Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas dos Reis Tiago Pereira (UFF)
Minicurrículo
- Lucas dos Reis Tiago Pereira é mestrando do PPGCINE/UFF e graduado em Cinema e Audiovisual – Licenciatura pela mesma instituição. Atualmente, é tutor do curso de Cinema da UFF e curador do Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU). Ofereceu a disciplina de História do Cinema Brasileiro no COART/UERJ e foi monitor da disciplina de História do Cinema Brasileiro na UFF. Atualmente, faz pesquisa sobre a produtora Herbert Richers em projeto contemplado pela lei Aldir Blanc.
Ficha do Trabalho
Título
- “Cuidado com ele”: o galã Anselmo Duarte
Resumo
- Antes de se tornar diretor, Anselmo Duarte já era uma figura significativa do cinema brasileiro. Foi ator da Atlântida Cinematográfica e, posteriormente, da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Mesmo após ter a carreira de realizador como principal função no cinema, Anselmo Duarte continuava a ser classificado como galã por conta de seus trabalhos anteriores. A presente pesquisa lança a hipótese que a imagem que marcou Anselmo foi construída nas revistas dedicadas às estrelas cinematográficas.
Resumo expandido
- Anselmo Duarte realizou diversas funções no cinema. Foi diretor, roteirista, montador, produtor e ator. Contudo, é costumeiramente lembrado por ser o único brasileiro a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes, pelo filme O Pagador de Promessas (1962). A premiação não o fez unanimidade. Pelo contrário, Anselmo foi questionado por uma grande parcela da crítica que o aproximava da chanchada, gênero malquisto pelos mesmos. Entretanto, Anselmo Duarte também pode ser lembrado como protagonista de vários filmes, especialmente os da Atlântida Cinematográfica e os da Companhia Cinematográfica Vera Cruz – dois dos estúdios mais reconhecidos na década de 1950. A beleza de Anselmo foi uma condição marcante por toda a sua carreira de ator. Alto, branco e considerado bonito pelos padrões vigentes, foi naturalmente alçado ao papel de galã.
A presente comunicação propõe-se a analisar as revistas de fãs que cobriam as grandes estrelas da época para compreender como a figura midiática de Anselmo Duarte foi construída durante a década de 1950 e 1960. Sua imagem de galã estava tão ligada às matérias nas revistas como nos filmes em que protagonizou. Assim como atuou em obras diversas ao longo de sua carreira, também foi capa de várias revistas e teve sua vida exposta. Publicações como Escândalo, A Cena Muda e Filmelândia se concentraram em veicular diversas matérias sobre a sua vida pessoal. Um exemplo são as cartas de leitores que chamavam a atenção para casos amorosos de Anselmo ao longo de sua jornada como ator cinematográfico.
O objetivo da pesquisa é repensar a figura de Anselmo Duarte no cinema brasileiro e avaliar se a forma como costuma ser lembrado como ator não faz parte de uma configuração formada também nas revistas periódicas e não apenas nos filmes em si. Dessa forma, o tratamento oferecido a Anselmo como galã não se referiria apenas aos filmes, porém à sua imagem controversa em periódicos. Inclusive, mesmo após sua carreira como realizador deslanchar e Anselmo dedicar-se pouco ao trabalho de ator, reservando essa atividade para papéis específicos, a imagem de galã não desapareceu das matérias e entrevistas feitas com ele. Basta destacar seu depoimento para o jornal O Pasquim no final da década de 1960 ou em revistas como Ele&Ela, já na década de 1980, em que a imagem de galanteador de Anselmo Duarte continuava intacta – mesmo sem protagonizar filmes ao lado de estrelas da época como Eliana Macedo e Tônia Carrero.
A partir de referenciais sobre as revistas de fãs, como encontramos em Adamatti (2008) e sobre a chanchada, como expõe Freire (2011), a presente comunicação pretende identificar como a figura pública de Anselmo Duarte foi um fator decisivo para forjar a sua imagem como diretor:
Anselmo não poderia sequer sonhar com a possibilidade de um dia dirigir algo como o O Pagador de promessas, porque era apenas um galã. Talvez o número um do país, mas nada mais importante que isso. Na época, esses artistas eram considerados como atores em que a aparência se achava acima da habilidade profissional, cobiçados pelas mulheres e antipatizados pelos homens. (RAMOS, 2014, p.146)
A partir das referências acima, a pesquisa pretende destacar se é possível analisar a condição de galã de Anselmo Duarte por meio das revistas de cinema da época.
Bibliografia
- ADAMATTI, Margarida Maria. A crítica cinematográfica e o star system nas revistas de
fãs: a cena muda e cinelândia (1952-1955). 327 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciência
da Comunicação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
FREIRE, Rafael de Luna. Descascando o abacaxi carnavalesco da chanchada: a invenção de
um gênero cinematográfico nacional. Contracampo, Niterói, v. 23, p. 66-85, dez. 2011.
MERTEN, Luiz Carlos. O homem da palma de ouro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004.
249 p.
RAMOS, Fernão. A ascensão do novo jovem cinema. In: RAMOS, Fernão. Nova história
do cinema brasileiro. São Paulo: Sesc, 2018. Cap. 1. p. 16-115.
RAMOS, Luciano. Oswaldo Massaini: um produtor na história do cinema brasileiro. 2014.
368 p. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas,
SP.
SINGH JUNIOR, Oséas. Adeus Cinema. São Paulo: Massao Ohno, 1993. 181 p.