Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Linhares Falcão (UFF)
Minicurrículo
- Gabriel Linhares Falcão é mestrando no PPGCine UFF, pesquisa “Cinema Experimental e Realismos: Uma investigação a partir dos escritos de Éric Rohmer e Jacques Rivette à crítica cinematográfica do experimental”. Participou do Estado Crítrico do IV FRONTEIRA – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental. Tem experiência nas áreas de direção, crítica cinematográfica e programação. Mantém o blog de cinema Belo é o sentimento (https://beloeosentimento.home.blog).
Ficha do Trabalho
Título
- VANGUARDA REALISTA: PRIMEIRAS DIVERGÊNCIAS DA CAHIERS DU CINÈMA
Resumo
- Na edição nº 10 da revista Cahiers du Cinèma, foi apresentado um pequeno dossiê intitulado “Opinions sur l’avant-garde”. O termo vanguarda foi colidido, limitada e prolificamente, com a teoria realista que vinha sendo elaborada pelos franceses naquele momento. Analisaremos textos das primeiras edições escritos por realizadores experimentais e vanguardistas e apontar paradoxos, interesses e limitações que contribuíam de alguma forma para consolidação de uma sonhada “vanguarda realista”.
Resumo expandido
- Na edição número 10 da revista Cahiers du Cinèma, publicada em março de 1952, foi apresentado um pequeno dossiê intitulado “Opinions sur l’avant-garde” com textos de, em ordem de aparição, Hans Richter, André Bazin, Michel Mayoux e Maurice Schérer (Éric Rohmer). O termo vanguarda, que já é naturalmente digno de discussão, foi colidido, limitada e prolificamente, com a teoria realista que vinha sendo elaborada pelos franceses naquele momento. Paradoxalmente, as divergências de opiniões apresentadas afastavam o “avant-garde” do essencialismo cinematográfico independente, permitindo a relação entre a “liberdade à frente” da vanguarda com o realismo (e, consequentemente, outras formas de arte a ele atreladas – teatro, literatura, pintura), em contrapartida, restringindo aos limites do essencialismo realista.
O texto de Richter, como apontado na nota introdutória de “L’avant-garde Nouvelle” de André Bazin, foi publicado com interesse duplo. Por um lado, havia a admiração pelo diretor como um dos únicos que permanecia fiel à premissa não comercial e não utilitária da vanguarda. Por outro lado, interessava a precisão de suas posições estéticas em definir “uma concepção do Avant-Garde, certamente evoluída, mas consistente com o que era em 1920-30” (BAZIN, 1952).
Em 1968, Annette Michelson, apontou que nos anos 1920 existia uma comunidade de aspirações das vanguardas em que se respeitava a heterogeneidade de formas e experimentações, e que esta perdera forças com a chegada do cinema sonoro e a sedimentação do realismo e da indústria. Já Bazin, parece apresentar uma postura hegeliana, em que o realismo e a vanguarda tenderiam a uma síntese no “moderno”. Apesar de suas preferências formais pelo plano-sequência e a profundidade de campo, a máxima que embasou a diversidade formal e as divergências de visões – ainda que delimitadas – nos anos seguintes da Cahiers du Cinèma foi: “Chamaremos, portanto, realista todo sistema de expressão, todo procedimento de relato propenso a fazer aparecer mais realidade na tela” (BAZIN, 1991; pág. 244). A atenção ao “procedimento” permitiu Rohmer e Rivette, assim como outros críticos, a se desvincularem do cinema como linguagem, o primeiro dando atenção a ontologia como essência e o segundo recusando a ideia de linguagem definitivamente. Posteriormente, a aparição de realidade na tela tenderia mais para a qualidade dramática da suspensão da descrença – para o tensionamento entre real e tela – que para a realidade documentada em si.
“Un Art Original Le Film” de Ritcher, de muitas maneiras contribui para o realismo impossível baziniano estimulando-o e questionando-o. Logo no início, o autor expõe: “O principal problema do cinema que foi inventado para reproduzir, paradoxalmente, está no triunfo da reprodução” (RICHTER, 1952). O naturalismo por si só, ou a reprodução pela reprodução, não interessava também à Bazin, era reconhecida sua impossibilidade.
Cinco edições atrás (Nº 5), haviam publicado o texto “Modestie et art du fim” de Kenneth Anger, ex-assistente de Henri Langlois. Novamente, logo no início, outra afirmação parece contribuir para o realismo, em especial o realismo técnico e suas potências documentais modernas: ““Capturar o imediato” é sem dúvida a condição mais essencial da criação artística.” (ANGER, 1951)
Poucos textos ao longo das primeiras edições da Cahiers du Cinèma foram dedicados a vanguarda e ao experimental, e estas exceções cooperavam de alguma forma aos interesses editoriais da época. Sergei Eisenstein e Abel Gance foram os mais publicados, mas naquele instante já estavam realizando filmes mais próximos do realismo.
Esta apresentação propõe-se a analisar os textos das primeiras edições escritos por realizadores experimentais e vanguardistas, apontando paradoxos, interesses e limitações que contribuíam de alguma forma para consolidação desta “vanguarda realista” – que dialogava com a “nova vanguarda” idealizada por Astruc – que tinha como excelência Jean Renoir e seu O Rio Sagrado.
Bibliografia
- ANGER, Kenneth. Modestie et art du film, 1951 (In: Cahiers du Cinèma Nº 05, setembro de 1951; tradução: Gabriel Linhares Falcão)
ASTRUC, Alexandre, Nascimento de uma nova vanguarda: a Caméra-Stylo, 1948 (In: http://www.focorevistadecinema.com.br/FOCO4/stylo.htm )
BAZIN, André. L’avant-garde nouvelle, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952; tradução: Gabriel Linhares Falcão)
BAZIN, André. O cinema. Ensaios. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.
MICHELSON, Annette. O Filme e a Aspiração Radical, 1968 (In: http://www.focorevistadecinema.com.br/FOCO8-9/michelsonradicaldv.htm )
RICHTER, Hans. Un art original: le film, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952; tradução: Gabriel Linhares Falcão)
MAYOUX, Michel. Trois créatures, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952)
SCHÉRER, Maurice. Isou ou les choses telles qu’elles sont, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952)