Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcel Vieira Barreto Silva (UFPB)

Minicurrículo

    Professor Associado I do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba. Atualmente, desenvolve os projetos de pesquisa: “Dramaturgia seriada contemporânea: processos de criação na Cultura das Séries brasileira” (CNPq) e “Economia criativa do audiovisual independente brasileiro: o papel da criatividade e o impacto da inovação no cenário produtivo das séries televisivas nacionais” (Fapesq-Fapesp).

Ficha do Trabalho

Título

    Sala de roteiristas: aspectos teóricos da escrita colaborativa

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Resumo

    Os estudos de roteiro dedicam pouco espaço para a reflexão teórica em torno dos processos de escrita colaborativos, como aqueles desenvolvidos em sala de roteiristas (Writer’s room). Entendendo que a escrita colaborativa é resultado de um processo anterior de cunho retórico, vamos definir a sala de roteiristas como uma arena argumentativa, em que o processo de criação privilegia a disputa hierarquizada de ideias para a produção de uma obra dramática desenvolvida, ao cabo, por muitas vozes.

Resumo expandido

    A tradição recentes dos estudos de roteiro tem se desenvolvido, assim avaliamos, com três focos principais: 1) teoria do roteiro: investigação especulativa da ontologia do roteiro enquanto objeto comunicacional e enquanto prática textual; 2) poética do roteiro: sistematização formal dos modos de concepção do texto do roteiro, a partir de diferentes metodologias e objetivos; 3) cultura do roteiro: análise da relação do roteiro com as diferentes dinâmicas institucionais de produção, circulação e consumo audiovisuais. Essas três perspectivas dominantes, cremos, possuem o objetivo sólido que erigir o campo de estudos do roteiro como espaço singular de reflexão, o qual, embora se desenvolva em interface com diversos outros campos, como a dramaturgia, a narratologia, os estudos de cinema e de televisão, a literatura e os estudos culturais, pode construir referenciais teórico-metodológicos próprios, a partir das suas mais unívocas especificidades.
    Nesse espectro, há um evidente destaque para a definição do roteiro enquanto um objeto textual único, produzido na maioria das vezes por um autor singular. Isso significa que o foco tende a cair sobre estudos que privilegiam o texto pronto, mais que os processos de criação, sobretudo aqueles que se desenvolvem em ambientes coletivos e através de dinâmicas colaborativas. Isso explica a carência de literatura sobre o processo de escrita dos roteiros, um tema já de interesse de campos como o teatro, as artes visuais e a escrita criativa. Olhar para esse fenômeno, com o interesse de teorizar sobre a sua natureza particular, parece-nos fundamental para o campo de estudos de roteiro hoje.
    No que cabe nesta apresentação, pretendemos apresentar alguns apontamentos teóricos preliminares para a compreensão do processo criativo nas chamadas Salas de roteiristas (Writers’ room), uma metodologia de trabalho colaborativo bastante utilizada na criação de obras seriadas e que, com a proeminência da Cultura das séries (SILVA, 2014) no ecossistema midiático contemporâneo, tem se tornado muito usual, inclusive no Brasil. Apesar dessa presença do método de sala na criação de séries, as referências bibliográficas a esse modelo estão mais em compilações de entrevistas (KALLAS, 2016) ou em livros de pouco rigor acadêmico (MARTIN, 2013; SEABRA, 2016), que em literatura teórico-metodológica de fôlego.
    Para tentarmos definir e categorizar a sala de roteiristas, vamos recorrer a um percurso metodológico triplo: primeiro, a revisão bibliográfica da literatura ainda parca sobre o tema; segundo, entrevistas semiestruturadas com chefes de sala de roteiristas no Brasil; terceiro, a experiência pessoal como roteirista que desenvolveu projetos em modelo de sala. A partir disso, vamos propor que a sala de roteiristas funciona como uma arena argumentativa, um espaço de disputa de ideias e visões sobre o projeto em desenvolvimento. Nesse sentido, para além de um dimensão material da escritura do texto, os processos colaborativos em sala de roteiristas são compostos, em larga medida, por uma dimensão retórica, em que diversas etapas da composição narrativa (arcos dramáticos, perfis de personagens, tramas, etc.) são realizadas em uma dinâmica de troca de ideias entre roteiristas, a partir de uma metodologia pré-definida pela produção (duração da sala, metas e objetivos diários, divisão interna de tarefas) e de uma hierarquia decisória também particular.
    Sistematizar, portanto, a natureza discursiva desse processo criativo, categorizando dinâmicas produtivas e metodologias de trabalho, é o objetivo derradeiro desta apresentação.

Bibliografia

    KALLAS, Christina. Na sala de roteiristas: Conversando com os autores de Friends, Família Soprano, Mad Men, Game of Thrones e outras séries que mudaram a TV. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
    MITTELL, Jason. Complex TV: The Poetics of Contemporary Television Storytelling. NYU Press: Nova Iorque, 2015.
    OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Editora Vozes, 1978.
    SALLES, Cecília de Almeida. Redes da Criação: Construção da Obra de Arte. São Paulo: Editora Horizonte, 2008. ________________________. A complexidade dos processos de criação em equipe: Uma reflexão sobre a produção audiovisual. Relatório de pós-doutorado. ECA-USP, 2016.
    SILVA, Marcel Vieira Barreto. Cultura das Séries: Forma, Contexto e Consumo de Ficção Seriada na Contemporaneidade. Galaxia (São Paulo. Online) . 27, jun. 2014, pg. 241-252.