Ficha do Proponente
Proponente
- Gustavo Jardim (UFMG)
Minicurrículo
- Gustavo Jardim é educador e realizador audiovisual. Diretor do filme “A Noite Através”, lançado em 2020, entre outros curtas e média-metragens disponíveis online. Desenvolve programas artístico-pedagógicos em escolas públicas e em territórios de resistência cultural. Mestre em Cinema e Educação pela FAE/UFMG. Doutorando em Comunicação Social pela FAFICH/UFMG, em parceria com a Universidade de Chicago. É integrante do grupo de pesquisa Poéticas da Experiência (UFMG), do programa Coletivo de Cinem
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema transdisciplinar nas escolas: desafiar a singularidade
Resumo
- A comunicação visa abordar uma relação entre as práticas transdisciplinares (ligadas ao tempo presente) por meio do cinema e a produção de singularidades. A singularidade pode vista no lugar de uma especificidade, compreendendo os espaços de vida e as contingências dos encontros, mas também, de forma paralela, pode ser pensada como o imprevisível, como uma reorganização que se dá na linguagem, como aquilo cujas regras são determinadas pela própria experiência.
Resumo expandido
- Observamos na prática educacional, as nuances da produção de singularidades em projetos de filmes e partir de cinematografias, em programas que promovem parcerias entre artistas, alunos e professores. Da mesma forma, refletimos sobre o pensamento crítico a postura educacional que se convoca explorando suas dimensões nestes processos formativos.
O cinema só passa a ser visto como um meio de emancipação e luta política depois que é experimentado como tal, do contrário pode-se passar uma vida pensando que as imagens não seriam mais do que histórias sendo contadas nas telas para entreter o público. Nos últimos anos, temos nos dedicado a pensar – junto a diversos grupos, escolas, artistas e professores – formas de inserção do cinema na vida e nas práticas criativas com os estudantes. A realização de filmes em diferentes contextos nos ensinou sobre formas de abordagem e algumas medidas de trocas possíveis neste universo inexaurível de possibilidades. Porém, uma questão se fez sensível e sua abordagem científica se mostrou necessária para que continuássemos o trabalho. A inquietação que nos tocou primeiramente está ligada a uma tônica de padronização no ensino, cultivada como herança e até como virtude, tanto do ponto de vista econômico quanto na sustentação de uma pirâmide histórica e filosófica que estrutura nosso sistema educacional. Este cenário está fundado nas formas de organização e exclusão promovidas por algo que pode ser tratado como liberalismo econômico, mas preferimos nomear como mercantilização das democracias, ocorrendo especialmente no sul global, sobretudo ligado à penetração da tecnologia privada na vida social. A educação, neste contexto, toma para si o acúmulo de conhecimento e a inovação tecnológica como seu princípio de sucesso; e assim, vira as costas cada vez mais para as singularidades produzidas nos encontros e a circulação dos afetos na produção fílmica.
Frente a este quadro, o esforço de nossa pesquisa tem sido o de colher e tratar, no campo das práticas e das teorias, sementes potentes para o cultivo do cinema na educação, pautado por um processo de aprendizado que se dá a partir de uma relação crítica e intrínseca com o espaço e com a natureza dos encontros. Para que um plantio seja bem feito é necessário que a terra seja considerada em primeiro lugar, não apenas o solo orgânico, mas também aquele que é arado na linguagem, com as lâminas das experiências simbólicas que afiamos ao longo de nossas relações com o mundo. Acreditando que o cinema modula em sua prática as formas do pensamento e as relações dos corpos, como imaginar seu uso para a liberação de linguagens nutridas pelas singularidades, ou seja, pelos questionamentos inerentes ao espaço-tempo como o próprio princípio do conhecimento?
Com base nestas premissas e perguntas vamos analisar experiências do cinema no seu uso transdisciplinar, em grupos culturais e contextos escolares. Partimos essencialmente da realização de filmes com alunos nos seus contextos específicos para pensar as relações e as potências entre a educação e a singularidade. O desenvolvimento do projeto de um filme aparece como uma criação colaborativa no sentido de uma ação política, ou seja, ligada à liberdade dos grupos de discutir e inventar uma linguagem própria, emaranhada com os espaços de vida, articulada a uma pedagogia ligada ao espaço-tempo. A pesquisa tem nos conduzido a uma região cinematográfica que nos esforçaremos por cartografar na medida das análises dos processos e na qual supomos encontrar uma base de experiências fílmicas que levam à ativação das questões locais rearticuladas pelas singularidades que se dão no mundo e na linguagem.
Bibliografia
- DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo; Perspectiva, 2015.
ORLANDI, L. B. L. Deleuze- entre caos e pensamento. In: AMORIM, A. C.; GALLO, S.; OLIVEIRA JR., W. M. (Org.). Conexões: Deleuze e imagem e pensamento. Petrópolis, 2011.
VIEIRA, Cíntia e KASPER, Kátia. Diferença como abertura de mundos possíveis: aprendizagem e alteridade. Educação e Filosofia Uberlândia, v. 28, n. 56, p. 711-728, jul./dez. 2014.