Ficha do Proponente
Proponente
- Álvaro Renan José de Brito Alves (UFPE)
Minicurrículo
- Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisador no Grupo Leve (Laboratório de Experiência, Visualidade e Educação) vinculado ao Centro de Educação da UFPE. Mestre em Comunicação e bacharel em Cinema e Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Taxonomia lúdica das imagens e políticas de uma pedagogia do cinema
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- A partir da experiência da disciplina eletiva “Currículo, Cinema e Educação”, ministrada de forma remota para o curso de Pedagogia em 2020, durante a pandemia, procuramos elaborar, inspirados na taxonomia deleuziana, o inventário lúdico e provisório dos tipos de imagens e suas formas de aparição nos filmes produzidos ao final da disciplina. Além disso, elaborar as premissas e horizontes político-pedagógicos de uma pedagogia do cinema, a partir do exercício de montagem em filmes ensaísticos.
Resumo expandido
- Durante os meses de outubro a dezembro de 2020, foi ministrada, de forma de remota, a disciplina eletiva “Currículo, Cinema e Educação” para o curso de Pedagogia do Centro de Educação da UFPE. A equipe de professores contou com a professora Dra. Maria Thereza Didier, e os doutorandos Thiago Antunes (Educação) e Álvaro Brito (Comunicação). Esta comunicação procura elaborar as premissas e horizontes político-pedagógicos implicados nas práticas desenvolvidas durante o curso, estruturado fundamentalmente em 3 (três) principais eixos conjugados entre aulas síncronas e assíncronas: a leitura de textos, visualização e discussão de fragmentos de filmes e curtas-metragens, a escrita dos Cadernos de Memória e a realização de um filme-ensaio. O objetivo do curso foi introduzir questões e problemas relativos a debates atuais no encontro entre o Cinema e a Educação, explorar o potencial pedagógico de alguns filmes de caráter ensaístico, bem como promover a formação de professores para o desenvolvimento de sensibilidades e formas de engajamento com o cinema na licenciatura e no trabalho do ensino.
Espécie de diário de bordo, os Cadernos de Memória trariam o registro da experiência de aprendizado e descoberta durante a travessia do curso. Especialmente para esta edição, os cadernos puderam ser confeccionados e escritos tanto manualmente, como na forma de plataformas virtuais (blog, instagram etc.), fechados ou abertos para visualização de professores, sob a condição de ficarem disponíveis depois do término da disciplina. Procuraremos mapear e fornecer uma leitura/descrição geral do conteúdo dos cadernos, sem pretensão de esgotá-los ou torná-los homogêneos à interpretação.
Em seguida, inspirado na taxonomia dos signos cinematográficos de Deleuze (2018a, 2018b), e por tabela em Didi-Huberman (2013, 2017a) com suas várias formas e modalidades de aparição da imagem, procuramos inventariar/inventar uma classificação lúdica, provisória, dos tipos de imagens (e sons) produzidas por alguns dos filmes realizados. Se concordamos com uma clássica atribuição do filme-ensaio, para a qual a singularidade formal dos filmes deve-se ao fato de que cada filme inventa sua forma (BERGALA, 2000, p.14), o exercício de inventariar os modos de uso e invenção, de aparição e apresentação das imagens, bem como das diferentes vozes ensaísticas, coloca-se como desafio, ao mesmo tempo que aponta caminhos para explorar as formas de legibilidade e visibilidade (Didi-Huberman, 2017b) nas quais reside a hipótese e o potencial de uma pedagogia do olhar e um pensamento por imagens. Nossa taxonomia, de um lado, vem se acrescentar ludicamente aos tipos de imagens de Deleuze (imagem-pulsão, percepção, afecção, ação/imagem-movimento/imagem-tempo etc.), bem como os propostos por Didi-Huberman (imagens-matriz, malícia, combate…); de outro, a taxonomia presta-se ao jogo borgeano dos inventários fantásticos e propõe as “imagens-avó” (que remetem à saudade e à família, a partir da figura da avó); “imagens-rua” (designam as formas de aparição da rua, maneiras de ocupar, intervir e se aventurar no espaço público); “imagens-elemento” (formas de aparição dos elementos naturais, água, ar, fogo e terra); imagens-Méliés (formas de aparição fantástica ou ilusionista da imagem).
No cômputo da experiência, acreditamos ser possível elaborar o caráter político subjacente a uma pedagogia do cinema. O filme-ensaio permite o exercício de experimentar, pela montagem, os modos de uso e invenção das imagens: como fazem figurar um “pensamento” ou se prestam a um discurso; como se tornam sensíveis ou apenas informação; como acionam o jogo entre legibilidade, visibilidade e pensamento. De um lado, a prática dos filmes constitui modos de subjetivação que transformam as percepções naturalizadas sobre si e sobre o mundo, de outro, a visualização coletiva dos filmes aparece como o exercício mesmo do jogo democrático pelo qual o campo do sensível é redistribuído (RANCIÈRE, 2018).
Bibliografia
- BARTHES, R. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2015.
BERGALA, A. “Qu’est-ce qu’un film-essai?”. In ASTRIC (ed.), Le film-essai: identification d’un genre. Paris: Bibliothèque du Centre Georges Pompidou, 2000.
DELEUZE, G.. Cinema 1 – A imagem-movimento. São Paulo: Editora 34, 2018a.
___________. Cinema 2 – A imagem-tempo. São Paulo: Editora 34, 2018b.
DIDI-HUBERMAN, G. Diante do Tempo: História da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017a.
___________. Quando as imagens tomam posição – O olho da história I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017b.
FRESQUET, A.. Cinema e educação: Reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
MIGLIORIN, C.; BARROSO, E.I.. “Pedagogias do cinema: montagem”. In Revista de Cultura Audiovisual. Vol.43, nº46, 2016.
RANCIÈRE, J. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 2018