Ficha do Proponente
Proponente
- Rúbia Mércia de O.Medeiros (UFC)
Minicurrículo
- É realizadora, pesquisadora, curadora, educadora audiovisual e gestora de projetos. Faz parte da Caratapa Filmes. É doutoranda em Fotografia e Audiovisual pelo programa PPGCOM-UFC. Integrante do LEEA. Tem atuado em diversos projetos de formação audiovisual no Ceará e no Brasil – Cinema no Brejo: laboratório rural de formação e experimentação em audiovisual, O Sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão, DocSertão-Quixeramobim, Passadiante, Inventar com a Diferença: cinema e direitos humanos.
Ficha do Trabalho
Título
- Viver nas ruínas
Mesa
- Viver nas ruínas
Resumo
- O grupo de pesquisa LEEA-UFC propõe uma conversa com Anna Lowenhautpt Tsing, professora de antropologia na Universidade da Califórnia. Nessa entrevista coletiva, elaboramos questões em torno das possibilidades de um “Viver nas Ruínas”, refletindo com a autora sobre modos de criação artística que se movimentem junto com os destroços, interrogando nosso tempo. A proposta dá prosseguimento ao projeto “Ações de Erodir”, realizado desde agosto de 2020.
Resumo expandido
- Coletivamente, os proponentes realizarão uma conversa com temática que remete a questões de um “Viver nas Ruínas”. Essa atividade será realizada com a participação de Anna Lowenhautpt Tsing, professora de antropologia na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, nos Estados Unidos, cujo único livro traduzido no Brasil tem por título “Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno”. A proposta dá prosseguimento ao projeto “Ações de Erodir”, que os grupos de pesquisa LEEA (Laboratório de Estudos e Experimentações em Artes e Audiovisual) e Imago (Laboratório de Estudos de Estética e Imagem) realizam, no formato online, desde agosto de 2020, durante a pandemia.
O mote principal desse projeto tem sido a erosão, tomada como um elemento constituinte do presente e pautada pela proposta inicial do químico dinamarquês Paul Crutzen (1), para o qual há uma drástica mudança na relação entre a biosfera e os seres humanos. Essa série de encontros nasceu já movida pela ideia de fazer da erosão uma forma de relação que nos mobilizasse diante das transformações da vida: a erosão é uma parte da Natureza que pulsa e produz impermanências. O projeto acolhe essa ação de desgastar tudo que a ação humana fossilizou, impedindo que as transformações ocorram. Somos os que desejam dunas nômades, sempre em movimento; que as pedras sejam lapidadas pelas ondas do mar; que as chuvas arrebentem os asfaltos que cobrem os rios.
Tomando esse impulso, realizamos até agora nove encontros, todos disponibilizados em nosso site: https://www.leea-grupopesquisa.online/acoes-de-erodir. Cada uma a seu modo, as conversas manifestavam o desejo de nos reunirmos e nos situarmos diante das exigências do presente, promovendo convites a pessoas com quem estabelecemos interlocuções. Pensando o processo de conhecimento na sua transversalidade com a vida social, o intuito tem sido também de se mover coletivamente junto a vários saberes e fazeres em curso, que interrogam nossa experiência contemporânea e que nos fornecem ocasiões para agir com as erosões.
Para o encontro anual da Socine, concebemos um novo movimento desse projeto, trazendo essa conversa com Anna Tsing. A pesquisadora nos fala do desafio de romper a separação analítica entre natureza e cultura no mundo ocidental e nos chama atenção para a capacidade dos não humanos em responder aos programas dos que desenham a sua própria destruição. E afirma: “Para além desses sonhos de controle humano está o Antropoceno” (TSING, 2019).
Em “Viver nas Ruínas”, Tsing fala da Terra perseguida pelo Homem e sobre as pragas inesperadas do Antropoceno. E, nesse sentido, nos indica formas de viver essas ruínas, essas paisagens multiespécies. Lembramos de cinemas indígenas, de cinemas quilombolas, de cinemas de mulheres – esses quase sempre tão sensíveis ao que vem da Terra, dos bichos, das entranhas, das entidades e das fantasmagorias. Como as artes olham para as perturbações do antropoceno? Como elabora em meios aos destroços? Quais são nossas paisagens?
Junto conosco, para mediar a conversa/entrevista, chamamos Thiago Cardoso, antropólogo da Universidade Federal do Amazonas, que esteve com Tsing na pesquisa na cátedra Niels Bohr, na Universidade de Aarthus, na Dinamarca, quando Tsing realizou o trabalho interdisciplinar nas áreas de humanidades, ciências naturais e Artes, entre 2013 e 2018, para explorar habitabilidade e paisagens.
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(1) Paul J. Crutzen, cientista holandês que ganhou o Prêmio Nobel de Química por seu trabalho de compreensão do buraco de ozônio e que cunhou o termo Antropoceno para descrever a era geológica moldada pela humanidade. Crutzen cunhou o termo em um artigo para a Nature em 2002 . O autor argumentou que, como os efeitos dos humanos no meio ambiente aumentaram tanto nos últimos três séculos que o clima global poderia ser significativamente alterado, um termo específico deveria ser usado para descrever o período do final do século 18 até o presente.
Bibliografia
- CASTRO, Eduardo Viveiros de. A Inconstância da Alma Selvagem e outros ensaios de antropologia. Ubu. Coleção Argonautas. 2017.
CARDOSO, Thiago Mota. A arte de viver no Antropoceno: um olhar etnográfico sobre cogumelos e capitalismo na obra de Anna Tsing. Disponível em: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/a-arte-de-viver-no-antropoceno-um-olhar-etnografico-sobre-cogumelos-e-capitalismo-na-obra-de-anna-tsing1/
FEDERICI, Silvia. Calibã e as Bruxas. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo. Ed. Elefante, 2017.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
POTIGUARA, Eliane. Metade Cara, Metade Máscara. Rio de Janeiro: Ed. Grumin, 2018.
TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, 2019.
______. Friction: An ethnography of global connection. Princeton University Press, 2011.