Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Laura Loguercio Cánepa (UAM)

Minicurrículo

    Doutora em Multimeios pela UNICAMP (2008) e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (desde 2009).

Ficha do Trabalho

Título

    ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO e tendências do horror brasileiro nos anos 2000

Resumo

    Buscamos apontar o mosaico de referências que parece ter moldado a concepção do longa-metragem Encarnação do Demônio (José Mojica Marins, 2008) para além dos filmes anteriores de Zé do Caixão, nos anos 1960: as múltiplas encarnações do personagem na indústria cultural; o culto ao cineasta pela cultura underground e trash; o diálogo com franquias de horror internacionais; a tendência à espetacularização da violência no cinema brasileiro do começo dos anos 2000.

Resumo expandido

    Encarnação do Demônio (José Mojica Marins, Brasil, 2008, 94 min) foi um filme aguardado por quarenta anos como encerramento da trilogia de Zé do Caixão iniciada nos anos 1960 (com o lançamento de À Meia Noite Levarei sua Alma, em 1964, e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, em 1967). O filme de 2008 teve repercussão de público muito inferior à de seus antecessores, mas parece ter tido um papel decisivo para estabelecer os variados caminhos que o horror cinematográfico brasileiro trilhou desde então.

    Esta comunicação propõe uma análise de Encarnação do Demônio traçando o mosaico de referências que parece ter moldado a concepção e realização do filme para além dos longas do personagem da década de 1960. Entre essas referências, encontram-se as diferentes tendências de fandom ao redor de Mojica desde os anos 1990; a cultura heavy metal (que viu referências ao personagem até no emblemático álbum Roots, da banda Sepultura, em 1996); a influência das franquias de torture porn sobre o consumo de cinema de horror no Brasil nos anos 2000; os filmes nacionais dedicados ao tratamento espetacularizado da criminalidade (como Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, 2002 e Tropa de Elite, de José Padilha, 2007); a cinefilia voltada ao horror e ao cinema extremo que teve um crescimento significativo com a popularização da internet no Brasil a partir do final dos anos 1990.

    Encarnação de Demônio foi um filme idealizado por jovens cineastas do período (como Dennison Ramalho, Paulo Sacramento e Kapel Furman), que resgataram o roteiro original escrito nos anos 1960 sobre o jovem serial killer interiorano Zé do Caixão, e reposicionaram esse mesmo vilão em uma favela paulista dos anos 2000, após quarenta anos de prisão na Casa de Detenção do Carandiru – local cuja história dera origem ao documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento, 2003), cuja equipe, em parte, esteve responsável pela concepção de Encarnação do Demônio.

    A presente proposta é um exercício crítico exploratório que buscará compreender o horror cinematográfico brasileiro no momento de inflexão representado pelo filme de Mojica – momento a partir do qual houve uma articulação entre cineastas, críticos e público, por meio de mostras de filmes, festivais, dossiês jornalísticos e pesquisas acadêmicas voltados à produção brasileira no gênero, possibilitando a constituição de um espaço progressivamente mais relevante na cultura cinematográfica e no cinema nacional. Propomos, assim, uma leitura de Encarnação do Demônio que localize o filme em seu diálogo com o momento histórico, político e cinematográfico do Brasil em 2008, buscando fugir à leitura nostálgica que por vezes caracteriza a discussão sobre a obra de Mojica.

Bibliografia

    CASTELLANO, Mayka. “Quero ser José Mojica”: o circuito de produção trash independente. Revisra Contracampo n. 21, Niterói, Ago. 2010, pp. 145-159.

    DUNKER, Christian. Mal-estar, sofrimento e sintoma: Uma psicopatologia do Brasil entre-muros. São Paulo: Boitempo, 2015.

    LOWESTEIN, A. Schocking Representation: Historical trauma, national cinema and the modern horror film. Columbia University Press: 2005.

    NAGIB, Lúcia. A utopia no cinema brasileiro: matrizes, nostalgia, distopias. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

    SCHØLLHAMMER, K.E. “Para uma crítica do realismo traumático”. Revista Soletras UERJ: Rio de Janeiro, 2012, n.23, pp. 19-28.

    VALENCIA, Sayak. Capitalismo Gore. Barcelona: Melusina, 2010.

    XAVIER, Ismal. Da Violência Justiceira À Violência Ressentida. Revista Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 51, 2006, p.55-68.