Ficha do Proponente
Proponente
- Caio Túlio Padula Lamas (USP)
Minicurrículo
- Caio Lamas é doutorando pelo Programa de Meios e Processos Audiovisuais da Universidade de São Paulo (ECA/USP), mestre com Menção Honrosa em Ciências da Comunicação pela mesma instituição (2013) e integrante do Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas (MidiAto). É professor do Centro Universitário Campo Limpo Paulista e foi docente das Faculdades Integradas Rio Branco. É montador e diretor de curtas-metragens em bitola digital.
Ficha do Trabalho
Título
- Análise fílmica e intermidialidade: considerações sobre Bróder (2011)
Resumo
- Partindo de observações a respeito da intermidialidade como ferramenta de pesquisa na análise de produções audiovisuais, o trabalho traça uma análise do longa-metragem Bróder (2011) com o objetivo de evidenciar como a trilha sonora e o rap em especial são apropriados na narrativa fílmica de maneira a consolidar os laços de afeto entre os personagens e a desconstruir o estigma do jovem criminalizado.
Resumo expandido
- Três amigos saem de carro do Capão Redondo, zona sudoeste de São Paulo, em direção a uma festa no centro da cidade. Enquanto um deles discute com a namorada pelo celular, o que está no volante busca algum CD entre os disponíveis para animar a travessia. Dali a instantes passamos a ouvir Fim de semana no parque, dos Racionais Mcs, enquanto os três amigos cantam em uma só voz com Mano Brown.
A cena acima é parte de Bróder (2011), longa-metragem dirigido por Jeferson De e ganhador das categorias de melhor filme e melhor diretor no Festival de Cinema de Gramado de 2010, entre outras premiações. Trata-se de um elemento do corpus de pesquisa de doutorado que atualmente desenvolvo na Universidade de São Paulo, cujo foco são as políticas de representação críticas à criminalização de jovens moradores das periferias brasileiras e em circulação nas mídias audiovisuais, tomando como eixo de contra-estigmatização a apropriação das culturas juvenis nas narrativas.
O objetivo do presente trabalho é o de propor a análise do filme supracitado tomando como eixo central a inserção da trilha sonora e sobretudo do rap na narrativa fílmica. Parto da hipótese de que o rap no filme assume uma função que supera a construção de uma atmosfera correspondente aos efeitos de sentido propostos pela narrativa, ou a redundância a determinada situação do enredo, entre outros papéis a que habitualmente se atribui a trilha sonora em um filme.
O papel do rap aqui assume outra qualidade, e para me aprofundar em tal abordagem proponho, a partir de autores como Nagib, Paiva e Diniz, a apropriação da intermidialidade como ferramenta de pesquisa e análise fílmica. A intermidialidade, nessa perspectiva, é um fenômeno amplo referente ao cruzamento entre diferentes mídias cujas manifestações se dão de diferentes maneiras: de adaptações cinematográficas de obras literárias a histórias em quadrinho, de óperas a histórias escritas a partir de hipertexto (hiperficções). Uma de suas manifestações se dá no que se denomina referências intermidiáticas: a imitação ou evocação de elementos, estruturas e práticas de outra mídia no interior de um dado texto. A referência pode ser a uma obra específica, a subsistemas (por exemplo gêneros de filmes) ou a sistemas inteiros (a televisão, o cinema).
Partindo da potencial abertura que o cinema pode ter a outras formas de expressão, o trabalho de Nagib se foca em referências intermidiáticas de alguns filmes da Retomada e Pós-Retomada para enfatizar como elas têm a função de passagem entre o filme e a realidade que se busca representar. A autora enfatiza como filmes constroem realidades que lhe são próprias – ou realidades fílmicas, derivadas da propriedade do texto fílmico de ser incorporado às experiências de vida dos espectadores – bem como frequentemente apresentam um efeito de realidade particular. É imerso nesse realismo que as narrativas fílmicas analisadas pela autora buscam um ponto de intersecção com sujeitos e espaços específicos, por meio de referências intermidiáticas de uma qualidade particular, que amplificam o potencial político da narrativa.
A passagem proposta por Nagib é simultaneamente um fim em si mesma e um recurso narrativo de transição entre os realizadores e a realidade representada. Isso implica dizer que, se apresenta uma manifestação textual que lhe é própria, adquiri um potencial político que por vezes também reverbera para além do filme em si. Nagib destaca como muitos dos filmes que analisa buscam inserir o realismo não só em sua própria tessitura, como também em seus modos de produção, com impactos concretos na vida dos atores e das comunidades representadas.
A partir de tais considerações, proponho que o rap é apropriado na narrativa de Bróder de maneira a ecoar um laço de afeto vital e de irmandade entre os personagens que colabora para a desconstrução do estigma do jovem criminalizado, em um potencial político correlato ao destacado por Nagib e as passagens fílmicas que analisa.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas, SP: Papirus, 2012.
DINIZ, T. Intermidialidade: perspectivas no cinema. Revista Rumores. N. 24, v. 12, julho-dezembro 2018, p. 41-60.
NAGIB, L. Passages: travelling in and out of film through Brazilian geography. Revista Rumores. N. 24, v. 12, julho-dezembro 2018, p. 19-40.
PAIVA, S. Cinema, intermidialidade e métodos historiográficos: o Árido Movie e Pernambuco. Revista Significação. N. 45, v. 43, 2016, p. 64-82.
STAM, R. Introdução à teoria do cinema. Campinas, SP: Papirus, 2013.