Ficha do Proponente
Proponente
- Silvia Helena Cardoso (UNIFESSPA)
Minicurrículo
- Silvia Helena Cardoso, artista, antropóloga e professora universitária; Doutora em Artes/Poética Visual e Mestre em Multimeios/Antropologia Visual, IA/UNICAMP; Bacharel em Ciências Sociais/Antropologia Social, FFLCH/USP; Fotógrafa, Filmmaker e Viajante; Atualmente, é professora universitária no curso de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará/UNIFESSPA, onde ministra disciplinas em Linguagem Fotográfica, Linguagem Audiovisual e Poética Visual.
Ficha do Trabalho
Título
- Sérgio Muniz, uma obra entre o Documento e o Filme Ensaio.
Resumo
- O artigo analisa o percurso cinematográfico do artista e cineasta brasileiro Sérgio Muniz a partir dos filmes: Roda e Outras Estórias (1965) e De raízes & rezas, entre outros (1972). As obras evidenciam uma matriz experimental aliando os registros fílmicos, as artes populares, a música brasileira, a montagem não linear. O Cinema Documentário, o Cinema Experimental, o Cinema de Autor e o Filme Ensaio são repertórios teóricos e estéticos abordados.
Resumo expandido
- Sérgio Muniz (1935), artista e cineasta, entra para a História do Cinema Brasileiro com filmes dirigidos e produzidos a partir dos anos 60. Nas projeções cinematográficas na Cinemateca conheceu vários cineastas e profissionais envolvidos com o audiovisual, destacando-se: Jean-Claude Bernardet (1936), Vladimir Herzog (1937/1975), Maurice Capovilla (1936), Fernando Birri (1925/2017), Rui Santos (1916/1989), Geraldo Sarno (1938), enfim os “gigantes do cinema latino-americano”. Em depoimento ao Museu da Pessoa afirmou que sempre assistiu filmes e logo interessou-se por montagem. Em processo de formação, Sérgio Muniz integrou a Caravana Farkas ao lado do cineasta e fotógrafo Thomaz Farkas (1924/2011), produzindo os primeiros documentários. Paralelamente, Muniz fez o seu primeiro filme documentário de curta-metragem – Roda e Outras Estórias (1965), inserido no selo Cinema de Cordel, uma alusão a Literatura Nordestina. Este curta-metragem é constituído por filmagens de xilogravuras, bonecos em argila do Mestre Vitalino do Alto do Moura em Caruaru/Pernambuco, filmagens históricas de Lampião e Maria Bonita, entre outros registros de diferentes cineastas. O filme é conduzido por músicas de Gilberto Gil (1942), agregando ritmo, força e energia ao documentário, além de contextualizar o argumento: o deslocamento da população nordestina para o sudeste do Brasil, na chave do sertão para a cidade, lançando questionamentos sobre o processo migratório e o enriquecimento do estado paulista. Em outra obra, Muniz assinou a direção e a montagem do filme de média metragem “De raízes & rezas, entre outros” (1972). Neste documentário, o trabalho concentrou-se na região do sertão e caatinga, desde Juazeiro do Norte/Ceará até Santa Brígida/Bahia, e procurou focar a medicina tradicional a partir dos remédios naturais – as raízes – vendidos nas feiras populares, somando o cotidiano, os diferentes “personagens”, a cultura nordestina propriamente. O filme se inicia com uma canção em espanhol, o que dá margem para vislumbrar certa intenção e aproximação entre o Brasil e os Países Latinos. Vale afirmar que o repertório musical, como em Roda e Outras Estórias, é intenso e se dilui entre as sequências fílmicas. A música no Cinema de Sérgio Muniz tem um papel não só poético, como também de condução do sentido do filme. A voz off tem lugar nesta obra, aparecendo como questionamentos, mas sem exageros, porque as imagens em movimento, assinadas pelos fotógrafos Jorge Bodansky (1942), Affonso Beato (1941) e Thomaz Farkas, têm prioridade. Na montagem, duas entrevistas ganham força: o vendedor de raizes que afirma ter desenvolvido conhecimento por trabalhar nas feiras e sem a presença de professor, e a rezadeira com algumas orações para fins de cura. “Entre Outros” no título são os temas secundários presentes no filme, tais como: a migração, as festas e manifestações culturais, o trabalho em couro necessários aos vaqueiros e cavaleiros, isto é, para os homens do cangaço. Desta forma, procuramos identificar certo “fazer expandido” no universo do Filme Documentário: os filmes de Sérgio Muniz estão fora de um conceito estreito para Documentário, isto é, apresentam uma poética tentacular unindo várias estéticas: a musical, a arte bi e tridimensional, a linguagem cinematográfica com padrões rompidos (a forte presença da câmera na mão), a montagem como segunda direção e sem linearidade. Assim, buscamos entender os filmes de Muniz, as duas obras analisadas, a partir do pioneiro Chris Marker (1921/2012) com seus documentários pessoais, como filmes diários. Para auxiliar na análise tanto Arlindo Machado (1949/2020), como Bill Nichols (1942) emprestam repertório teórico basilar para a cinematografia documental que desde os primórdios, à luz de Dziga Vertov (1896/1954), já ensaiava uma linguagem poética, sem furtar os sentidos, os argumentos, os assuntos trabalhados e significados das sequências produzidas na moviola.
Bibliografia
- Museu da Pessoa. O encadeamento de casualidades – História de Sérgio Muniz. Publicado em 22/06/2020. https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/historia/o-encadeamento-de-casualidades-171246/colecao/www.museudapessoa.net. Acesso em 14/novembro/2020.
Ramos, Guiomar; Murari, Lucas. Fragmentos de uma história do cinema experimental brasileiro. In: Ramos, Fernão Pessoa. Nova história do cinema brasileiro. Fernão Pessoa Ramos; Sheila Schvarzman. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018. 600 p. V. 2. pp. 266-287.
DE RAÍZES & Rezas, entre outros. Direção de Sérgio Muniz. São Paulo: Caravana Frakas, 1972. 1 vídeo (38 min.), PB, 35 mm. Disponível em https://www.thomazfarkas.com/filmes/de-raizes-rezas-entre-outros/. Acesso em: 10 abr. 2021.
RODA e Outras Histórias. Direção de Sérgio Muniz. São Paulo: s/p, 1965. 1 vídeo (9 min.), PB, 35mm. Disponível em https://www.thomazfarkas.com/filmes/roda-e-outras-historias/. Acesso em: 14 nov. 2020.