Ficha do Proponente
Proponente
- JOSE CLAUDIO S CASTANHEIRA (UFSC)
Minicurrículo
- José Cláudio S. Castanheira é doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, com estágio doutoral na McGill University – Canadá. É professor do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professor colaborador do PPGCOM UFC e líder do grupo de pesquisa GEIST/UFSC (Grupo de Estudos em Imagens, Sons e Tecnologias) – CNPq. Pesquisador nas áreas de música, estudos do som e cinema. É membro do Comitê Internacional da Small Cinemas Conference.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema imóvel: espaços e subjetividades
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- Parte da teoria clássica trata da imobilidade da plateia como fator determinante da experiência cinematográfica. Análises baseadas em conceitos psicanalíticos e na individualidade do espectador tendem a normatizar uma determinada forma de ver e ouvir o filme. Uma análise a partir de um viés sociológico pode melhor situar as relações entre os diversos grupos representados ou ignorados pelo cinema e buscar alternativas ao modelo de experiência solitária e doméstica do filme.
Resumo expandido
- Parte da teoria clássica sobre o cinema trata da imobilidade da plateia como fator determinante da experiência cinematográfica. Para algumas dessas correntes, a inibição motora seria importante para a ilusão de realidade e, em última instância, para a definição do próprio espectador. A comparação do filme ao sonho ou à fase do espelho procuram na psicanálise (em Freud e Lacan) um modelo que possa explicar de forma satisfatória as noções de identificação, de imersão ou de realismo. O dispositivo cinematográfico clássico assumiria, dessa maneira, uma dimensão escapista e individualista, o que também já foi fartamente discutido por autores como Kracauer (2009) e Benjamin (2012). Análises baseadas em conceitos psicanalíticos e na individualidade do espectador tendem a normatizar uma determinada forma de comportamento e, principalmente, de ver e ouvir o filme. A crítica ao “male gaze” (Mulvey, 1983) ou à predominância masculina da voz-over (Doane, 1983) também são maneiras de perceber como elementos da mise en scène são organizados e endereçados autoritariamente ao corpo de espectador, negando “a heterogeneidade do ‘corpo’ do filme” (DOANE, 1983, p. 385), mas também negando a heterogeneidade de todos os demais corpos. Percebemos que a necessidade de uma política erótica da voz, como descreve a autora, que possa fazer ouvir a voz feminina dentro de um contexto patriarcal, pressupõe, ainda, uma experiência de caráter individualista. O reconhecimento do outro (outros corpos, outras vozes e outras subjetividades), na teoria clássica, baseia-se, em grande parte, em uma experiência íntima, subjetiva e solitária.
A proposição deste trabalho é a de que, para endereçar tais questões de forma mais efetiva, é necessário pensar o cinema a partir de um modelo sociológico – mais do que um modelo psicológico – e observar mais detidamente as relações conflituosas entre os diferentes grupos representados ou ignorados pela indústria cinematográfica (e pelas políticas públicas, de um modo geral). Os processos de identificação não são construídos apenas em uma relação bilateral e direta entre espectador e filme, mas dentro de um contexto amplo que envolve diferentes subjetividades, espaços públicos, políticas e interesses comerciais. Dessa forma, desejamos refletir sobre a importância do evento cinematográfico: aquele que envolve mobilidade, interação e posse do espaço físico para que seja realizado satisfatoriamente. Na contramão das ações de ocupação dos espaços, temos vivenciado mudanças no campo audiovisual que têm levado, por diferentes motivos, ao fechamento de salas, ao cancelamento de eventos, à ameaça de apagamento de arquivos, às restrições político-ideológicas e ao acirramento da experiência solitária e doméstica (e globalizada) do filme. Não devemos negar a importância do crescimento da produção e circulação audiovisual em plataformas de streaming e da multiplicação de diferentes telas, mas devemos entender que uma política erótica da voz, que se queira de fato diversa, pressupõe corpos em movimento.
Bibliografia
- BAUDRY, Jean-Louis. The apparatus: metapsychological approaches to the impression ofreality in the cinema. In: ROSEN, Philip (Ed.). Narrative, apparatus, ideology. New York: Columbia University Press, 1986, p. 299-318.
BENJAMIN, Walter [et al]. Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção. Rio de Janeiro: contraponto, 2012.
KRACAUER, Sigfried. O ornamento da massa: ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
MULVEY, L. Prazer visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal/Embrafilme, 1983.
DOANE, M. A. A voz no cinema: a articulação de corpo e espaço. In: XAVIER, Ismail (org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal/Embrafilme, 1983.