Ficha do Proponente
Proponente
- Janaína Oliveira (IFRJ / FICINE)
Minicurrículo
- Pesquisadora e curadora, Janaína Oliveira é doutora em História, professora no IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro – Campus São Gonçalo), e Fulbright Scholar no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Howard, em Washington D.C. nos EUA. Atualmente é curadora do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul (RJ). É idealizadora e coordenadora do FICINE, Fórum Itinerante de Cinema Negro (www.ficine.org) e é a programadora do Flaherty Film Seminar (EUA) para 2020/21.
Ficha do Trabalho
Título
- Políticas do Olhar, diálogos sobre curadoria e descolonização.
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Resumo
- Nos debates sobre curadoria em cinema é frequente se retornar a origem latina da palavra (curare) para reafirmar o propósito do trabalho do curador, sem levar em conta, por vezes, sua dimensão de exercício de poder. A apresentação pretende refletir sobre as práticas curatoriais contemporâneas a partir das experiências do Políticas do Olhar, série de debates com curadores da África e das diásporas, realizadas no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, nos anos de 2019 e 2020, respectivamente.
Resumo expandido
- Nos debates sobre curadoria em cinema é frequente se retornar a origem latina da palavra (curare) para reafirmar o propósito do trabalho do curador. Curadoria como como cuidado ou como cura, como zelo. Da mesma forma que é relativamente recente a existência mesma da função no campo do cinema, são recentes também as formulações e debates mais acurados sobre o tema partam não dos pressupostos de uma cultura fílmica tradicional que vê a curadoria como um lugar legitimado pelo exercício de cinefilias. Somente nos últimos anos, vemos surgir reflexões que desmistifiquem a aura de isenção, baseadas na suposta universalidade da arte e, por extensão do cinema, e que considerem abertamente o fato indiscutível que atividade da curadoria é também exercício de poder.
Nesse prisma, ao considerar a atividade curatorial como realmente um gesto de cuidado (“care”, “look after”), é preciso perguntar a quem historicamente esses gestos se endereçavam. Em uma perspectiva ampliada e em relação à história dos festivais de mostras de cinema, as escolhas curatoriais representam muito mais traumas do que cuidado para com cineastas e audiências não hegemônicas, isto é, pessoas que não sejam caucasianas eurodescentedes e maioria masculina.
No Brasil, o cinema nacional hegemônico e seus grandes festivais, mantiveram até pouco tempo atrás, os processos de exclusão, atravessados por racismos e misoginias que marcam, infelizmente, a sociedade brasileira até hoje. Para pensar as práticas curatoriais contemporâneas propus uma série de encontros com a presença de curadores negros de diferentes lugares do Brasil e do mundo chamada “Políticas do Olhar, diálogos sobre curadoria e descolonização”, como parte da programação do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas nos anos de 2019 e 2020.
A proposta sempre foi a de realizar uma espécie de imersão formativa, onde pudéssemos trocar sobre as práticas e trajetórias. Pois, como sempre afirmo na apresentação da série, se é que é possível, descolonizar a curadoria passa por desmistificar a prática. E como praticamente inexistem formações em curadoria de cinema, ao menos no Brasil não existe nenhuma, o Políticas do Olhar constitui uma oferta de espaço de trocas e fomento a partir de outras culturas fílmicas que incluem também outros referenciais teóricos. Pois a dissociação entre pensamento e prática é um dos pilares do pensamento ocidental onde não estamos interessadas em continuar. O interesse reside na elaboração sobre as práticas curatoriais e nos deslocamentos epistemológicos que as atravessam.
A presente apresentação pretende realizar uma reflexão sobre as principais questões surgidas nos debates do Políticas, como forma de descolonização dos espaços de curadoria em cinema.
Bibliografia
- CAMPT, Tina “Black Visuality and the practice of refusal”. Women & Performance. Feb. 25th, 2019.
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FREITAS, Kênia. “Afrofabulações e opacidade: estratégias de criação do documentário negro brasileiro contemporâneo” In LAERCIO, Ricardo (org). Pensar o documentário: textos para um debate Recife: Ed. UFPE, 2020.
GILLESPIE, Michael Boyce. Film blackness: American cinema and the idea of black film. Durham: Duke University Press, 2016.
GLISSANT, Édouard. Poetics of Relation. Michigan: The University of Michigan Press, 2019.
hooks, bell. “An Aesthetic of Blackness: Strange and Oppositional”. In hooks, bell. Yeaning: Race, Gender and Cultural Politics. New York: Routledge, 2015.
KILOMBA, Grada. Plantation Memories. Episodes of Everyday Racism. Munich: UNRAST, 2016.