Ficha do Proponente
Proponente
- Raquel de Oliveira Pedro Garbelotti (UFES)
Minicurrículo
- Doutorado pela ECA/USP. Pós-doc no CTR/ USP, 2019 sobre vídeo-instalação e o cinema de exposição, arte e esfera pública. Docente na UFES desde 2004. Realizou exposições no BR e exterior; como: os vídeos (Involuntary Movement) na Gazon Rouge Gallery, Atenas/ Grécia, 2004. O projeto JUNTAMENTZ para Translations/ Traduções, 2006 na WARC em Toronto/ CA e a 8a Bienal do Mercosul – 2011 em Porto Alegre/ BR. Destaca-se o vídeo para o LUMINOUS ECHO Microwave International New Media Art, Hong Kong/ China
Ficha do Trabalho
Título
- Temporalidades: imagens em Tempo de Ruínas e Refúgios do Captoloceno
Mesa
- Temporalidades: imagens em Tempo de Ruínas e Refúgios do Captoloceno
Resumo
- Esta mesa visa promover o debate e encontro de artistas pesquisadores sobre a esfera de questões do contemporâneo. Propõe a discussão de temas vinculados a esfera pública: exploração da(s) natureza(s) pela idéia de Antropoceno (feminismo, ecologia, subalternidades e escalas de comunidade) e suas relações com práticas artísticas contemporâneas fílmicas em seus problemas na produção, imagens e narrativas geradas pela mesma.
Resumo expandido
- Proposta de cada membro:
Aline Dias: “Montagens de um casamento”
“Montagens de um casamento” apresenta o processo de “O Casamento de Clarice e Bataille”, filme e instalação desenvolvidos por Aline Dias e Julia Amaral. O trabalho foi apresentado em cinemas (incluindo performance sonora em tempo real), exposições com instalação de uma (66o Salão Paranaense do Museu de Arte Contemporânea do Paraná) e duas salas (I Programa de Exposições 2017 do Centro Cultural São Paulo) e veiculado como radionovela (programa Radiofonias, Radio UDESC). A comunicação aborda “O Casamento” especificamente a partir da dilatação temporal de suas imagens e das passagens entre as formas de exposição, dialogando com o pensamento de autores como Phillippe Dubois, Erika Balsom e Georges Didi-Huberman.
Situado no espaço interior da casa, o filme foi obstinadamente construído de modo a evitar qualquer encontro visual, tátil ou discursivo em cena. Embora habitem os mesmos espaços, os protagonistas não contracenam, de forma que o desencontro e os indícios da presença do outro complexificam o termo que o intitula. O casamento aqui excede o contrato social, a relação amorosa ou o contato físico, mas é pensado como experiência literária compartilhada (ou melhor, como o desejo de partilha que funda essa experiência e tudo o que ela implica de insubordinável ao discurso). Além da ausência de contato físico entre o par, a partir de dois escritores, o filme é realizado também sem texto, sem diálogos. Este casamento como silêncio marca o embate entre o desejo de enunciação e seu fracasso, o que é explorado na obra literária de ambos. Articulado no espaço lacunar da montagem, o encontro – interditado, colocado em tensão – se faz nas operações fílmicas, instalativas, sonoras no espaço associativo do espectador.
Diego Kern Lopes: Tensão
A obra TENSÃO é uma ação poética artística e de pesquisa junto ao Organon (UFES) – Núcleo de ensino, pesquisa e extensão em mobilizações sociais sobre o desastre de mineração de 2015 no Rio Doce. A investigação compreendeu 3 anos de pesquisa de campo nos territórios afetados no Espírito Santo, período no qual foram realizados registros audiovisuais e profunda reflexão sobre as funções e disfunções desse tipo de registro. Concebido como um mecanismo alternador, TENSÃO requer uma escolha do espectador. Assim como os corpos dos entrevistados, os corpos dos espectadores também são afetados nesse processo.
Raquel Garbelotti: Wind-Fence (um filme mineral). filme colorido sem som 8′
Recolher pó de minério da própria casa todos os dias. Este ato de recolher o pó em casa é o início de uma narrativa. Realizar uma maquete física da casa é o segundo passo, e finalmente um filme. No filme, o pó de minério vai ocupando os cômodos da casa em Vitória no ES. Nesta maquete, o minério vai preenchendo os espaços. No looping ao contrário, ao final do filme, os cômodos vão se esvaziando. Primeiro o preenchimento e depois o esvaziamento. Podemos perceber a contaminação em um plano sequência e nos planos fixos.
A mise-en-scène ocorre em uma maquete branca com partes transparentes (remissão ao cubo branco e a modernidade); lugar de contenção do pó preto de minério de ferro. Uma reflexão sobre o momento “desenvolvimentista” do país, que termina sufocado pelo material do progresso econômico da construção civil. A inserção do pó na maquete retoma o tempo invisível da extração, da mineração. A barreira ou Wind Fence (utilizada pelas empresas mineradoras), embora produza uma imagem de segurança, na realidade, não faz a contenção do pó. A empresa VALE insiste na eficiência da mesma, como insiste nesta imagem de eficiência.
Este filme foi apresentado como video-instalação na Galeria Marilia Razuk em São Paulo em 2017 e na exposição virtual Tirante no MAES em Vitória /ES.
raquelgarbelotti.cargo.site
Bibliografia
- BALSOM, Erika. Irreprodutível: cinema como evento. In.: Menotti, Gabriel; Bastos, Marcos; MORAN, Patrícia. Cinema apesar da imagem. São Paulo: Intermeios, 2016.
DEUTSCHE, Rosalyn. Agorafobia. Barcelona: MACBA, 2008.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas ou A Gaia Ciência Inquieta. Lisboa: KKYM+EAUM, 2013.
_______________. Remontagens do tempo sofrido. Belo Horizonte: UFMG, 2018.
DUBOIS, Phillippe. A questão da “forma-tela”: espaço, luz, narração, espectador. In.:
Gonçalves, Osmar (org.) Narrativas Sensoriais. Rio de Janeiro: Circuito, 2014.
HARAWAY, Donna. Antropoceno, capitaloceno, plantationoceno, chthuluceno: fazendo parentes. ClimaCom Cultura Científica – pesquisa, jornalismo e arte Ι Ano 3 – N. 5 / Abril de 2016 / ISSN 2359-470
MOUFFE, Chantal. Prácticas artísticas y democracia agonística. Barcelona: Universitat Autònoma de Barcelona, 2007.
TSING, Anna L. Viver nas Ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, 2019.