Ficha do Proponente
Proponente
- Adil Giovanni Lepri (UFF)
Minicurrículo
- É doutor pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e mestre em Comunicação pela mesma instituição. É pesquisador do NEX – Núcleo de Estudos do Excesso nas Narrativas Audiovisuais onde desenvolve pesquisas na área de cinema, particularmente no campo do audiovisual nos sites de redes sociais. Trabalha como editor e motion designer em projetos documentais, institucionais, educativos, de divulgação científica e entretenimento.
Ficha do Trabalho
Título
- Teoria do cinema e métodos para pesquisa de vídeo nas redes sociais
Resumo
- Nesta comunicação pretende-se realizar uma reflexão teórico-metodológica que aponte para caminhos de investigação do vídeo nos Sites de Redes Sociais (SRS) como objeto a partir dos estudos do cinema. Propõe-se conjugar as ideias de “pesquisa de nível-médio” e de poética do cinema (BORDWELL, 2005; 2012), com o conceito de affordances (DAVIS & CHOUINARD, 2017) e técnicas de visualização de dados imagéticos massivos (MANOVICH, 2017).
Resumo expandido
- Diversos estudos quantitativos têm demonstrado sistematicamente a prevalência da imagem, e do vídeo em particular, nos Sites de Redes Sociais (SRS). No entanto, as análises destes objetos no campo da comunicação tendem a se concentrar majoritariamente em identificar padrões semânticos em grandes quantidades de publicações, ou em realizar cartografias de redes. Embora seja inegável a contribuição destas metodologias, ao utilizá-las perde-se boa parte da essência do objeto, o caráter audiovisual em si mesmo.
Olhando para a escala de conteúdo a ser analisado nesse contexto, as abordagens de coleta e visualização de dados imagéticos desenvolvidas por Manovich (2017) são ferramentas importantes para a pesquisa de vídeo nos SRS. O autor destaca a importância da forma e sua relação com o conteúdo como elementos que fazem da arte ou do conteúdo gerado por usuário em SRS um tipo único de comunicação. Estes métodos são úteis para revelar padrões em coleções massivas de imagens, mas também para olhares diferenciados para objetos únicos.
Para a pesquisa de audiovisual nos SRS Lewis, Marwick e Partin (2020) apontam uma abordagem especialmente frutífera, que é olhar para a relação entre os vídeos e as affordances próprias de cada plataforma. Segundo Davis e Chouinard (2017), affordances dizem respeito a como as plataformas de SRS são permissivas ou constritivas com seus usuários. As possibilidades se encontram em um espectro que vai desde a exigência pelo cumprimento de certas ações, à recusa da capacidade de realizar outras.
Nesse sentido, Figueiredo e Gummadi (2014) demonstraram, com a realização de testes de recepção de vídeos do YouTube, que a subjetividade dos usuários e aspectos intrínsecos do audiovisual são fatores relevantes na circulação de conteúdo na plataforma. Jenkins, Ford e Green (2013) também reiteram a importância dos usuários na circulação de conteúdo ao criticar o modelo “viral” de distribuição nos SRS, mostrando que embora a posição na rede e quem compartilha determinado conteúdo sejam aspectos importantes, não dão conta de explicar a potência “espalhável” de um determinado conteúdo.
Nesse contexto, pode ser possível então pensar em uma poética do cinema voltada ao estudo da composição de programas de efeitos e a atividade do espectador, a partir Bordwell (2012), aplicada ao vídeo nos SRS. Esta abordagem pode ser um arcabouço teórico-metodológico interessante, que seria capaz de dar conta também de como as affordances condicionam o conteúdo em vídeo. A partir deste olhar, o espectador nas plataformas se torna um elemento imprescindível para a circulação do vídeo, seja pelo ato de compartilhar ou mesmo pela sua própria atividade de consumo servir como base para sistemas de recomendação.
Por outro lado. ao olhar para a questão da autoria dos youtubers por exemplo, há de se pensar que a intencionalidade na elaboração dos programas de efeitos tradicionalmente percebida no cinema e na TV – derivada de indústrias profissionalizadas que possuem convenções, e onde saberes circulam entre os trabalhadores – se manifesta de forma diferente. Aqui entra a questão da “cultura participativa” de Jenkins (2015), de modo que a aprendizagem e o know-how circulam entre os youtubers mediados pela própria plataforma. Tanto organizados por ela mesma, como em sua Creator Academy, quanto a partir das centenas de canais voltados ao ensino do fazer audiovisual particular ao YouTube.
Esta comunicação então se propõe a sugerir que existem caminhos possíveis para a investigação do vídeo nos SRS centrados na análise fílmica, partir de: (a) um método indutivo baseado no que Bordwell (2005) chama de “pesquisa de nível-médio”; (b) da aplicação de uma poética do cinema baseada em remontagem de programas de efeitos ao vídeo nos SRS e sua relação com as affordances e; (c) dos métodos de visualização de Manovich (2017) para revelar padrões mais amplos em um contexto de criação massiva de conteúdo.
Bibliografia
- BORDWELL, David. Estudos de cinema hoje e as vicissitudes da grande teoria. Teoria contemporânea do cinema, v. 1, p. 25-70, 2005.
BORDWELL, David. Poetics of cinema. Routledge, 2012.
DAVIS, J.; CHOUINARD, J. Theorizing affordances: From request to refuse. Bulletin of Science, Technology & Society, v. 36, n. 4, p. 241-248, 2016.
FIGUEIREDO, Flavio et al. Does content determine information popularity in social media? A case study of YouTube videos’ content and their popularity. In: Proceedings of the SIGCHI conference on human factors in computing systems. 2014. p. 979-982.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Aleph, 2015.
JENKINS, Henry et al. Spreadable media. New York University Press, 2013.
LEWIS, Rebecca et al. “We Dissect Stupidity and Respond to It”: Response Videos and Networked Harassment on YouTube. SocArXiv. November 1. doi:10.31235/osf.io/veqyj, 2020.
MANOVICH, Lev. Aesthetics,‘Formalism’, and Media Studies. L. Ouellette, & J. Gray, Keywords in Media Studies, p. 9-12,2017