Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA (UFF)

Minicurrículo

    Possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade de São Paulo (1994) e mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2006). É doutorando do Programa de pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. É assessor técnico da Vice Direção de Patrimônio Cultural e Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde atua nas áreas do Patrimônio Cultural, da Divulgação Científica e da Produção Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Revisitando a chanchada na historiografia recente do cinema brasileiro

Resumo

    A partir de uma perspectiva historiográfica, esse trabalho se propõe a refletir sobre a onda de valorização e ressignificação das chanchadas, tendo como objeto de análise um conjunto de trabalhos acadêmicos publicados a partir dos anos 1980. O objetivo é depurar o processo revisionista por meio da análise de elementos sintáticos e semânticos dos filmes e de aspectos afeitos à sua produção, recepção e consumo que acabaram por consagrar a chanchada como principal gênero cinematográfico brasileiro.

Resumo expandido

    Uma revisão bibliográfica da história do cinema brasileiro, sobretudo das obras mais panorâmicas, vai revelar o destaque dado a certos filmes em detrimento de outros. Historiadores, assim como a crítica e os arquivos cinematográficos, têm papel ativo na seleção do que deve ser lembrado ou esquecido. Filmes desprezados em determinados contextos são reexaminados, ressignificados e revalorizados em outros, em sintonia com as tendências estéticas e o cenário político-cultural de cada momento.
    O filme tem uma riqueza de significação que nem sempre é apreendida no momento em que foi realizado. O mundo que ele cria ou registra precisa de tempo para ser compreendido e avaliado. O significado de um filme só pode ser absorvido quando não apenas seus recursos cinematográficos (imagem, som, cenários, figurinos, etc) são considerados, mas também seu autor, público, crítica e todo o contexto social, cultural e político em que ele está inserido.
    Assistimos nas últimas décadas a uma onda de valorização das chanchadas que pode ser comprovada pelo significativo crescimento da literatura sobre o tema. Nessas novas leituras, as vertentes estéticas, os modelos de produção e os padrões de recepção e consumo do gênero transformaram-se em objeto de interesse. Consagradas pelas audiências mais populares, as chanchadas foram durante muito tempo rejeitadas pela crítica cinematográfica e pela elite culta e tratadas como filmes “mal feitos” ou cópias canhestras dos musicais hollywoodianos. O adjetivo “chanchada” utilizado naqueles tempos carregava um forte caráter pejorativo, associado a filmes de baixa qualidade, sem qualquer valor estético ou cultural. O processo de substantivação do termo, que redundou na consagração da chanchada como principal gênero cinematográfico brasileiro, só ocorreu definitivamente “quando passou a abarcar um conjunto específico de filmes, vindo em seguida, a perder sua carga pejorativa, num processo levado a cabo não apenas pela crítica, mas também pela historiografia do cinema brasileiro”. (FREIRE, 2011: 68)
    O marco inaugural desse processo de releitura das chanchadas pode ser atribuído ao artigo de João Luiz Vieira publicado na Revista “Filme Cultura” em 1983: “Este é meu, é seu, é nosso – Introdução à paródia no cinema brasileiro”. Nesse mesmo ano, a coleção “Tudo é História” da editora Brasiliense publica o livreto “A chanchada no cinema brasileiro” de Afrânio Catani e José Inácio de Melo Souza. O jornalista Sérgio Augusto dará maior impulso à empreitada revisionista com “Esse mundo é um pandeiro”, publicado em 1989. Em seguida, vários outros trabalhos, desenvolvidos no meio acadêmico, vão demarcar diferentes facetas dessa onda de valorização e ressignificação das chanchadas: “Chanchada – Cinema e imaginário das classes populares na década de 50” (1993) de Rosângela de Oliveira Dias; “Tristezas não pagam dívidas – Cinema e política nos anos da Atlântida” (2001), de Mônica Rugai Bastos; “Cinema carioca nos anos 30 e 40 – Os filmes musicais nas telas da cidade” (2003), de Suzana Cristina de Souza Ferreira; e “Fotogramas do Brasil: as chanchadas” (2015) de Bernadette Lyra. Também merecem igual destaque os artigos “O corpo popular, a chanchada revisitada, ou a comédia carioca por excelência” e “Descascando o abacaxi carnavalesco da chanchada: a invenção de um gênero cinematográfico nacional”, publicados respectivamente por João Luiz Vieira e Rafael de Luna Freire em 2003 e 2011. Vieira ainda escreveu o capítulo dedicado às chanchadas em “História do cinema brasileiro” (1987), obra organizada por Fernão Ramos, e depois reeditada em 2018 como “Nova História do Cinema Brasileiro”, numa versão revisada e ampliada, em dois volumes, organizada por Ramos e Sheila Schvarzman.
    A partir de uma análise historiográfica das obras citadas, esse trabalho se propõe a investigar os meandros desse processo revisionista, depurando tanto aspectos sintáticos e semânticos dos filmes, quanto aqueles relacionados à sua produção, recepção e consumo.

Bibliografia

    AUGUSTO, S. Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. SP: Companhia das Letras, 1989.
    BASTOS, M. R. Tristezas não pagam dívidas: cinema e política nos anos da Atlântida. SP: Olho d’Água, 2001.
    CATANI, A. M.; SOUZA, J. I. M. A chanchada no cinema brasileiro. SP: Brasiliense, 1983.
    DIAS, R. O. Chanchada: cinema e imaginário das classes populares na década de 50. RJ: Relume-Dumará, 1993.
    FERREIRA, S. C. S. Cinema carioca nos anos 30 e 40: os filmes musicais nas telas da cidade. SP: Annablume 2003.
    FREIRE, R. L; Descascando o abacaxi carnavalesco da chanchada: a invenção de um gênero cinematográfico nacional. Contracampo, Niterói: UFF, n. 23, p. 66-85, 2011.
    LYRA, B. Fotogramas do Brasil: as chanchadas. SP: A lápis, 2015
    VIEIRA, J. L. Este é meu, é seu, é nosso – Introdução à paródia no cinema brasileiro. Filme Cultura. RJ, n. 41-42, p. 22-29, 1983.
    _____. O corpo popular, a chanchada revisitada, ou a comédia carioca por excelência. Acervo, RJ, v. 16, n.1, p. 45-62, 2003