2014.
    FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 3°edição. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
    MACHADO, Irene. Texto como enunciação. A abordagem de Mikhail Bakhtin. Língua e Literatura, n. 22, p. 89-105, 1996.
    SALLES, Cecília Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. Vinhedo-SP: Editora Horizonte, 2006.