Ficha do Proponente
Proponente
- LAIZ MARIA DOS SANTOS DE MESQUITA SOUZA (UFBA)
Minicurrículo
- Mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas
Especialista em Docência no Ensino Superior
Bacharela em Artes com ênfase em Cinema e Audiovisual
Bacharela em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo
Ficha do Trabalho
Título
- A cinematografia de Vittorio Storaro em filmes de Woody Allen
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Resumo
- Este trabalho investiga a contribuição do diretor de fotografia Vittorio Storaro para a obra de Woody Allen, a partir de análise comparativa, tendo em vista um corpus principal formado por Café Society (2017) e Roda Gigante (Wonder Wheel, 2018), ambos filmes de época com fotografia assinada por Storaro, e um corpus secundário, composto por 7 filmes, também ambientados no passado, dirigidos por Allen, mas com a contribuição de outros diretores de fotografia.
Resumo expandido
- Não se faz necessário assistir mais que os trailers de Café Society (2017) e Roda Gigante (Wonder Wheel, 2018) para perceber que, sendo filmes dirigidos por Woody Allen, algo diferente se apresenta na composição destas imagens. Apesar das temáticas, enredos, personagens e tramas típicas do diretor, a fotografia nos parece conter alguns elementos novos, ou não tão comuns, ao estilo visual de Allen. Acreditamos que isto se deve à parceria iniciada com seu atual diretor de fotografia: Vittorio Storaro.
Nesta pesquisa, portanto, nos dispusemos a uma investigação acerca da contribuição de Storaro na cinematografia dos filmes dirigidos por Allen. Buscamos, neste intuito, articular o pensamento de diferentes teóricos para embasar análises a partir do estudo das poéticas destes dois artistas a fim de compreender seus estilos e as contribuições do diretor de fotografia para o desenho imagético dos filmes Café Society e Roda Gigante.
A partir de dois corpus de estudo, um principal formado por Café Society (2017) e Roda Gigante (Wonder Wheel, 2018), ambos filmes de época com fotografia assinada por Storaro, e um corpus secundário, composto por 7 filmes, também ambientados no passado, dirigidos por Allen, com contribuição de outros diretores de fotografia, assumimos como dispositivos de observação (Aumont e Marie, 2013; Vanoye e Goliot-Lété, 1994) os recursos de luz e sombra, movimentos de câmera, e cores. A divisão por aspectos fotográficos atendeu unicamente a uma necessidade organizacional para o desenvolvimento das análises, não pretendendo, de forma alguma, tratá-los como elementos dissociáveis.
O processo de análise teve como suporte teórico-metodológico o paradigma problema-solução, tal como construído a partir dos estudos de Michael Baxandall (2006) sobre os vestígios de intenção e das reflexões de David Bordwell (2008; 2013) acerca do estilo cinematográfico. A jornada analítica nos permitiu perceber que as estratégias estilísticas de Vittorio Storaro afetam e modificam a poética visual de Allen nas dimensões denotativa, expressiva, simbólica e decorativa das obras. Podemos observar ainda a presença do que Baxandall (2006) define como troc, pois além da interação cultural e artística decorrente da relação entre Storaro e Allen, ambos estabelecem uma relação intertextual com diferentes artistas e movimentos artísticos, adicionando, no entanto, suas próprias contribuições criativas.
Na dimensão teórica, realizamos um exame do estado da arte da fotografia cinematográfica no Brasil e estabelecemos um quadro teórico conceitual a partir de noções e categorias de estilo propostas por Bordwell e Baxandal. A relação triangular entre encargos/diretrizes, descrição, e recursos nos acompanhou durante todas as análises desenvolvidas.
Com o objetivo de refletir acerca das funções do(a) diretor(a) de fotografia na realização de um filme, assim como sobre as diferentes possibilidades de relacionamento entre estes e os cineastas, analisamos depoimentos de Storaro, Allen e diversos outros profissionais e/ou pesquisadores da área. Ampliando essa discussão, abordamos a questão do reconhecimento do(a) diretor(a) de fotografia como coautor(a) de filmes, iniciada na Itália desde 1981, relacionando-a com estudos acerca da autoria e articulando com a própria metodologia utilizada nesta pesquisa, que procede da noção de estilo.
Tendo a direção de fotografia como nosso foco de interesse e compreendendo a imagem cinematográfica como resultado de uma parceria entre diretor(a) de fotografia e diretor(a), investimos em compreender esta relação através da ótica de diversos diretores de fotografia. Assim, foi possível descobrir diferentes poéticas e frequentes estratégias de relacionamento.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A Análise do Filme. Lisboa: Texto & Grafia, 2013.
BAXANDALL, Michael. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo/Companhia das Letras, 2006.
BROWN, Blain. Cinematography: Theory and practice. New York: Routledge, 2016
BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: 11Papirus, 2008.
BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
CÉSPEDES, Camenrosa Vargas. A linguagem da luz. Rio de Janeiro, RJ: Universidade Federal de Rio de Janeiro, 2004.
COSTA, Maria Helena Braga e Vaz da. Cores & filmes: um estudo da cor no cinema. Curitiba, PR: CRV, 2011.
MOURA, Edgar. 50 Anos luz, câmera e ação. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001.
MOURA, Edgar. Da cor. Santa Catarina: iPhoto Editora, 2016.
STORARO, Vittorio. L’Arte della Cinematografia/The Art of Cinematography. Milano: Skira Editore, 2013.