Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Giulianna Nogueira Ronna (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PPGCOM/PUCRS (2019) – com incentivo de Bolsa CAPES. Especialista em Expressão Gráfica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS/FAU (2008).

Ficha do Trabalho

Título

    DESVIOS NA IMAGEM: A INSCRIÇÃO GRÁFICA NO FILME A PAIXÃO DE JL (2015)

Resumo

    Neste trabalho busco refletir a instância gráfica no cinema enquanto escrita-desvio, aproximando os conceitos de desvio em Deligny (2015) com reflexões acerca da palavra e da imagem. Realizo uma análise da instância gráfica no filme A Paixão De JL (2015) de Carlos Nader, expondo como a narrativa constituída a partir desta escrita sugere aquilo que não está visível, mas permanece latente na visualidade, funcionando como um ponto de fuga, um desvio na imagem.

Resumo expandido

    No percurso, em que a palavra escrita, os desenhos e os traços, quando vistos e lidos na visualidade, produzem aproximações e desestabilizações, esbarramos em um espaço amalgamado, carregado de atravessamentos mútuos entre o cinema e um tipo de escrita. Um ponto de fratura, uma linha de fuga na imagem cinematográfica, como sugere Conley (2016), capaz de fragmentar e perturbar a representação e a legibilidade do que é dado. Nesta relação entre o ver e o dizer, as palavras e os desenhos inscritos subvertem a ordem e a dependência puramente narrativa, colocando-se na mesma camada daquilo que promove reflexões e questionamentos acerca da forma e da linguagem.

    Uma vez duplicada, espelhada ou atravessada pela instância gráfica, a imagem passa a constituir-se, também, pelo movimento entre as formas ali inscritas, atribuindo à palavra uma outra qualidade exterior à sua simples representação. Ao cinema, cabe acolher este movimento, uma vez que destitui a escrita dos seus modelos miméticos, oportunizando uma distância entre o que é visto e o que é dito. Interessa, então, indagar como a palavra escrita e o traço gráfico, em suas variadas formas de contaminação, sobreposição e dissociação, modificam o fluxo narrativo, sua percepção, e o sentido do que é visto e do que é lido, introduzindo na visualidade, na simetria e na regularidade, rupturas e desvios.

    Para tanto, trago uma reflexão acerca do filme A paixão de JL (2015) de Carlos Nader, no qual identifico uma visualidade fraturada pelos elementos gráficos ali inscritos, na qual desenhos, memórias, citações e anotações, bem como gestos de escrita, são misturados a arquivos pessoais e arquivos históricos, com referências diversas, resultando em uma plasticidade, uma espessura temporal, a qual, ordenada pela montagem, irá borrar as fronteiras entre o biográfico e o autobiográfico, o público e o privado, o documentário e a ficção. Construções que parecem se debruçar sobre si mesmas questionando seus limites representativos, expondo excessos, textos submersos e imprevisibilidades.

    Ao aproximar arquivos históricos aos gestos biográficos, aquilo que é narrado passa por uma ressignificação em ambas as dimensões, uma vez que os documentos ali reinscritos, tomam outro sentido, passando por um agir que expõe não somente a imprevisibilidade do arquivo, como questiona a predominância da palavra e também da imagem, aproximando-se daquilo que para Fernand Deligny (2015) resiste, atravessa, falta e ao mesmo tempo se impõe, quando a imagem aponta para aquilo que está fora, além dos limites do quadro, como algo que, ao mesmo tempo, revela, como também isola e reserva.

    Se para Deligny (2015) as imagens contaminadas pelo peso dos sentidos e dos discursos, tendem a uma imobilidade contrária a sua asserção originária, é preciso destituí-las dessas camadas, abrindo o acesso àquilo que está fora da linguagem. Para o autor, está no cinema, ao proceder por desvios, a circunstância ideal para uma aproximação do que seria essa visualidade. O que acontece “no meio”, no intervalo, ou naquilo que falta, no ausente, fora do quadro, entre o filme e o espectador e, ao mesmo tempo, aparece enquanto traço permanente, como repetição, uma forma de se aproximar do em um sistema de permanentes tensões, um vir a ser de uma imagem que não se reduz aquilo que pode ser visto, mas que está sempre na imanência de tornar algo visível.

    Dito isto, a proposição é de que estamos diante de uma escrita-desvio, algo que se coloca como uma dupla inscrição, servindo à narrativa, e também favorecendo o caráter disjuntivo na visualidade, algo que se dá no intervalo, naquilo que falta ou naquilo que resta. Desta forma, busco entender quais as implicações estéticas e políticas emergem da inscrição gráfica e tipográfica na imagem sujeita a transformações, releituras e sobrevivências.

Bibliografia

    CONLEY, Tom. O filme acontecimento. In:ROWLAND, Clara; CONLEY, Tom. Falso Movimento: ensaios sobre escrita e cinema. Lisboa:Cotovia, 2016.

    DELIGNY, F. O aracniano e outros textos. São Paulo: n-1 edições, 2015.

    DUARTE, Susana. Filme ensaio e contra-arquivo. In:ROWLAND, Clara; CONLEY, Tom. Falso Movimento: ensaios sobre escrita e cinema. Lisboa:Cotovia, 2016.

    GAGNEBIN, J. M. O método desviante: algumas teses impertinentes sobre o que não fazer num curso de filosofia. 2006. Disponível em: http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2807,1.shl . Acesso em 15 de Janeiro de 2021.

    LIMA MELO, Thalita Carla. A Escrita-desvio em Fernand Deligny. In: Cadernos Deligny, Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2018. Disponível em https://cadernosdeligny.jur.pucrio.br/index.php/CadernosDeligny/article/view/ Acesso: 12 de Janeiro de 2021

    ROWLAND, Clara. A Escrita No Cinema: ensaios. Lisboa: Documenta. 2015