Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Tadeu Barbuto Bousada (UFES)

Minicurrículo

    Mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); bolsista Capes. Pesquisador na área de Comunicação, Cinema e Estudos Culturais, sendo integrante dos grupos de estudo Corpo, afeto e sensorialidade nos meios audiovisuais (UFES) e Núcleo de estudos do excesso nas narrativas audiovisuais (NEX-UFF). Graduado em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Redator e roteirista.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema e Cidade Armário: a representação da experiência queer.

Resumo

    O trabalho em questão volta-se para a compreensão do termo “cidade-armário”, enquanto categoria analítica, pensando não somente o espaço urbano como uma produção discursiva da heternormatividade, mas à sua revelia, as possibilidades de organização social dissidentes produzidas. O cinema transnacional será objeto de análise, em que buscar-se-á investigar, através da seleção de filmes contemporâneos, a experiência ética e estética da cidade pela perspectiva de corpos queer no mundo periférico.

Resumo expandido

    O que a paisagem urbana diz sobre a estrutura da cidade? Acostumamos a associar o termo “paisagem” aos aspectos visuais que compõem um determinado espaço físico delimitado. Quando pensamos a paisagem das metrópoles brasileiras, por exemplo, logo nos vem à cabeça, inúmeros elementos comuns ao interstício urbano: edifícios distribuídos em largas avenidas, onde circulam inúmeras pessoas como verdadeiros formigueiros sociais. Mas será que através desse olhar conseguimos compreender a leitura da paisagem urbana feita por todas e todos que nela habitam?
    Certamente, não. Em primeiro lugar, porque tal forma de interpelar o conceito de paisagem estigmatiza a percepção sobre a cidade, como se ela fosse ordenada por direcionamentos unilaterais. Na verdade, essa é a ideia que tentam nos vender, mesmo estando os interditos urbanos, de espaços a corpos marginalizados, escancarados em uma simples caminhada pelas ruas. Pensando o movimento antitético centro/periferia ainda mais volúvel em territórios que estão longe de estancar as heranças do colonialismo eurocêntrico, nossas cidades reafirmam paradigmas de uma cultura patriarcal e classista. Sobre os preceitos de Glória Anzáldua (1987), a cultura conforma as nossas crenças segundo paradigmas considerados imutáveis, estabelecidos em forma de leis e normas dominantes. Quem se beneficia com isso são, sobretudo, os homens responsáveis por naturalizar tais regras, enquanto cabe as mulheres e outros grupos o dever de reproduzi-las com fidelidade.
    Outro ponto a ser considerado é a percepção subjetiva que temos em relação a cidade, pois cada qual recepciona seus discursos e acessa os mapas culturais urbanos em conformidade com a posição que ocupa segundo os parâmetros de classe e identidade dominantes. Por isso, preferimos nos ater a ideia de paisagem tal qual um complexo campo discursivo; “uma estrutura social de inteligibilidade dentro da qual todas as práticas são comunicadas, negociadas e desafiadas” (Silva, 2008, p.4). A cidade aloca múltiplos fluxos de informação e eventos sociais, balizados por alicerces culturais hegemonizados. Isso explica porque a experiência de paisagem urbana, vivenciada por homens de classe média, não se dá nas mesmas condições que ilustram a realidade de mulheres suburbanas, muito menos, é capaz de expressar a subjetividade de pessoas que não assimilam os signos e códigos de um território marcado por uma dualidade despótica. Em concomitância com Buttler (2013 [1990]), as relações culturais de poder que marcam a diferenciação dos papéis sociais entre gêneros são expressas, sobretudo, pela linguagem. Não à toa, grande parte dos idiomas ocidentalizados apresentam um teor masculinista, generalizando a experiência feminina em suas cadeias de linguagem. Vamos além, ao pensar outras possibilidades de afirmação social, através da identidade, que não conseguem ser estaticamente nomeadas. Ora, se elas não existem para os vocabulários que reproduzem os paradigmas culturais a partir das práticas comunitárias, elas não conseguem ser absorvidas pela cidade e suas estruturas sociais.
    Tendo em vista esses apontamentos, a proposta de trabalho a ser apresentada busca pensar os complexos urbanos a partir da expressão “cidade-armário”, que representa não só as estruturas que fazem das cidades uma experiência cisgênera e heteronormativa, mas as formas de organização social produzidas no contra reflexo do seu território. Tendo o cinema contemporâneo transnacional como objeto de análise discursiva e estética, procuramos a compreensão da materialidade fílmica confeccionada sobre a perspectiva do corpo queer em periferias do mundo. Títulos como Meu Nome é Bagdá (Caru Alves de Souza, 2020), E Então Nós Dançamos (Levan Akin, 2019) e Tinta Bruta (Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, 2018) serão utilizados nesse sentido, onde procuraremos expor além dos seus discursos, as nuances estéticas que reafirmam experiências de “desidentificação” (Muñoz, 1999) de corpos dissidentes no espaço urbano.

Bibliografia

    ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La frontera: the new mestiza. 4 ED. San Francisco:
    Aunte Lute Books, 2012.

    BUTLER, Judith. Deshacer el género. Tradução de Patrícia Soley-Beltran. Barcelona: Paidós, 2006.
    _____Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio
    de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

    HALL, Stuart. A questão multicultural. In. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

    MUÑOZ, José Esteban. 1999. Disidentifications: queers of color and the performance of politics. London: University of Minnesota Press.

    SEDGWICK, Eve Kosofsky. “A epistemologia do armário”. In: Cadernos Pagu, v. 28, n. 1, p. 19-54,
    jan. -jun. 2007

    SILVA, Joseli Maria. “A cidade dos corpos transgressores da heteronormatividade”. In: Geo UERJ.
    Rio de Janeiro, ano 10, v. 1, n. 18, p. 3-19, 1º semestre de 2008.

    VIEIRA JR., E. Realismo sensório no cinema contemporâneo [recurso eletrônico]. Vitória, ES: EDUFES, 2020.