Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    marina mayumi bartalini (UNICAMP)

Minicurrículo

    Marina Mayumi Bartalini tem bacharelado e licenciatura em Educação Artística pela Unicamp. É mestra e doutora em Educação pela Faculdade de Educação também pela Universidade Estadual de Campinas. É artista visual e pesquisadora na área de Cinema e Educação, Arte-Educação e Educação Libertária. Atua na formação de professoras/es em escolas municipais da cidade de Campinas. É professora de artes no Ensino Médio no Colégio Sesi – São Paulo e nos cursinhos livres libertários de São Paulo.

Ficha do Trabalho

Título

    Quando o cinema na escola emerge como mafuá

Mesa

    Experimentações com cinema no/do lugar-escola da Educação Infantil

Resumo

    A oficina de formação para professoras/es de escolas municipais de Campinas, intitulada Para além da sala escura baseou-se em propostas que tinham como principal preocupação atentar-se às nuances de iluminações naturais e artificiais das escolas tanto para a produção de filmes quanto para sua posterior projeção. Ao somarmos a presença de câmeras e projetores e de tudo que na escola coexiste um grande conjunto de variáveis entra em movimentação. Tudo se torna passível de virar cinema.

Resumo expandido

    A escola como lugar de encontro possibilita que tudo o que ali exista afete-se entre si. O cinema na escola funciona como proposta de encontro não apenas entre pessoas, mas também com imagens e sons que nos leva a conhecer outros lugares, formas de vida e facetas do mundo. “Viver junto” em meio a todas as diferenças, conflitos, crenças, olhares é o desafio que se coloca no trabalho com educação. Ao somarmos a presença de câmeras e projetores entre todos os elementos que ali coexistem e são postos em interação, um grande conjunto de variáveis entra em movimentação. Tudo se torna passível de virar cinema.
    A oficina de formação para professoras/es de escolas municipais de Campinas, intitulada Para além da sala escura aconteceu entre agosto e novembro de 2017, como parte das experimentações cinematográficas da tese Para além da sala escura: encontro entre cinema e escola (BARTALINI, 2021). Baseou-se em propostas que tinham como principal preocupação atentar-se às nuances de iluminações naturais e artificiais das escolas tanto para a produção de filmes quanto para sua posterior projeção. A projeção pautou-se pela busca de fazer funcionar na escola um cinema expandido (MICHAUD, 2014) por meio de maneiras não-convencionais de exibição de filmes. No Programa Cinema & Educação, da SME-Campinas, do qual a oficina foi parte, foi desenvolvido um método que consiste em ver uma produção nacional, produzir um vídeo a partir de dispositivos de criação disparados pela obra assistida e conversar coletivamente sobre as produções realizadas. Ao focarmos a atenção também nas variadas formas e locais de projeção, introduzimos uma gama de possibilidades para o cinema na escola, que pode ser interventivo e interativo. Trazer à escola um cinema mais conectado aos gestos e aos corpos das crianças abre possibilidades para outras composições com as produções audiovisuais, a partir de experiências de espectação que podem ser inventadas a cada experimentação de projeção e no contexto espacial de cada escola. O protagonismo das crianças nas escolas é marcado não só por esta ser um local destinado à sua formação, mas também pela abertura que elas produzem ao ali deixar os rastros de sua presença: pegadas de pequenos pés no tanque de areia, baldinhos espalhados em vários pontos da escola, blusas de uniforme esquecidas nos bancos de madeira, canecas coloridas amontoadas sobre uma mesa próxima ao bebedouro, entre outras imagens que dizem muito daquele lugar habitado por coisas e pessoas em movimento contínuo. Durante as oficinas, as marcas gestuais das crianças eram perceptíveis também nos corpos adultos a partir de certas variações que aqueles corpos já carregavam, mas que tomaram forma durante as experimentações com o cinema: esticavam braços, agachavam, levantam-se, testavam as câmeras, transportavam para lá e para cá os projetores, ficavam na ponta dos pés para fazer a projeção alcançar um lugar alto, faziam acrobacias para que a câmera parasse em algum ponto cuidadosamente escolhido para capturar um ângulo específico, corriam de um lugar para o outro apressadamente logo que tinham uma ideia brilhante de filmagem ou projeção, entre outros gestos guiados pela vontade de criação.
    Os encontros entre as heterogeneidades que se tocaram naquelas escolas aproximaram-se daquilo que Migliorin (2015; 2019) tem chamado de mafuá e nos serve aqui para operar em maneiras de pensar na multiplicidade de acoplamentos que inauguram ordens e desordens ao conectar crianças, diretora, professora, monitora, oficineira, pesquisadora, projetores, computadores, fios, chão, parede, árvore, pneus, balanços, gira-gira, areia, água, alambrado, portão, teto, madeira, concreto, espuma, balde, roupa, vassoura. O cinema nas escolas foi uma trajetória a mais na composição de uma coletividade alegre, que aglutina corpos, vozes, gestos, sons e lugares específicos configurando um grande mafuá na escola quando esta se coloca em coloca em contato com a experiência do cinema.

Bibliografia

    BARTALINI, M. M. Para além da sala escura: encontros entre cinema e escola. Tese de (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, p.235. 2021.
    MICHAUD, P. Filme: por uma teoria expandida do cinema. 1ª ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
    MIGLIORIN, C. O dispositivo como estratégia narrativa. Revista Acadêmica de Cinema nº 3, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2005.
    _______________. Inevitavelmente Cinema: Educação, política e mafuá. 1ªed. Rio de Janeiro: Beco do Azougue,
    2015.
    _______________. Deixem essas crianças em paz: o mafuá e o cinema na escola. In: Pós-fotografia, pós-cinema: novas configurações das imagens. In: FURTADO, B.; DUBOIS, P. (Org.). São Paulo: Edições Sesc, São Paulo, 2019, pp. 272-282.
    MIGLIORIN, C.; PIPANO I., Cinema de brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019