Ficha do Proponente
Proponente
- Angela Nelly dos Santos Gomes (UFPA)
Minicurrículo
- Docente do curso de bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará. Doutoranda no PPG Comunicação, Cultura e Amazônia, PPGCOM/UFPA. Mestre em Comunicação pela UMESP-SP. Roteirista, documentarista, produtora, jornalista.
Ficha do Trabalho
Título
- Decolonialidade e resistência no cinema indígena da Amazônia
Seminário
- Cinemas pós-coloniais e periféricos
Resumo
- Esta comunicação propõe uma reflexão sobre o cinema indígena da Amazônia para compreender em que aspectos essa produção pode ser entendida como forma de resistência à colonialidade. Partimos das teorias decoloniais e do conceito de indigenização para analisar o cinema como meio importante de estratégia cultural e comunicacional na luta contra a invisibilidade e por reivindicações de direitos dos povos originários da Amazônia, ao mesmo tempo que extrapola essa instrumentalidade.
Resumo expandido
- Esta comunicação propõe uma reflexão sobre o cinema indígena da Amazônia para compreender em que aspectos essa produção pode ser entendida como forma de resistência à colonialidade. Partimos das teorias decoloniais (QUIJANO, 2009; MIGNOLO, 2005) e do conceito de indigenização (SAHLINS, 1997) para analisar o cinema como meio importante de estratégia cultural e comunicacional na luta contra a invisibilidade e por reivindicações de direitos dos povos originários da Amazônia, ao mesmo tempo que extrapola essa instrumentalidade.
Nas últimas décadas o cinema e o audiovisual em geral tornaram-se meios importantes utilizados pelos povos originários para desenvolver estratégias culturais e comunicacionais, com o objetivo de dar visibilidade à sua cultura, seu modo de vida e às suas lutas nas mais diversas esferas. Nesse sentido passou a ser elemento relevante de reivindicações, seja de direitos, ancestralidades, igualdades ou diferenças. E na Amazônia isso não é diferente.
A Amazônia tem sido vista desde o início da colonização como um espaço repositório de “recursos naturais”, um lugar inerte, de reserva de riquezas à espera de exploração e expropriação, como se aqui houvesse um vazio demográfico (SOUSA, 2019). Um espaço cuja representação tem sido ao longo do tempo carregada de um viés estereotipado, impactando também no olhar sobre sua população indígena. Olhar que também foi construído pelas representações imagéticas e narrativas audiovisuais exógenas.
Porém, hoje há um cinema indígena pulsante na Amazônia. Um cinema autóctone com um olhar endógeno e “indigenizado” (SAHLINS, 1997a, apud, MENDONÇA, 2014, p.17) pois ao mesmo tempo que utiliza da linguagem, narrativa e regras de produção cinematográfica, as adapta e as transforma. O cinema indígena usa a tecnologia e a linguagem para forjar uma nova percepção de si, fazer uma reconexão com o território, corpos, espaços e saberes, e desvelando uma outra perspectiva sobre os povos originários e a Amazônia em si, mostrando que esta é um espaço vivo e em movimento, cheio de singularidades que resultam em uma teia complexa de representações discursivas e imagéticas conformando suas identidades.
Essa indigenização pode significar um deslocamento tanto histórico quanto geográfico na produção e representação de imagens e narrativas audiovisuais da região e dos povos indígenas locais, pois há um entendimento partilhado por indígenas e indigenistas de que o cinema permite romper o fosso da invisibilidade e do desconhecimento sobre a história e o modo de vida dos vários povos indígenas no Brasil.
Assim, o interesse deste estudo se detém mais nas relações sociopolíticas ou culturais que implicam o fazer cinematográfico indígena ao se produzir de dentro e a seu modo. E como este cinema se converte numa importante produção simbólica dos povos indígenas na luta contra a subalternização a que têm sido submetidos historicamente, e que na Amazônia a situação é potencializada por ocuparem esse espaço, que por si também carrega as marcas da opressão e subalternização históricas, do colonialismo e da colonialidade (MIGNOLO, 2005).
Bibliografia
- MENDONÇA, Augusta A. N. de. “Fechando pra conta bater”: a indigenização dos projetos sociais Xakriabá. Belo Horizonte, 2014. Tese – (Doutorado) – UFMG.
MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade. In: Edgardo Lander (Org.), A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais, 2005.
_____________ Colonialidade: O lado mais escuro da modernidade. Trad. Marco Oliveira. RBCS Vol. 32 n° 94, junho/2017.
NUNES, Karliane Macedo. Imagens indígenas em movimento: história, cultura e cosmovisão nos cinemas Huni Kuin, Kuikuro e Mbyá-guarani. 2017. Tese (doutorado).
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra-Portugal. Edições ALMEDINA. AS, 2009.
SOUZA, Márcio. História da Amazônia: do período pré-colombiano aos desafios do século XXI.Rio, 2019