Ficha do Proponente
Proponente
- Marta Cardoso Guedes (SME)
Minicurrículo
- Doutora Educação UFRJ (29 março 2021) Mestre Educação UFRJ. Especialista Psicomotricidade UNIIBMR. Professora Educação Física UGF. Atriz (DRT 20.318). Professora Educação Física Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME). Professora responsável pelo Projeto Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD/LECAV/UFRJ) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão no Rio de Janeiro.
Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/7776876291421009
Ficha do Trabalho
Título
- CINEMA E EDUCAÇÃO: ELABORAÇÃO DE MEMÓRIA E LUTA DA FAVELA DO VIDIGAL
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- Em 2017/18, a Escola de Cinema do Djalma (CINEAD) descobriu e restaurou, em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, imagens Super-8, fotografias e fitas cassete sobre a luta dos moradores da favela do Vidigal contra sua remoção para Santa Cruz/Antares em 1977/78. Em 2019, montamos Vidigal: exercícios de pensamento com arquivos e realizamos as gravações de Morro do Vidigal, cuja metodologia de filmagem se deu pelo confronto das imagens de arquivo com as testemunhas da história.
Resumo expandido
- A favela do Vidigal sofreu diversas ameaças de remoção. Em 1977/78, ocorreu a maior delas. Parte da favela seria removida para o Conjunto habitacional de Antares/Santa Cruz. Na época um grupo de dirigentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal com o apoio da Pastoral das Favelas, de artistas da comunidade e simpatizantes da causa impediu a remoção. Em 2015, a partir da aposta da Escola de Cinema do Djalma com a investigação da história da favela, foi possível realizar o documentário Paraíso Tropical Vidigal. Ao colocarmos “sobre a mesa/na tela” a história da favela para o trabalho em comum, como enfatizam Masschelein e Simons (2013/2014), várias pistas, acasos, encontros ocorreram. Enquanto pesquisávamos também intervínhamos na realidade e acabamos por inventar um novo problema – realizar um filme documentário, cuja metodologia de filmagem se deu pelo confronto dos arquivos sonoros e imagéticos – que vieram ao nosso encontro – com os personagens dessa história de luta da favela. De acordo com Benjamin (2009), os ofícios do colecionador e do alegorista complementam-se tal como as imagens dialéticas. Para o colecionador uma peça nova renova a configuração do todo por afinidades, e para o alegorista a retirada das coisas de seu contexto original e a perseguição das múltiplas interpretações de alguma coisa em particular.
Em um evento do CINEAD encontramos com Felícia Krumholz (CINEDUC). Ela filmou em super-8 a tentativa de remoção da favela do Vidigal em 77/78. Em 2017, realizamos o evento 40 anos de resistência do Vidigal na escola e Felícia anunciou sua caixa de isopor com os arquivos de outrora – filmes super-8, negativos de fotografias e fitas cassete com entrevistas da época – que generosamente cedeu, por nosso intermédio, à Cinemateca do MAM-Rio. A parceria UFRJ/Cinemateca proporcionou à Escola de Cinema do Djalma a aventura na restauração desse material sob a tutela de Hernani Heffner. Atualmente esse acervo tem sido utilizado como material de pesquisa e referência em novas produções audiovisuais.
Em 2018, realizamos o evento Vidigal: imagens, memória e resistência e apresentamos esse material restaurado aos antigos e atuais moradores ativistas, aos estudantes da Djalma e ao CINEAD. No dia seguinte ao chegar à escola os jovens corriam em minha direção e falavam: “Marta quando vamos voltar ao MAM?”. “Marta eu sonhei com as imagens de antigamente só que eu estava dentro delas…”. Nesse dia houve uma violenta operação policial na favela e um tiroteio intenso, mas mesmo ao som das balas que traçavam o céu os estudantes da Escola de Cinema do Djalma narraram aos mais jovens o evento do dia anterior na Cinemateca. E foi ali, ao som dos tiros, que compreendi que a tarefa não estava encerrada. Era preciso, como já havia sinalizado a cineasta e professora Anita Leandro, confrontar os personagens da história com os arquivos, pois a carga mnêmica que as imagens de outrora carregavam consigo, todo processo histórico, toda a questão da memória que suscitavam, trariam a possibilidade de compreensão do presente. Benjamin (2009), enfatiza que: “um método científico se distingue pelo fato de, ao encontrar novos objetos, desenvolver novos métodos – exatamente como a forma na arte que, ao conduzir a novos conteúdos, desenvolve novas formas” (p. 515). Desta forma realizamos Vidigal: exercícios de pensamento (2019), uma montagem de arquivos. Conforme avançávamos com exibições dessa montagem em nossos cineclubes escolares e fora deles compreendíamos a urgência em gravar nosso documentário Morro do Vidigal, pois “diante dos documentos, a testemunha procede a uma montagem associativa dos vestígios da história, despertando, com sua fala, a potência mnêmica dos materiais de arquivo” (LEANDRO, 2018, p. 225). Em Morro do Vidigal os arquivos funcionaram como dispositivo de acionamento de lembranças, pretexto para as falas dos ex-presidentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal, e dispensaram qualquer intervenção de nossa parte.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: editora da Universidade Federal de Minas Gerais. 2009.
LEANDRO, Anita. Testemunho filmado e montagem direta dos documentos. In. DELLAMORE, Carolina; AMATO, Gabriel; e BATISTA, Natália, orgs. A ditadura na tela. Questões conceituais. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG, 2018, pp. 219-232.
MASSCHELEIN, Jan & SIMONS, Maarten. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
________________, Jan & Maarten. A pedagogia, a democracia, a escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.