Ficha do Proponente
Proponente
- Dafne Reis Pedroso da Silva (Unochapecó)
Minicurrículo
- Doutora em Comunicação Social (PUCRS), Mestre em Ciências da Comunicação (Unisinos), Especialista em Comunicação Midiática (UFSM), Bacharel em Comunicação Social (UFSM). Professora da Escola de Comunicação e Criatividade da Unochapecó. Pesquisa desenvolvida com financiamento do Art. 171 – Uniedu, com participação da acadêmica e bolsista Emanuele Schardong.
Ficha do Trabalho
Título
- Comentários sobre o cinema brasileiro no Facebook
Resumo
- A pesquisa analisa sentidos que circulam sobre o cinema brasileiro em 1.060 comentários a respeito da campanha de valorização do audiovisual publicada na fanpage da Ancine no Facebook, em 2018. Os resultados foram organizados em 30 categorias preliminares, que revelam um posicionamento opositor dos usuários em relação ao cinema brasileiro e explicitam críticas sobre sexualização, violência, narrativas dramáticas, diálogos obscenos e comparações entre cinema brasileiro e Hollywoodiano.
Resumo expandido
- Em dezembro de 2018, a Ancine lançou uma campanha publicitária com foco na valorização do audiovisual brasileiro, composta por cinco vídeos postados na fanpage da agência no Facebook. O vídeo que aborda as qualidades da produção cinematográfica nacional atingiu, até março de 2019, mais de 10 milhões de visualizações, 66 mil reações, 12 mil compartilhamentos e 2.200 comentários (1.060 comentários diretos).
Desde a primeira leitura exploratória foi possível observar centenas de interações negativas sobre a produção fílmica brasileira na publicação. Percebe-se que os comentários não se direcionam especificamente sobre o vídeo publicitário ali apresentado (apenas 1,41% das interações referem-se diretamente à postagem), mas trazem manifestações mais amplas sobre o que os usuários pensam sobre o cinema nacional.
A partir deste objeto de referência, a proposta da pesquisa que vem sendo realizada é analisar os sentidos que circulam a respeito do cinema brasileiro na internet, tendo como observáveis os comentários realizados por usuários na postagem da Ancine no Facebook. Espera-se, a partir da verificação de um fenômeno comunicacional no contexto digital, compreender o que uma amostragem dos brasileiros “fala” sobre a produção cinematográfica do país.
As pesquisas sobre recepção e consumo audiovisual estão em desenvolvimento no Brasil e a existência de pesquisas que tenham como foco as percepções dos brasileiros sobre a indústria cinematográfica nacional ainda é escassa, sendo essa lacuna destacada por Bamba (2013) e atualmente reforçada também por Ribeiro, John e Lucas (2017), o que evidencia a importância do tema.
Metodologicamente, a pesquisa classifica-se como básica, qualitativa e baseada na Teoria Fundamentada, perspectiva em que a teoria emerge a partir da comparação, classificação e análise dos dados (FRAGOSO, RECUERO e AMARAL, 2011). Para tanto, foi inicialmente considerada a totalidade dos comentários, ou seja, 2.200 registros. Posteriormente, a amostragem foi reduzida às 1.060 interações diretas entre usuários e postagem e o material foi categorizado de acordo com procedimento desenvolvido por Oliveira (2014) e analisado a partir da sistemática proposta por Bardin (2016).
Sobre os resultados preliminares, percebe-se que os comentários expressam as disputas políticas presentes na conjuntura do cenário da publicação da postagem, ou seja, logo após as eleições de 2018. Há pistas de que os sentidos que circulam se direcionam às políticas públicas de fomento ao audiovisual e também sobre a atuação da Ancine de forma negativa. Em uma análise geral, entre as categorias de comentários definidas como “apoiadores, opositores, negociadores e que não se aplicam”, verifica-se que 67,35% das manifestações apresentaram oposição à pauta de valorização do cinema brasileiro.
Os dados provisórios observam que parte dos usuários qualificam o cinema nacional como sexualizado, violento e com palavreado obsceno. Destacam-se também críticas sobre a construção das narrativas, que na visão dos sujeitos, priorizam o drama em detrimento da ação.
Além disso, a comparação constante entre as obras nacionais e o cinema Hollywoodiano, este último sendo citado como “cinema de verdade”, pauta muitos comentários realizados. Além disso, muitos consideram os filmes nacionais esteticamente semelhantes às produções televisivas da Rede Globo, o que seria algo de qualidade inferior. A análise realizada até então encontrou 30 diferentes categorias de comentários, sendo as acima citadas as mais recorrentes. Os comentários de apoio à postagem são minoritários, mais extensos e procuram desenvolver uma argumentação de defesa ao cinema nacional.
Como encaminhamentos da pesquisa ainda serão feitas novas rodadas de categorização e de discussão dos resultados a partir da articulação entre os dados empíricos e teorizações sobre o cinema nacional, a partir de abordagens históricas, estéticas, produtivas e de recepção, de acordo com cada categoria.
Bibliografia
- BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
BAMBA, M. Teorias da recepção cinematográfica ou teorias da espectatorialidade fílmica? In: BAMBA, M. A recepção cinematográfica: Teoria e estudo de casos. Salvador: Editora da UFBA, 2013.
FRAGOSO, S.; RECUERO, R.; AMARAL, A. Métodos de Pesquisa para Internet. Porto Alegre: Sulina, 2012.
OLIVEIRA, Rodrigo Oliveira de. GAROTAS QUE JOGAM VIDEOGAME: Expressões de Identidades e Interações sobre Cultura Gamer no Facebook. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2014.
RIBEIRO, R.; JOHN, V.; LUCAS, H. Uma (necessária) agenda para os estudos da audiência fílmica. In: JACKS, N. et al. Meios e Audiências III: Reconfigurações dos estudos de recepção e consumo midiático no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2017.