Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Cristina Mendes (UEPG/ UNESPAR)
Minicurrículo
- Docente no PPG CINEAV – UNESPAR e no curso de Artes Visuais – UEPG. Doutora (2014) e Mestre (2010) em Comunicação e Linguagens – UTP, Especialista em História da Arte do século XX (2000) e Bacharel em Pintura (1984) – EMBAP. Membro dos Grupos de Pesquisa: “Eikos, imagem e experiência estética”- UNESPAR, “Educação Estética, Trabalho e Sociedade” – UTP e Interart: interação entre Arte, Ciência e Educação: diálogos e interfaces com as Artes Visuais – UEPG.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema e Arte-Educação: Basquiat – traços de uma vida
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- O filme Basquiat- traços de uma vida (Julian Schnabel, 1996) recria a vida do primeiro grafiteiro negro norte-americano que se transforma em celebridade internacional. Os entrelaçamentos de sentido criados pelo diretor possibilitam aproximações entre história da arte popular com bases cinematográficas e a Arte-Educação. Busca-se evidenciar, no confronto entre biopic e dados concretos da vida do artista, contribuições para o ensino das Artes.
Resumo expandido
- O filme Basquiat, traços de uma vida (Julian Schnabel, 1996) narra a trajetória do primeiro grafiteiro negro norte-americano a se tornar celebridade no circuito artístico internacional. Ao longo do filme, as permutas entre o Neo-Expressionismo de Basquiat (1960-1988), interpretado por Jeffrey Wright (1965), e a Pop-Art de Andy Warhol (1928-1987), papel dado a David Bowie (1947-2016), conduzem a relevantes abordagens no ensino das Artes Visuais. A narrativa criada por Schnabel, a partir do convívio com Basquiat, Warhol e outras personagens do filme, possibilita estratégias discursivas nas quais distintas camadas de sentido se sobrepõem, multiplicando as possibilidades de interpretação. As pinturas de Basquiat que aparecem no filme foram feitas por Schnabel, as de Andy Warhol são originais e outras obras de arte fazem parte do acervo do diretor. Schnabel, sob o alter ego de Albert Milos, encontra Basquiat em momentos fílmicos decisivos, criando enigmáticos entrelaçamentos de sentido. Diante de tais constatações, o objetivo geral da pesquisa é destacar o papel do filme biográfico de Basquiat na difusão da história da arte e identificar a parcialidade do ponto de vista de Schnabel na recriação da vida do artista. O interesse na análise se justifica porque o filme possibilita abordagens didáticas, integrando e aproximando Arte- Educação e o grande público do Cinema. O recorte metodológico se concentra na análise fílmica que, em confronto com dados históricos, permite a formação de cidadãos críticos e autônomos, capazes de estabelecer diálogos libertadores, no que concerne a uma formação ainda calcada no patriarcado e assombrada pelo racismo. De acordo com Paulo Freire (2014), o professor deve atuar como um guia e ser uma fonte de inspiração; para Herbert Read (2016), o professor deve valorizar os aspectos da auto-expressão, da observação e da apreciação, elementos que permitem identificar e compreender a expressão estética. No que concerne às biopics, ou seja, às biografias cinematográficas, Dóris Berger (2002) pontua que as vidas de pintores criam uma história da arte popular na qual se potencializa a ideia de que o artista é um gênio, conceito abandonado nas teorias artísticas desde que Walter Benjamin (1996) coloca em xeque a presença aurática do artista. A abordagem que prioriza a genialidade de Basquiat indica um descompasso temporal entre teorias da arte e realização de filmes. A ausência de um paralelismo entre pintura e cinema, contudo, potencializa o valor de seus possíveis cruzamentos (AUMONT, 2004), apresentando questões relevantes para a investigação das teorias cinematográficas. As biopics hollywoodianas, que costumam valorizar aspectos míticos do protagonista, narram, na forma do melodrama, a ascensão e a queda do biografado, culminando com sua morte. Ao enfatizar o efeito dos filmes na historização que existe fora deles e ao reconhecer que os filmes possibilitam um olhar para a história da arte sob um novo ponto de vista, Berger identifica amalgamentos entre arte, artistas e filme. Este caráter interdisciplinar da abordagem fílmica, que poderia resolver alguns dos conflitos entre arte, educação e entretenimento, permite o seguinte questionamento: considerando que a história popular da arte se nutre de biografias de artistas que circulam nos cinemas de massas, quais as contribuições do filme de Schnabel para o ensino da arte? Os vínculos cinematográficos com uma história da arte com bases patriarcais criam narrativas nas quais o estrelato se sobrepõe à vida do artista, subvertendo acontecimentos e criando realidades próprias que desempenham, para o público de massas, o conhecimento da história da arte. A partir de tais considerações, é relevante pontuar que o cinema hollywoodiano, submetido a convenções dramáticas e ficcionalização, ao inter-relacionar biografia de artista e cultura popular, tem fundamental importância para a Arte-Educação.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. O olho interminável [cinema e pintura]. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
BASQUIAT, Jean-Michel. Disponível em: http://www.basquiat.com. Acesso em: 12 mar. 2021.
BENJAMIN. Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense. 1996.
BERGER, Doris. Projected Art History: Biopics, Celebrity Culture, and the Popularizing of American Art. New York: Bloomsbury, 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra: Rio de Janeiro. 2014.
READ, Herbert. A Educação pela Arte. São Paulo: Martins Fontes. 2016.
SCHNABEL, Julian. Jean-Michel Basquiat – traços de uma vida. 108min. Cor. 1996. Disponível em:. Acesso em: 10 mar. 2021.