Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas de Castro Murari (UFRJ)

Minicurrículo

    Pesquisador de cinema experimental e arte de vanguarda. Doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com período sanduíche na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 (bolsa CAPES). É editor-executivo da Revista Eco-Pós (UFRJ). É membro fundador da plataforma RISCO Cinema e um dos curadores do DOBRA – Festival Internacional de Cinema Experimental. Atualmente realiza estágio de pós-doutorado na ECO/UFRJ (bolsa CAPES).

Ficha do Trabalho

Título

    Animismo: uma via estético-ecológica do cinema de vanguarda

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Resumo

    O intuito desta apresentação é discutir elementos da teoria do cinema e da antropologia em relação à estética e a cosmologia animista, levando em consideração uma certa tradição do cinema de vanguarda que remonta à década de 1920 e que permanece viva até os dias de hoje. O estudo vai abordar o desenvolvimento e complexificação do animismo cinematográfico, mais precisamente no que tange a questões ecológicas presentes em filmes experimentais realizados em diferentes contextos.

Resumo expandido

    O antropocentrismo é uma concepção em crise. Nas últimas décadas a subjetividade humana vem sendo problematizada de várias formas. Hoje, talvez mais do que nunca, é necessário pensar o mundo como uma grande rede, estabelecendo teias entre os agentes humanos e não humanos. O cinema, por meio de seus inúmeros recursos de criação, anima coisas para fazê-las parecerem dotadas de vida, isto é, os filmes também podem ser agenciamentos que auxiliam a abertura ontológica rumo a diferentes modos de experienciar o mundo. Essa abordagem seria baseada na capacidade do aparato maquínico da câmera de não apenas registrar as coisas como elas são, mas de manifestar sua expressividade latente. Objetos e coisas inanimados passam a ter alma. As imagens, nesse entendimento, são mais do que signos.

    Na história da teoria do cinema, há uma variedade de interpretações do “animismo cinematográfico”. Dois dos principais cineastas-teóricos da década de 1920 escreveram sobre o assunto. Serguei Eisenstein e Jean Epstein refletiram sobre os modos pelos quais o cinema poderia implantar novas estratégias sensíveis, cujo objetivo era dar forças às imagens. É importante ressaltar que ambos estavam ligados às vanguardas históricas. Essa tradição se desdobrou em outras vertentes artísticas e ligadas ao cinema experimental. Para Edgar Morin, o cinema é o maior discípulo do animismo. Animais, plantas, rochas, nuvens, em suma, o próprio meio ambiente tem sido requerido como intercessor artístico, gerando novos tipos de interação entre sujeito e objeto, uma configuração singular de cinema ecológico. Destacamos dois elementos de destaque do filme experimental: o descentramento do olhar antropocêntrico e a ênfase na experiência fílmica, questões que serão desdobradas ao longo desse estudo.

    Em outra concepção, o pensamento animista também está presente em muitas culturas e sistemas de crenças, que adotam essa perspectiva como forma de interação recíproca com outras entidades mundanas. Nas últimas décadas os esquemas ontológicos tem sido largamente investigados pelas ciências ditas humanas.

    O objetivo dessa comunicação é compreender elementos da teoria do cinema e da antropologia a respeito da estética e da cosmologia animista, tomando como parâmetro uma certa tradição do cinema de vanguarda que remonta à década de 1920 e que permanece viva até os dias de hoje.

Bibliografia

    CASTRO, Teresa; PITROU, Perig; REBECCHI, Marie (dir.) Puissance du végetal et cinéma animiste – La vitalité révélée par la technique. Paris: Les Presses du Réel, 2020.

    DESCOLA, Philippe. Além da natureza e cultura. Tessituras – Revista de Antropologia e Arqueologia, Pelotas, v. 3, n. 1, p. 7-33, jan./jun. 2015.

    EPSTEIN, Jean. L’intelligente d’une machine, Le Cinéma du Diable et autres écrits. Paris: Independencia Éditions, 2014.

    MACDONALD, Scott. Toward an Eco-Cinema. Interdisciplinary Studies in Literature and Environment, v. 11, n. 2, p. 107-132, Julho 2004.

    MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de antropologia sociológica. São Paulo: É Realizações, 2014.

    SCHNEIDER, Arnd; PASQUALINO, Caterina (orgs.). Experimental Film and Anthropology. Londres: Bloomsbury, 2014.

    RUSSELL, Catherine. Experimental ethnography – the work of film in the age of video. Durham: Duke University Press, 1999.

    VIVEIROS DE CASTRO. Metafísicas Canibais. São Paulo: Cosac Naify