Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Tiago Jorge Alves Fernandes (UBI)

Minicurrículo

    Tiago Fernandes é doutorado em Media Artes e docente nos cursos de Cinema da Universidade da Beira Interior e de Arte e Design do Instituto Politécnico de Bragança. É licenciado e mestre em cinema e diretor de som, produtor e realizador para cinema e televisão. Na área do audiovisual já colaborou em mais de uma centena de trabalhos, em Portugal e no estrangeiro. Integra a Comissão Organizadora das “Jornadas Cinema em Português” e dos Seminários Internacionais “Escutar Imagens” e “Covilhã: 1921”.

Ficha do Trabalho

Título

    Heranças acústicas e pós-memória no cinema

Resumo

    A partir da análise dos filmes “Bostofrio” (2018, Paulo Carneiro) e “António, Lindo António” (2015, Ana Maria Gomes) é pretendido refletir a partir do termo pós-memória sugerido por Marianne Hirsch na década de 90 e que, nestas duas obras em particular, é construído essencialmente a partir de testemunhos sonoros sob a forma de relatos orais de familiares e habitantes dos locais retratados em ambas as obras.

Resumo expandido

    Na década de 90, Marianne Hirsch propôs o termo pós-memória na sua obra ” The Generation of Postmemory – Writing and Visual Culture after the Holocaust” como um processo de transmissão transgeracional assente na construção de uma memória coletiva a partir dos acontecimentos que ocorreram durante o Holocausto. No cinema e, principalmente no documentário, o conceito de pós-memória tem sido trabalhado repetidamente, em questões como aquela que Hirsch usou para a sua pesquisa e em outros contextos que muitas vezes vão além do domínio público e que se direcionam para relações mais pessoais ou familiares. É neste contexto, de construção de pós-memória a partir de uma obra cinematográfica, que resolvi selecionar dois filmes que trabalham estes temas de maneira particularmente relevante. No primeiro filme, “Bostofrio” (2018), o diretor Paulo Carneiro ruma a um pequeno vilarejo no Nordeste de Portugal em busca de memórias dos habitantes que o ajudem a construir uma historiografia do avô que ele nunca conheceu. No segundo filme, “António, Lindo António” (2015), a realizadora Ana Maria Gomes questiona os motivos pelos quais um tio desconhecido emigrou para o Brasil há 50 anos atrás e nunca mais regressou à sua aldeia natal. Como duas obras em que o processo de memória é construído a partir do relato oral dos moradores e dos familiares dos lugares retratados, uma vez que os protagonistas não possuem uma memória efetiva de seus entes queridos, a construção memorial é concebida essencialmente a partir do património sonoro transmitido pelos intervenientes retratados nos filmes, nomeadamente dos testemunhos orais que podemos escutar em ambas as obras fílmicas. Mas mais do que isso, interessa-me sobretudo analisar a construção de pós-memória levada a cabo pelo espectador e de que forma a banda sonora do filme contribui implicitamente para o fenómeno identificado.

Bibliografia

    CAVALCANTI, A. (1995). “Discussão sobre o filme sonoro”. In Alberto Cavalcanti, eds. L. Pellizzari & C. M. Valentinetti (pp. 186-190). São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

    DAKIC, V. (2007). “Sound Design for Film and Television”. Dokument Nr. V136938.

    HIRSCH, M. (2012) The Generation of Postmemory. Writing and Visual Culture after the Holocaust . New York: Columbia University Press.

    KAHN, D. (1999). Noise, Water, Meat. A History of Sound in the Arts. Massachusetts: The MIT Press.

    MARKS, L. (2000). The Skin of the Film: Intercultural Cinema, Embodiment, and the Senses. Durham: Duke University Press.

    OBICI, G. (2008). Condição da escuta. Mídias e territórios sonoros. Rio de Janeiro: 7 Letras.