Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Caio Duarte Kelly (AUTONOMO)

Minicurrículo

    Mestre em políticas culturais pela Universidade Federal da Bahia e graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal. Possuo experiência com gestão pública, com estágio na Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e como Assistente do Departamento de Produção Cultural da Fundação de Arte de Niterói. Atuo como pesquisador com foco nas políticas contemporâneas de audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Agenda da Secretaria do Audiovisual, de 2003 a 2014

Resumo

    Este artigo aborda o trabalho realizada pela Secretaria do Audiovisual entre os anos de 2003 a 2014. Partimos da divisão institucional originária da Medida Provisória 2.228-2011 que criou a Agência Nacional de Cinema e investigamos a divisão entre as políticas para o “cinema cultural” e para o “cinema industrial”. Realizamos uma análise crítica deste binômio e a partir de uma análise da agenda da Secretaria do Audiovisual procuramos novos conceitos para expressá-la.

Resumo expandido

    Este artigo aborda o trabalho da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, entre os anos de 2003 a 2014. Para tanto, partimos da divisão institucional de tarefas realizada pela Medida Provisória no 2.228-2011. Segundo a legislação, a Agência Nacional de Cinema deveria estar subordinada ao Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio e agir como agência reguladora e fomentadora para promover o desenvolvimento industrial do mercado audiovisual brasileiro, enquanto ao Ministério da Cultura e a Secretaria do Audiovisual, caberia a responsabilidade pelas políticas para o “cinema cultural”.
    A gestão de Gilberto Gil que assumiu o Ministério da Cultura a partir de 2003 tensionou este acordo. Para o novo governo, os órgãos públicos deveriam recuperar sua capacidade de formulação e implementação das políticas públicas. Além disso, a equipe do MinC tinha interesse em centralizar no ministério os órgãos executores da política do audiovisual e “organizar uma economia que incorpore a complexidade que é própria da cadeia produtiva da atividade audiovisual” (GIL, 2003). Em um primeiro momento, a Secretaria do Audiovisual assumiu o protagonismo nas principais discussões políticas, como o caso da Ancinav e a criação da TV Brasil, e executou um programa de fomento com maior impacto que aquele realizado pela Ancine (IKEDA, 2015).
    Esta mudança política do Ministério da Cultura influenciou a agenda da Secretaria do Audiovisual. O conceito de “cinema cultural” aos poucos foi abandonado em troca de um entendimento mais amplo. Acionamos autores da escola de Frankfurt como Adorno e dos estudos culturais como Raymond Williams e Douglas Kellner que discutem o binômio de cultura e indústria e identificam o audiovisual como espaços de lutas sociais que são disputadas através de condições desiguais de acesso aos meios de produção de representações e de circulação de imagens. Esta compreensão pode ser vista na linha de atuação da Secretaria do Audiovisual.
    Destacamos programas desenvolvidos pela SAv para produção e difusão. Em um contexto de predomínio das leis de incentivo, a Secretaria do Audiovisual realizou programas de fomento direto. Esse investimento atuou em áreas ignoradas pelo mercado, estimulando a produção regional, acionando grupos historicamente excluídos das políticas para o cinema e apoiando formas alternativas de fruição audiovisual. Esta política se deu por uma séries de mecanismos que atravessaram o trabalho da Secretaria, desde acréscimo de pontuação para projetos inscritos por proponentes fora do eixo Rio – São Paulo, parceria com televisões do campo público e a partir de programas específicos, como o Doc Tv, o Revelando os Brasis, os editais afirmativos e o Cine Mais Cultura.
    Desse modo, novos termos passaram a ser utilizados pelos membros do governo e pesquisadores para definir o trabalho da Secretaria do Audiovisual, como “inserção cinematográfica”; “inclusão audiovisual”; “alfabetização audiovisual”; “democratização”; “cidadania cultural”. Essa agenda sofreu descontinuidades, sofrendo com as instabilidades do Ministério da Cultura, e aos poucos a Ancine tomou o protagonismo da SAv nas políticas de audiovisual. Contudo, podemos identificar tanto no Plano de Diretrizes e Metas da Ancine quanto em editais lançados pelo Fundo Setorial do Audiovisual reflexos da agenda iniciada pela SAv.

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. HORKHEIMER, Max. A Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. in: Dialética do esclarecimento/ fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1985.

    IKEDA, Marcelo. Cinema brasileiro a partir da retomada: aspectos econômicos e
    políticos. São Paulo: Summus, 2015, 269f.

    KELLY, Caio. Análise da agenda da Secretaria do Audiovisual, 2003 a 2014. 2019. 134 f. Dissertação (Mestrado Multidisciplinar em Cultura e Sociedade) – Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

    KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: Editora EDUSC, 2001

    MARSON, Melina. Cinema Políticas de Estado da Embrafilme à Ancine. 2. ed. Escrituras:
    São Paulo, 2012, 239f.

    SIMIS, Anita. Estado e cinema no Brasil. 1. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2015, 303 f.

    WILLIAMS, Raymond. The long revolution. Londres: Penguin Books, 1965.