Ficha do Proponente
Proponente
- Daniela Carvalhal Israel (Feevale)
Minicurrículo
- Daniela Israel é doutoranda em Processos e Manifestações Culturais, graduada em Cinema e atua no setor audiovisual há mais de 15 anos, tendo produzido longas, documentários, séries para tv e animações. Como diretora de cinema, trabalha nos filmes de animação “O Jardim da Rua 13” e “De volta do Jardim da rua 13”. Como professora, recebeu o prêmio Laureate Recognition Program – LATAM e, como produtora, no 47ª Festival Internacional de Cinema de Gramado, o prêmio de “Melhor Produção Executiva”.
Ficha do Trabalho
Título
- Quem gritar “ação”: a direção cinematografia no Rio Grande do Sul
Resumo
- Sensível a problemática da equiparidade no audiovisual, este estudo aborda às particularidades do perfil do profissional da direção cinematográfica no Rio Grande do Sul. Para tal, realiza uma pesquisa quantitativa e analisa dez anos de produção de longas-metragens gaúchos com vistas a identificar qual é o perfil deste profissional no estado. Além de identificar traços e características dos profissionais da direção, o estudo revela que, no RS, homens dirigem oito vezes mais filmes que mulheres.
Resumo expandido
- Você pode ser pego pelo entusiasmo do resultado do Oscar de 2021, ou pela matéria da Folha de SP que destacou que em “2019, Hollywood teve número recorde de mulheres dirigindo filmes” (SERJEANT, 2020) ou, ainda, pela manchete do Correio Braziliense, que expõe que a “presença de mulheres no cinema nacional é cada vez mais crescente” (NUNES, 2019), mas é preciso atentar-se aos detalhes. Em 2019, em Hollywood, as mulheres dirigiram 10,6% entre os principais longa-metragens daquele ano, o que representa 12 obras (SERJEANT, 2020). No Brasil, os dados divulgados pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (ANCINE, 2018), revelam que, em 2018, de um total de 272 longa-metragens lançados nas salas de cinema do país, 19% das obras foram dirigidas por profissionais do sexo feminino, o que significa 51 filmes. Não só na direção cinematográfica as mulheres pouco ocupam espaços, também nas outras atividades do setor, a participação da mulher não ultrapassa mais de 34% – exceto, na função da Direção de Arte.
Frente aos números nacionais, o presente estudo direciona esta problemática às particularidades do estado do Rio Grande do Sul, realizando uma pesquisa que visa identificar qual é o perfil do profissional da direção cinematográfica no estado, com foco na diferença de atuação entre homens e mulheres. O trabalho utilizou como fonte, um ofício enviado pelo Sindicato da Indústria Audiovisual do RS (SIAV/RS), no qual constava uma listagem atualizada de obras audiovisuais produzidas nos últimos anos. Considerando as transformações que a indústria perpassa, o estudo faz-se um recorte temporal que vai de 2007 até 2017, época do auge do fomento público, e, também de tipologia, considerando para análise apenas obras de longa-metragens destinadas a exibição em salas de cinema.
Nesta abordagem, identificou-se 105 obras, das quais apenas 10,5% (11) tiveram, exclusivamente, mulheres assinando a direção. Entre os achados da pesquisa, destaca-se, primeiramente, que o cinema gaúcho é formado, em sua grande maioria, por profissionais com ensino superior residentes na região metropolitana do estado. Segundo, é que aproximadamente a metade dos diretores (59,1%) e de diretoras (45%) são proprietários de uma empresa produtora. Terceiro, as mulheres dirigem mais obras documentais do que filmes de ficção, enquanto os homens, dirigem mais obras de ficção do que documentários. Neste contexto, o ano de 2012, constitui-se como uma situação exemplar que revela a diferença entre a participação de homens e mulheres no setor. Isto ocorre, porque, 2012 foi o ano mais expressivo em número de filmes de longa-metragens lançados comercialmente com 12 obras identificadas, porém nenhuma destas obras tem direção feminina. Assim, é possível observar que apenas naquele ano, os homens lançaram mais filmes do que as mulheres conseguiram executar em mais de dez anos.
Assim sendo, no que tangue o perfil do profissional gaúcho, percebe-se que a presença de homens assinando a direção cinematográfica no Rio Grande do Sul é oito vezes maior do que a presença feminina. O presente estudo permite apontar, então, que se alguém almeja dirigir filmes neste estado, é preciso levar em consideração que terá mais chances de tal realização, quem (1) residir na capital ou na região metropolitana; (2) tiver concluído um curso de ensino superior; (3) for sócio e/ou proprietário de uma produtora registrada na ANCINE; e (4) for do sexo masculino. Ciente que, segundo o IBGE, a população brasileira é formada pela maioria de 51,8% de mulheres, que apenas 17,4% possuem ensino superior e que somente 21,9% vivem nas capitais, identifica-se que urge ao setor audiovisual que este promova novas práticas visando uma mudança no perfil da direção cinematográfica, adotando um cinema plural, diverso e representativo e possibilitando que pessoas com diferentes formações sociais e discursivas tenham chances de dirigir filmes.
Bibliografia
- ANCINE. (2018). OCA – Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual. Participação feminina na produção audiovisual brasileira.
BRITO. Thais. Os números da ausência: uma análise da participação das Mulheres na direção cinematográfica do RS. 2017
NUNES, Ronayre. Presença de mulheres no cinema nacional é cada vez mais crescente. Jornal Correio Braziliense. 2020.
SIAV – Sindicato da Industria Audiovisual do Rio Grande do Sul. Listagem de Filmes produzidos no Rio Grande do Sul.
SERJEANT, Jill. Em 2019, Hollywood teve número recorde de mulheres dirigindo filmes. Jornal Folha de São Paulo.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PNAD continua – Educação 2019. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continha 2012-2019.