Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Ignês carlos Magno (UAM)

Minicurrículo

    Maria Ignês Carlos Magno, professora do PPGCOM em Comunicação Audiovisual da UAM. Doutora em Ciências da Comunicação. Mestre em História Social. Pós-doutorado no PPGCOM da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) sob a supervisão da Profa. Doutora Maria Aparecida Baccega. Líder do Grupo de Pesquisa: Inovações e Rupturas na Ficção Televisiva (UAM). Autora da seção Resenha-Cinema da revista Comunicação & Educação da ECA/USP. Área de atuação e pesquisa: Crítica, Cultura, Cinema, Telenovela

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema no processo de criação dos roteiros de Giancarlo Berardi

Resumo

    Esse artigo é parte de um estudo sobre as influências cinematográficas, literárias e históricas no processo de criação de roteiros nas histórias em quadrinhos. Para essa comunicação o objeto de estudo é o HQ Julia Kendall: As aventuras de uma criminóloga, do roteirista Giancarlo Berardi. A ideia é mostrar a presença do cinema e da história no processo de criação e construção da narrativa nas HQs de Giancarlo Berardi.

    Cinema, Histórias em Quadrinhos, Roteiro, Giancarlo Berardi, Julia Kendall.

Resumo expandido

    O cinema como os quadrinhos têm uma história bastante próximas, desde as origens, a época em que surgiram até as técnicas utilizadas. Alain Resnais declarou uma vez:“O que sei sobre cinema, eu o aprendi tanto no cinema como nos quadrinhos. As regras de decupagem e montagem são as mesmas, tanto nos quadrinhos como na tela. E, bem antes do cinema, eles utilizavam o scope e sempre puderam mudar de formato. Da mesma forma a cor: eles sabem utilizá-la para fins dramáticos”, conta-nos Ruy Castro (1969). Giancarlo Berardi roteirista de quadrinhos e criador das personagens Ken Parker e Júlia Kendall, declarou uma vez:“Eu entrei em um cinema com quatro anos de idade e não parei mais. Aprendi muitas coisas sobre a vida por meio da tela grande, incluindo algumas ilusões”. O cinema é “um dos eixos fundamentais da minha profissão. Os outros dois são a literatura e a observação da realidade”,conta-nos Giovanni Mattioli(2016).Ainda segundo Ruy Castro, alguns críticos à época souberam descobrir na sólida estruturação plástica de O Ano Passado em Marienbad o rigor visual das histórias de Mandrake, assim como o seu frequente emprego das possibilidades de metacronismo: saltos no tempo, reais ou imaginários, e o desenvolvimento da ação no plano(balões indicando o que o personagem fala e pensa, no mesmo quadrinho)análogos ao pisca-pisca mental em Marienbad,(p.593).Resnais era especialista em Dick Tracy, Berardi tinha como diretores preferidos: Vittorio De Sica, Mário Monicelli, John Ford, Billy Wilder. Diferentes em estilos, o que chamava a atenção de Berardi nesses diretores era “a capacidade que demonstravam em contar pedaços da vida que se desenrola à minha volta, com palavras e imagens, que embora simples, tinham uma eficácia extraordinária”(2016,p.4).A proposta aqui não é a de desenvolver um estudo comparativo entre Resnais e Berardi, apenas exemplificar as paixões e as influências mútuas que cinema e quadrinhos exercem sobre cineastas e roteiristas. Conforme exposto no resumo, trata-se de um estudo sobre as influências cinematográficas, literárias e históricas no processo de criação de roteiros, em especial os roteiros de Berardi. Para esta comunicação o objeto de estudo é o HQ Julia Kendall: As aventuras de uma criminóloga, ou como ele dizia uma investigadora da alma. Júlia Kendall é fruto de duas paixões de Berardi: o romance de gênero policial e o cinema. Diferentemente de Ken Parker, Júlia é uma personagem feminina, urbana e as histórias estão a meio termo entre a criminologia e a psicanálise, explica o roteirista. Se a figura de Ken Parker teve Robert Redford como inspiração, Júlia é Audrey Hepburn. Não apenas Júlia teve seus traços buscados em atores de cinema, como todo o elenco das personagens que compõem as histórias da criminóloga. O tenente Alan Webb é John Malckovich, o sargento Ben Irving é John Goodman, o detetive particular Leo Baxter é Nick Nolte quando jovem, e Emily Jones é Woopy Goldberger, a vulcânica colaboradora doméstica e ama seca protetora, segundo Berardi (2016, p.4).Emily foi uma militante dos Panteras Negras, que entra na casa e na vida de Júlia Kendall como governanta. A cada história aparecem Sean Connery, Tom Selleck, Robert Mitichum, apenas para citar alguns. Para mostrar como se dá a presença do cinema e da história no processo de criação e construção visual da narrativa de Berardi, escolhi o quadrinho cujo título é: O repouso do guerreiro. Neste quadrinho Berardi parte de um fato histórico, no caso, a guerra do Afeganistão e nos conta como e porque um grupo de veteranos americanos do Afeganistão planeja um golpe audacioso. Kendall, Irving e Webb chegam ao local para tentar impedir o assalto e acabam nas mãos dos ex-militares. A escolha tem por objetivo apresentar as aproximações entre cinema e HQs. As técnicas de enquadramento, os diálogos, a montagem e a forma como Berardi conta com palavras e imagens os pedaços da história que vivemos. Nesta história, a aventura de Júlia Kendall como investigadora da alma.

Bibliografia

    AUGUSTO, Sérgio. Algumas notas sobre os quadrinhos. In: Quadrinhos: literatura do século. Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, RJ, N.7, ano 63, julho,1969
    BERARDI, Giancarlo. O Repouso do Guerreiro. In: Júlia Kendall. As aventuras de uma criminóloga, N. 121, mar/abr, 2016.
    BERARDI, Giancarlo. Entrevista concedida a Giovanni Mattioli, Itália, 2015.
    CASTRO, Ruy. Os quadrados contra os quadrinhos. In: Quadrinhos: literatura do século. Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, RJ, N.7, ano 63, julho,1969.
    DIAS-PINO, Wladimir. Quadrinhos: uma tatuagem projetada na pele suada da arte. Ou O útil dos ruídos visuais da figura que explode. In: O Mundo dos Super Heróis, Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, RJ, N. 4, ano 65, maio 1971
    MOYA, Álvaro de. Shazam! São Paulo, Editora Perspectiva S.A. 1977.
    XAVIER, Ismail. (ORG). O cinema no século, Rio de Janeiro, São Paulo,1996.
    YOEL, Gerardo. (ORG). Pensar o cinema. Imagem, ética e filosofia. São Paulo, Cosac Naify, 2015.