Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Luisa de Castro Coimbra (UFRB)
Minicurrículo
- Professora do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CAHL/UFRB). Doutora em Artes, na linha de pesquisa em cinema, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do grupo de pesquisa GEEECA – Experiência Estética: Comunicação e Artes, da UFRB. É produtora audiovisual e foi curadora do Festival Fluxo-Fixo de Cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- Por uma tríade praiana: modos de existir-resistir no espaço e tempo
Resumo
- Ao aproximar Entre o Mar e o Tendal (1953), Por exemplo: Caxundé (1977) e Imagens do Xaréu (2007), trilhando pela análise comparatista, o objetivo deste trabalho é perceber, com os filmes, como a herança social e econômica pode ter legado para os moradores de uma determinada região litorânea de Salvador – historicamente reconhecida como um dos maiores pontos de desembarque de negros escravizados trazidos da África – desigualdades e fragilidades que ultrapassam o tempo presente.
Resumo expandido
- A partir de um gesto comparado, que tem como categorial central pensar um território em comum e a relação com quem o habita, este trabalho propõe a formação de uma série histórica composta pelos filmes Entre o Mar e o Tendal (1953), Por exemplo: Caxundé (1977) e Imagens do Xaréu (2007) objetivando observar “os problemas que estão sendo vividos no presente como parte de uma lógica que ultrapassa o presente e está, enfim, projetada historicamente” (XAVIER, 2003). Além disso, ao colocar essas obras em relação atenta-se para a possibilidade de suscitar análises tanto com relação “à leitura de cada filme quanto à leitura de movimentos mais abrangentes” (SOUTO, 2019) que decorrem a partir dessa aproximação.
A região litorânea de Salvador, na Bahia, que hoje se conhece como Boca do Rio e Armação – território retratado por essas produções documentais – foram um dos maiores pontos de desembarque de negros escravizados trazidos da África para o Brasil. Compreender a dinâmica desse espaço, construído por fixos (casas, os portos, comércios, plantações, etc.) e por fluxos (aquilo que dá movimento aos fixos) (SANTOS, 2007), é perceber como a atividade econômica e a herança social podem ter legado para essas pessoas desigualdades e fragilidades para seus modos de existência.
Inspirados pelo documentário Entre o Mar e o Tendal (1953), dirigido por Alexandre Robatto Filho, os diretores Marília Hughes e Cláudio Marques decidem revisitar a região pesqueira filmada na década de 1950, resultando no filme Imagens do Xaréu (2007). Ao apostar no cinema como um dispositivo capaz de recompor história e construir memórias, a produção robattiana é tomada como um guia, promovendo uma abertura para o presente filmado. Fundindo temporalidades, Entre o Mar e o Tendal é posto em cena e aparece projetado em uma grande tela branca para aquela comunidade pesqueira, cinco décadas depois. Para além de ressituar a obra de Alexandre Robatto Filho, já que se volta ao local filmado em 1953, busca-se com essa retomada das imagens mediar experiências, recompor tempos distintos, bem como rememorar a história, seja ela experienciada ou não. Através de depoimentos dos moradores remanescentes da antiga vila de pescadores, notam-se os conflitos vividos, bem como as dissonâncias e aproximações que unem diferentes gerações.
Essa localidade que estampa o primitivismo em que mora a gente da praia em suas pobres casas, conforme relatou Robatto Filho, aparece como um lugar de disputa em Por exemplo: Caxundé (1977), trabalho coletivo assinado por Antonio Cury, Eduardo Cabrera, Fernando Belens, Homero Teixeira, Maria Edna Oliveira, Pola Ribeiro, Romero Azevedo, com coordenação de Guido Araújo. Com uso do som direto e em tom de denúncia, a produção documental promoveu o debate sobre moradia em Salvador, buscando dar voz aos moradores da comunidade acometida por insistentes atos de violência decorrentes da expansão e cobiça do setor imobiliário.
A constituição dessa tríade, experimentada na curadoria do Festival Fluxo-Fixo, em parceria com a pesquisadora Izabel Cruz Melo, busca, portanto, dar a ver não somente as continuidades, rupturas, as problemáticas sociais, a força de trabalho e os corpos que habitaram esse espaço, como abre possibilidades, também, para pensar os procedimentos narrativos e imagéticos adotados por cada filme, que postos em uma perspectiva histórica revelam diferentes formas de fazer da produção cinematográfica brasileira.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Obras Escolhidas Volume I. São Paulo: Brasiliense, 1987.
COIMBRA, Ana Luisa. Rodar filmes, fazer cinema: Alexandre Robatto Filho e as imagens dos povos. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Filmar o real. Sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
MELO, Izabel de Fátima. Cinema, circuitos culturais e espaços formativos: novas sociabilidades e ambiência na Bahia (1968-1978). Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2007.
SOUTO, Mariana. Infiltrados e invasores – uma perspectiva comparada sobre relações de classe no cinema brasileiro. Salvador: Edufba, 2019.
XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.