Ficha do Proponente
Proponente
- ROBERTO RIBEIRO MIRANDA COTTA (UFPel)
Minicurrículo
- Professor dos cursos de Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), coordenador do Zero4 Cineclube, crítico de cinema e um dos editores da revista Rocinante. Também é membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) e da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE).
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema de invenção brasileiro contemporâneo no Zero4 Cineclube
Resumo
- Este trabalho analisa o processo de construção curatorial da mostra Invenção permanente, promovida de forma remota pelo Zero4 Cineclube em 2020. O objetivo é examinar as articulações estéticas propostas pela composição das sessões, com o intuito de pensar as características de um cinema brasileiro contemporâneo de invenção. Para tanto, revisita-se o pensamento de Ferreira (2016), Sales Gomes (1996) e Xavier (2012), buscando confrontar suas ideias diante do objeto selecionado.
Resumo expandido
- O zero4 Cineclube é um projeto de extensão universitária vinculado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel), coordenado pelo proponente deste artigo e conduzido com a colaboração de alunos do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da instituição. Com mais de uma década de atuação, suas exibições tradicionalmente ocorrem no Cine UFPel, sala pública com capacidade para 82 espectadores. Em razão da pandemia provocada pela Covid-19, desde o ano passado as sessões e os debates têm sido realizados de maneira virtual. Em 2020, promoveu-se uma temporada inteira dedicada ao cinema brasileiro, com mostras temáticas que abordam perspectivas históricas e contemporâneas.
Entre 16 de setembro e 6 de outubro, foi viabilizada a mostra Invenção permanente. Composta por três sessões, cada uma com cinco curtas-metragens de realizadores distintos, exibiu obras brasileiras contemporâneas capazes de descortinar experimentações estéticas singulares. Em vista dessas escolhas, o objetivo foi “pôr em evidência uma característica tão cara ao nosso cinema: a capacidade contínua de criar e ressignificar” (ANZOLIN; BERZAGUI; COTTA; DILLI, 2020). Além disso, as sessões foram acompanhadas por debates com críticos, curadores e pesquisadores que buscaram traçar rotas de diálogo entre as obras exibidas.
A primeira sessão trouxe como matéria central a relação entre arquivo, memória e subjetividade. Formada pelos filmes Travessia (Safira Moreira, 2017), Cinema contemporâneo (Felipe André Silva, 2019), Jarro de peixes (Salomão Santana, 2008), 10-05-2012 (Álvaro Andrade, 2014) e Nunca é noite no mapa (Ernesto Carvalho, 2016), foi debatida no dia 22 de setembro na companhia do crítico e curador Eduardo Valente.
Já a segunda sessão tinha como tópico principal a performatividade como modo de construção estitlística. Os filmes exibidos foram Flash happy society (Guto Parente, 2009), O redemoinho (Autoria desconhecida, 2010), Ruína (Gabraz, 2015), KBELA (Yasmin Thayná, 2015) e NoirBLUE – deslocamentos de uma dança (Ana Pi, 2018). No dia 29 de setembro, a discussão em torno deles contou com a presença do curador e pesquisador Luis Fernando Moura.
Por fim, a terceira sessão foi permeada pelas diversas maneiras de representação política impulsionadas no cotidiano. A exibição teve as obras Para todas as moças (Castiel Vitorino Brasileiro, 2019), Retrato nº1 do povo acordado e suas mil bandeiras (Edu Yatri Ioschpe, 2014), Bup (Dandara de Morais, 2018), Mundo incrível REMIX (Gabriel Martins, 2014) e Mamata (Marcus Curvelo, 2017). E o último debate recebeu a crítica Julia Noá, no dia 6 de outubro.
Considerando a composição dessas sessões e os respectivos temas debatidos, busca-se analisar a forma como as obras exibidas apresentam atributos estéticos particulares, mas também provocam possibilidades de atravessamento de linguagens entre elas. Diante disso, dois problemas se apresentam:
1 – No campo do curta-metragem, quais são os traços estilísticos mais representativos de um cinema brasileiro contemporâneo de invenção?
2 – É possível pensar em outras formas de invenção para além dos aspectos mais característicos desse cinema?
Ao confrontar tais questões, a pesquisa intenciona investigar o processo de construção curatorial da mostra Invenção permanente, exibida pelo Zero4 Cineclube. Partindo da hipótese de que há aspectos que mobilizam a articulação dos filmes em sessões específicas, bem como temas centrais que orientam seus debates, este artigo tenta lidar com os tópicos que permeiam tais proposições.
Desse modo, serão cotejadas a noção de cinema de invenção defendida por Ferreira (2016), a ideia de subdesenvolvimento cinematográfico pensada por Sales Gomes (1996) e a proposta conceitual de alegoria delineada por Xavier (2012). Além disso, frente ao panorama brasileiro atual, serão discutidos dois conceitos mais recentes: o de cinema de garagem (IKEDA & LIMA; 2011) e o de cinema pós-industrial (MIGLIORIN, 2011).
Bibliografia
- ANZOLIN, Rubens; BERZAGUI, André; COTTA, Roberto; DILLI, Lauren Mattiazzi. Invenção permanente. Disponível em: https://zero4cineclube.wordpress.com/invencao-permanente/. Acesso: 3 mai. 2021.
FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. 3 ed. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2016.
IKEDA, Marcelo; LIMA, Dellani (orgs.). Cinema de garagem: um inventário afetivo sobre o cinema jovem brasileiro do século XXI. Belo Horizonte/Fortaleza: Suburbana.co, 2011.
MIGLIORIN, Cézar. Por um cinema pós-industrial: notas para um debate. Revista Cinética, v.1, nº1. 2011. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm. Acesso em: 3 mai. 2021.
MORAES, Malú (coord.). Perspectivas estéticas do cinema brasileiro: seminário. Brasília: Edtora UnB, Embrafilme, 1986.
SALES GOMES, Paulo Emílio. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
XAVIER. Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo e cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012.