Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Camilo Soares (UFPE)

Minicurrículo

    Camilo Soares é professor de Cinematografia do curso de Cinema e Audiovisual da UFPE e doutor pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É diretor de fotografia de filmes como King Kong en Asunción (Camilo Cavalcante, 2020, Kikito de Melhor Filme no Festival de Gramado 2020), Beco (Camilo Cavalcante, 2019), Mesa Vermelha (Tuca Siqueira, 2012). Co-dirigiu com Alcione Ferreira o documentário Muribeca (2020). Publicou “L’espace Immatériel dans le cinéma de Jia Zhangke”(L’Harmattan, 2020).

Ficha do Trabalho

Título

    A paisagem nos documentários de Jia Zhangke como dialética da imagem

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Resumo

    O presente trabalho pretende observar como a direção de fotografia nos documentários de Jia Zhangke reforça a paisagem como uma abertura semântica capaz expandir a narrativa e os elementos informativos para propor um olhar ativo e emancipado do espectador. Discorreremos como tal dialética estabelecida entre representação, mundo e observador é capaz de propor uma reconfiguração hierárquica do olhar e um engajamento político pela estética.

Resumo expandido

    O presente trabalho pretende observar como a direção de fotografia nos documentários de Jia Zhangke reforça a imagem da paisagem como uma abertura semântica capaz expandir a narrativa e os elementos informativos para propor um olhar ativo e emancipado do espectador. Os filmes frutos da parceria de Jia Zhangke e seu fotógrafo Yu Likwai tornaram-se famosos por testemunharem as grandes transformações da China nas últimas décadas: transformações sociais, econômicas e ambientais. De “Dong” (2006) a “Swimming out till the Sea Turns Blue” (2020), passando por “Inútil” (2007), “24 City” (2008), “Memórias de Xangai” (2010), seus documentários parecem sempre impor uma tensão imagética entre a realidade objetiva do meio e a subjetividade de um olhar incitado a um registro mais livre e criativo, ou seja, um olhar capaz de habitar e perambular nesse espaço representado (LIU). É na paisagem que essa tensão parece ser mais evidente, criando uma interessante ambivalência na representação da espacialidade chinesa atual. Nessa visão, a fotografia desses filmes dialoga com uma abordagem não linear da História da Arte (WARBURG, DIDI-HUBERMAN) para expressar uma temporalidade inseparável de formas e sentimentos presentes na paisagem. Pretendemos, assim, analisar o papel da paisagem em seus documentários como uma abordagem multifacetada, observando multicamadas de tempos e linguagens que constroem, a partir da técnica da cinematografia, uma imagem capaz de abrir ao mundo uma dialética que transcende a narração, caracterizando, assim, um instrumento expressivo, filosófico e político puramente estético. A partir das ferramentas do cinema, Jia Zhangke e Yu Likwai tomam por meio de um amálgama de múltiplas camadas e linguagens, assim como a pintura, a fotografia, a literatura (MELLO, SCHULTZ), elementos para construir uma ampla representação espacial no cinema, como meio de possibilitar a apreensão da complexidade de suas marcas, nuances e significados históricos e atuais. Para tanto, buscaremos entender o histórico da expressão paisagística na China, sobretudo a pintura de shanshui (JULLIEN), que aborda, a partir de procedimentos ligados primeiramente à caligrafia, o elemento da montanha e da água para expressar um fluxo contínuo de transformações no universo. Tal impermanência busca desobstruir o olhar, chamando o espectador a uma atuação ativa ou emancipada (RANCIÈRE) para participar da construção da representação desse espaço. Tal dialética estabelecida entre representação, mundo e observador, é capaz de propor uma reconfiguração hierárquica do olhar a partir de um espaço imaterial (SOARES) de representação ativa, invertendo, assim, a posição observador-objeto, sujeito-predicado, eu-mundo e requalificando a relação ao outro, ao mundo e a si mesmo. Essa relação de Jia/YU com o documentário evidencia uma estética cinematográfica que dilata as possibilidades de interpretação da realidade.

Bibliografia

    Camilo Soares é professor de Cinematografia do curso de Cinema e Audiovisual da UFPE e doutor pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É diretor de fotografia de filmes como “King Kong en Asunción” (Camilo Cavalcante, 2020, Kikito de Melhor Filme no Festival de Gramado 2020), “Beco” (Camilo Cavalcante, 2019), “Mesa Vermelha” (Tuca Siqueira, 2012). Co-dirigiu com Alcione Ferreira o documentário Muribeca (2020). Publicou “Poesia, Mesa de Bar e Goles Decadentes – Descaminhos de três poetas marginais do Recife” (Nektar, 2013), “L’espace Immatériel dans le cinéma de Jia Zhangke – une politique du regard“ (L’Harmattan, 2020), “Palavras Sujas Sobre Azulejos Brancos” (Trevo, 2021).