Ficha do Proponente
Proponente
- Victor Cardozo Barbosa (UNICAMP)
Minicurrículo
- Victor Cardozo Barbosa é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Multimeios, no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe em 2019 com a monografia intitulada “A Ironia Sacramental nos Melodramas de Douglas Sirk”.
Ficha do Trabalho
Título
- Desejo e desilusão – melodramas romanescos na Hollywood dos anos 50
Resumo
- Este trabalho se propõe a identificar a sobreposição entre o romanesco (Girard, 2009) melodramático (Brooks, 1995) no cinema hollywoodiano dos anos 50. Será feita a análise fílmica comparativa dos filmes Deus Sabe o Quanto Amei, Bom dia, tristeza e Imitação da Vida, na qual serão investigadas tanto as recorrências nas estratégias estilísticas utilizadas por cada cineasta, bem como as suas particularidades individuais sob a luz dessa sobreposição.
Resumo expandido
- O que se pretende neste trabalho é identificar a relação entre a estrutura romanesca de revelação do desejo mimético, originária do romance literário (Girard, 2009) e modo melodramático que prima pela revelação do desejo moral (Brooks, 1995) no cinema hollywoodiano dos anos 50. Será feita a análise fílmica comparativa dos filmes Deus Sabe o Quanto Amei (Vincente Minnelli, 1958), Bom dia, tristeza (Otto Preminger, 1958) e Imitação da Vida (Douglas Sirk, 1959), a fim de compreender como cada diretor, através de suas escolhas estilísticas, combina e potencializa a sobreposição do romanesco ao melodramático na encenação de cada filme.
Em um primeiro momento, será analisada a influência do modo melodramático e do desejo mimético romanesco no cinema hollywoodiano, para que se possa identificar sua convergência. Em seguida, serão buscadas as recorrências nas estratégias estilísticas dos filmes mencionados, bem como as particularidades individuais de cada um.
O primeiro eixo da comparação é o modo melodramático, conforme definido por Brooks, um sistema estético cuja influência pode ser sentida, desde o seu surgimento no século XIX, em volta do ato de dramatizar uma narrativa. O segundo eixo é o romanesco, que é uma outra recorrência dentro do classicismo cinematográfico, fortemente observável na safra hollywoodiana, mas também na filmografia de outros “países de cinema” como França, Itália, Alemanha e Japão. Romanesco, na concepção de Girard, é o romance que trabalha sobre o estilo romântico para revelar a ilusão que é toda a fundação do romantismo: a ideia de um desejo autônomo, original.
Assim como nos grandes romances do século XIX, as obras romanescas existem no cinema hollywoodiano lado a lado com outras que perpetuam as ilusões românticas. Sua recorrência pode ser encontrada em diversos gêneros: faroeste, comédia, romance, aventura, noir. Mas é justamente nos melodramas que mais explicitamente abraçam o gênero que a dimensão romanesca parece atingir uma espécie de paroxismo, no qual se encontra o objeto de análise: a superação das aparências e das falsa convenções pela revelação do universo moral se sobrepõe à superação das ilusões românticas pela revelação do desejo romanesco.
O desejo mimético joga uma nova luz sobre o jogo de cena do melodrama hollywoodiano, sobre o princípio que alimenta a criação que seus autores encenam para a sua audiência. Uma mediação do desejo pelo olhar que tem ao mesmo tempo o papel de entreter, galvanizar e engajar tal audiência. As estratégias estilísticas empregadas para conduzir e em alguma medida evidenciar esse desejo, por sua vez, revelam um sofisticado equilíbrio entre artifício e revelação íntima que é a um só tempo melodramático e romanesco.
Na década de 50, depois de um longo processo de síntese das possibilidades expressivas da estética cinematográfica, a depuração do classicismo em Hollywood chega a uma espécie de ápice, que logo encontraria seu curto-circuito na década seguinte. Mesmo buscando apenas os filmes de adesão completa ao modo melodramático, é possível identificar um grupo bastante vasto de filmes exemplares que também primam pela estrutura romanesca. Fiquemos com três exemplos do fim desta década: Deus Sabe o Quanto Amei (Minnelli, 1958), Bom dia, tristeza (Preminger, 1958) e Imitação da Vida (Sirk, 1959). Minnelli concilia a revelação moral e a transfiguração da realidade do pelo desejo mimético por uma espécie de separação entre sujeito desejante e o fundo. No filme de Preminger, existe uma dialética entre a articulação melodramática e a gradual percepção do romanesco. Sirk, por sua vez, busca uma ambivalência entre o melodrama e o romanesco, os fazendo convergir sempre que possível. Pretende-se aqui comparar os três filmes com base no que eles apresentam de comum diante da sobreposição melodramático-romanesca: a presença de uma violência psicológica que se converte em violência estética e marca a ruptura da vida interior acalentada pelos protagonistas.
Bibliografia
- BORDWELL, David. On the history of film style. Cambridge: Harvard University Press, 1997.
BROOKS, Peter. The melodramatic imagination: Balzac, Henry James, melodrama, and the mode of excess. New Haven: Yale University Press, 1995.
ELSAESSER, Thomas. Tales of Sound and Fury: Observations on the Family Melodrama in LANDY, Marcia (Org.). Imitations of life: a reader on film & television melodrama. Detroit: Wayne State University Press, 1991. (Contemporary film and television series).
GALLAGHER, Tag. White Melodrama. Senses of Cinema n° 36, julho de 2005.
GIRARD, René. Mentira romântica, verdade romanesca. São Paulo: Editora É Realizações, 2009.
OLIVEIRA JR., Luiz Carlos. A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2013.
XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac & Naif, 2003.