Ficha do Proponente
Proponente
- Arthur Medrado Soares Araujo (UFF)
Minicurrículo
- Doutorando(PPGCine/UFF). Mestre em Educação e Bacharel em Jornalismo (UFOP) com mobilidade na UNLP/Argentina. Com a Olhares (im)Possíveis conquistou o 3º Lugar no 6º Premio AMAERJ- Patrícia Acioli de Direitos Humanos (Categoria Práticas Humanísticas). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Educação, atuando principalmente com: audiovisual, processos subjetivos, cinema e clínica, metodologias qualitativas e colaborativas e educação patrimonial. Faz parte do Kumã (UFF)
Ficha do Trabalho
Título
- Olhares (Im)Possíveis: cartografia de Contra-monumentos em Ouro Preto
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- Abordaremos o projeto que desde 2017 propõe encontros com crianças e adolescentes de Ouro Preto a partir de imagens e processos de produção de um filme, realizado de forma remota durante 2021. As experiências recortadas dessa pesquisa-intervenção permitem evidenciar os contra-monumentos criados no processo: funcionamentos que se opõem à lógica territorializada do monumento instituído na cidade cartão postal a partir de processos subjetivos do cinema como prática de cuidado na educação.
Resumo expandido
- Ouro Preto é reconhecida como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco, uma cidade cheia de contradições. A cidade Cartão Postal é uma invenção moderna para consagrar a “arte brasileira genuína”. Em 2017 começamos uma série de oficinas e intervenções com o projeto Olhares (im)Possíveis e as atividades aconteceram em sua maioria com crianças e adolescentes. De lá para cá experimentamos diversas formas de fazer audiovisual com grupos não profissionais, algumas vezes dentro de instituições de educação patrimonial, outras em eventos, mas principalmente diretamente com grupos em escolas públicas. Para a comunicação na SOCINE, recorta-se a experiência da Escola Estadual, que recebe as atividades desde 2018, mais especificamente a realização de um filme remotamente (2020 e 2021). A experiência foi escolhida pois nela experimentamos o cinema em momentos que as atividades aconteciam no contra-turno, sem nenhuma obrigatoriedade de participação e esse recorte do trabalho com intervenções audiovisuais onde os sujeitos participaram pelo desejo foi radicalizado quando não havia mais o espaço da escola para os encontros. As experimentações no ambiente virtual nos permite perceber uma outra forma de lidar com o território, consigo e com o grupo.
Se nas experiências com os sujeitos observamos uma distância em relação aos aparatos culturais institucionalizados, como contraponto temos nas intervenções realizadas uma série de momentos onde se fez possível criar e recriar esse território e nossas experiências a partir de fabulações e invenções em grupo.
Uma aposta nos processos subjetivos coletivos é o que permite olhar para esses encontros, dispositivos e resultados dos trabalhos nessa pesquisa-intervenção que encontra na cartografia a possibilidade de lidar com o emaranhado dessas experiências, que serão apresentadas como uma espécie de inventário. O termo inventário foi escolhido na tentativa de disputar com a esfera institucional, que transforma a cidade em um hiper território e aproximá-lo da etimologia da palavra: invenção. Entende-se que nossas práticas inventam funcionamentos contra-monumentais: acontecimentos engendrados pelas práticas de intervenção/encontro que acionam dimensões temporais não cronológicas, acontecimentos mobilizados por encontros que permitem intensas aberturas e possibilita o trânsito entre muitos ritmos, uma série de acontecimentos/momentos que legitimam não somente as sensibilidades, mas as vivências “a margem”. Neste trabalho com a colonialidade o que transborda é a pulsão de vida, afastando os/as envolvidos da lógica necropolítica/niilista e aproximando da possibilidade de acessar o que está no limiar: vida e morte, arte e conhecimento, real e ficcional. O contra-monumento é um operador, gerado a partir do encontro com os dispositivos, que “perfura” instituições e suas dinâmicas “hiperterritorializadas”, contribuindo para os estudos das relação cinema-educação, já que esses funcionamentos nos permite ignorar a distância entre quem ensina e quem aprende, quem cuida e quem é cuidado.
Nos afastando de uma Ouro Preto turística onde “todo dia é histórico” e nos permitindo experimentar o tempo a partir de uma lógica espiralada. Momentos em que passado, futuro e presente parecem não respeitar uma lógica de progressão, onde se produz um tipo de saber que não é acumulativo e é possível fugir dos lugares onde comumente são aprisionados os sujeitos negros. Aposta-se no cinema e no encontro através da arte como prática de cuidado, como uma possibilidade para lidar com a ferida colonial.
A pesquisa se desenvolve no âmbito do doutorado no programa de pós-graduação em cinema e audiovisual da UFF. Nessa experiência corpo-imagem-cidade as imagens aparecem como restos que nos permitem apostar na produção de um arquivo, um micro arquivo que possa fazer frente aos que operam aprisionando os sujeitos negros e periféricos dessa cidade.
Bibliografia
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