Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriel Dias Franco de Godoy (UFPE)

Minicurrículo

    Bacharel em Audiovisual pelo Centro Universitário SENAC-SP (2015) com I.C.: “Processos alternativos autorais no Projeto Vídeo Nas Aldeias” e o T.C.C.: Descrevendo o Invisível no Cinema de Isael Maxakali. Monitor na Equipe Pedagógica “É Nóis Na Fita” : Curso Gratuito de Cinema (SP-2014). Coordenador de vídeo na PRODART SP. (2013-2016). Operador de Vídeo na Societá Anônima (SP-2016). Integrante do Coletivo Caverna (PE). Social Media na n-1 edições (SP). Mestrando no PPGCOM na UFPE (2020-2022).

Ficha do Trabalho

Título

    Correspondência Fílmica : sobrevivência das imagens por alteridades

Resumo

    Em processo de rememoração dos pontos de origem à atualização do fenômeno da correspondência no cinema epistolar, este trabalho se desenvolve pelos resquícios dos primeiros cinemas que sobrevivem na história. Indicando o travellogue e o cinema de atualidades como manifestações epistolares de uma experiência estética na exploração das alteridades, que aproxima o artesão-narrador a reprodutibilidade técnica, entre o realismo e a poesia na ausência de uma escritura fílmica singular.

Resumo expandido

    A presença epistolar no cinema vem afirmando um espaço de reconhecimento cada vez maior enquanto meio de comunicação por imagens, desde o cinema moderno como no filme Carta da Sibéria (1957), até a exposição Todas Las Cartas: Correspondências Fílmicas (2011), a narrativa epistolar em meios audiovisuais sugerem um retorno ao artesanato em que diretores se sentem confrontados consigo mesmos sem nenhuma proteção da industria como disse Ramoneda no catálogo da exposição. Os filmes-cartas, as vídeos-cartas e os filmes epistolares, se empenham no desejo de partilha e apresentam aquilo que Foucault chamou da narrativa da relação de si, em que por meio da carta “abrimo-nos ao olhar dos outros e instalamos o nosso correspondente no lugar do Deus interior” (2006, p. 149 – 159). Assim, “a exploração da experiência de alteridades” como indica L. M. Ibáñez é o que envolve esta diversidade de experiências audiovisuais em encontro com a epistola.
    Para a compreensão do movimento pendular da correspondência fílmica e sua experiência estética, é necessário perguntar como estes sujeitos que se constituem por imagens provocam o encontro com o outro que se sente convocado a se corresponder por imagens? Para tanto, antes é necessário entender o que resta da carta enquanto meio de comunicação interpessoal nas correspondências fílmicas. E como proposta metodológica, esta pesquisa se desenvolve como um colecionador de encontro as origens. Por meio de uma desordem a qual o habito se instalou, como um processo de renovação, Walter Benjamin pontua o método do colecionador e materialista histórico Eduard Fuchs como um caminho pático, que age “no sentido de abandonar a atitude tranquila e contemplativa em relação ao seu objeto, para tomar consciência da constelação crítica em que se situa precisamente esse fragmento, precisamente nesse presente”. Renunciando o elemento épico, onde reina o “Era uma vez” na ilusão do historicismo, o método dialético do materialista histórico deve acionar no contexto da história “as experiências que é para cada presente uma experiência originária”. Sem deixar de levar em conta que o fenômeno de colecionar perde o seu sentido logo que perde seu sujeito, e assim, não são coisas que vivem no colecionador mas ele mesmo que vive nas coisas.
    Entre os resultados deste trabalho se encontram o cine de correspondência Galego, precisamente nos filmes Transvias de La Coruña (1926) e Nuestras Fiestas Allá (1928), filmes que surgem de uma necessidade psico-social da “saudades de casa” sentida pelos imigrantes galegos na America Latina, uma cinema que buscam anular o esquecimento no resgate da lembrança das novas e das antigas imagens do cotidiano da identidade Galega. Deste encontro com o cine de correspondência Galego, relacionam-se o cinema de Atualidades como Panoramic view of the place de l’Concord (1900) trazendo imagens distantes e assim atualizando os espectadores sobre as cidades modernas, e o travellogue, termo cunhado por Burton Holmes ao longo de suas viagens pelo mundo com o Cinematógrafo. Estes cinemas que se encontram na origens das correspondências fílmicas contemporâneas se assemelham pela carência de uma “escritura” fílmica própria em uma época marcada pela crescente afirmação de códigos narrativos do cinema de ficção, como disse Silvio Da-Rin.
    Para a conclusão desta etapa de pesquisa sobre as origens da correspondência fílmica, discorremos sobre uma geografia em que o trabalho manual do artesão-narrador se encontra com técnica da reprodutibilidade. O travellogue e as Atualidades, reincidem na “tomada de improviso” em uma cine-senção como no Kino-Pravda de Vertov, “um caminho sobre o qual a propagação do sentimento ganha velocidade sobre a formação da idéia”, como diz Epstein na reconciliação do cinema entre o realismo e a poesia. Logo, entre o ensaio literário e a imagem documental, esta não-escritura, é herdada pelo amador-bricoleur Jean Rouch na costura das coisas esquecidas alterando o antropólogo em cineasta.

Bibliografia

    Benjamin, Walter. Eduard Fuchs, colecionador e historiador In O anjo da história. Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2016.
    Da-Rin, Silvio. Espelho Partido. Rio de Janeiro : Azogue Editorial, 2004.
    Epstein, Jean. O cinema do Diabo. In A experiência do Cinema. Org. Ismail Xavier. Rio de Janeiro : Edições Graal: Embrafilmes, 1983.
    Foucault, Michel. A escrita de si. In: O que é um autor. Lisboa: Vega, 1992.
    Ibáñez, Lourdes Monterrubio. De un cine Epistolar. Lá presencia de la misiva en el cine francés moderno y contemporáneo. Shangrila Ediciones : Cantabria, 2018.
    Ramoned, Josep. Retorno al Artesanado. In Catalogo Todas las cartas.Barcelona : CCCB, 2012.
    Vertov, Dziga. Nascimento do cine-olho. In A experiência do Cinema. Org. Ismail Xavier. Rio de Janeiro : Edições Graal: Embrafilmes, 1983.