Ficha do Proponente
Proponente
- Eliza Dias Möller (UFJF)
Minicurrículo
- Mestranda no programa de pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens da UFJF, com bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design na mesma universidade, tem pesquisas com foco na cultura juvenil desde 2015, focando atualmente no mestrado sua pesquisa nos jovens que faziam parte da cena precursora do indie rock em São Paulo na década de 1990.
Ficha do Trabalho
Título
- Guitar Days e Time Will Burn: uma análise sobre os documentários sobre
Resumo
- Este artigo busca analisar os documentários Time Will Burn: o Rock Underground Brasileiro do Começo dos Anos 90 (2016) e Guitar Days: An Unlikely Story of Brazilian Music (2018), que abordam a cena precursora do indie rock brasileiro na década de 1990. Para tal, busca-se compreender através do discurso, da imagem e do som como essa cena foi representada pelos filmes e como dialogam com os documentários de indie rock produzidos em outros países conforme a pesquisa de Jamie Sexton (2015).
Resumo expandido
- Lançado em 2016, dirigido por Marko Panayotis e Otavio Sousa, o filme Time Will Burn: O Rock Underground Brasileiro do Começo dos Anos 90 introduz a “pré-história” do indie rock brasileiro da década de 1990, com bastante foco na cena paulista e fluminense. Dois anos depois da estreia de Time Will Burn, em 2018, outro documentário bastante semelhante, e que começou a ser gravado na mesma época, em torno de 2015, é exibido: Guitar Days: An Unlikely Story of Brazilian Music, dirigido por Caio Augusto Braga. O segundo filme, por ter passado mais tempo sendo produzido e ter assistido o lançamento de Time Will Burn traz artistas de outros estados brasileiros, assim como personagens mais recentes da cena indie rock, apontando algumas continuidades.
Ambos os documentários apresentam formatos narrativos bastante semelhantes, baseando-se em entrevistas e imagens de arquivo, porém o objetivo e a forma de construir os discursos são um pouco diferentes, considerando narrativa, conforme Patrício Guzman (2017, p. 49), composta pelos recursos da descrição, ação, personagens, entrevistas, fotos fixas, objetos e reconstruções.
Sexton (2015) descreve algumas características presentes na maioria dos documentários sobre indie rock, tais aspectos também foram percebidos nos filmes brasileiros. Muitas destas características estão nos aspectos relativos à “retromania”, Sexton (2015) explica que a “retromania” é um recurso constante em documentários musicais, também presentes nos do nicho indie rock. O termo “retromania” apresentado por Sexton parte da teoria de Reynolds (2011), que indica que buscar referências em seu próprio passado faz parte do funcionamento da cultura pop, conforme ela avança, mais busca tais referências.
No caso dos filmes em questão, o uso de imagens de arquivos é predominante, sendo que a maioria desses arquivos foram disponibilizados nas redes sociais das bandas após o lançamento de Guitar Days, o retorno dos grupos também é um dos principais ganchos para o seu encerramento, algo que também remete à retromania como elemento narrativo. A construção imagética também contém diversos recursos da retromania, como o uso do efeito “glitch” e de fitas auto-relevo para a descrição dos personagens, além disso, usa-se ilustrações que remetem à tempos escolares, com canetas esferográficas e brochuras, junto ao uso constante de Tvs de tubo para transmitir as filmagens de arquivo. No som, este recurso também é presente, com a adição de ruídos de fitas cassete, fitas emperrando etc.
Outra característica percebida por Sexton (2011) está no uso do som direto e inexistência de voz-over em documentários do indie rock, também percebidas em Time Will Burn e Guitar Days. A trilha sonora em Time Will Burn a trilha sonora é exclusivamente feita com as músicas das bandas abordadas, enquanto o Guitar Days, que segue a mesma linha no geral, traz outras faixas com intuitos ilustrativos, como no caso da abertura que tem uma trilha estilo Bossa Nova para ilustrar o senso comum do que seria uma música feita no Brasil, considerando que conforme Rogers (2015), o uso de trilha sonora em filmes de ficção ajuda a audiência a adentrar mais profundamente a história contada. No caso destes filmes, a trilha funciona como material de arquivo e também para comover a audiência, muitas vezes optando por algumas melodias ou fases de bandas para certos momentos do filme, de decepção, de sucesso etc.
Ao trazerem como trilha a música das bandas, precisamos observar com cuidado algumas questões, pois o som desses grupos fica também como algo ilustrativo, uma trilha passageira e como material de arquivo. Sexton (2015) ressalta que o documentário musical é um gênero que normalmente atende a uma audiência de nicho, com aqueles que já conhecem as bandas e fazem parte daquele público, assim, é provável que este público consiga identificar mais facilmente qual música está tocando, de qual banda ela é, quando foi lançada e de qual disco faz parte, o significado da letra etc.
Bibliografia
- GUMES, Nadja. A música faz o seu gênero: uma análise sobre a importância das rotulações para a compreensão do indie rock como gênero. 2011. 222 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas). Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador, 2011.
GUZMÁN, Patricio. Filmar o que não se vê. Um modo de Fazer documentários. Tradução: José Feres Sabino. São Paulo: edições Sesc, 2017.
REYNOLDS, Simon. Retromania: Pop Culture’s Addiction to Its Own Past. New York: Faber and Faber, 2011. 458 p.
ROGERS, Holly. Introduction: Music, Sound and the Nonfiction Aesthetic. In.: ROGERS, Holly [org.]. Music and Sound in Documentary Film. United Kingdom: Routledge, Taylor and Francis Group, 2015, pp. 1-19.
SEXTON, Jamie. Excavating Authenticity: Surveying the Indie-Rock Doc. In: ROGERS, Holly [Org]. Music and sound in documentary film. Nova York: Routledge, 2015, pp. 151-165.