Ficha do Proponente
Proponente
- Amanda Lopes Fernandes (UAM)
Minicurrículo
- Mestre em Comunicação Audiovisual – Anhembi Morumbi (2020), bacharel em Cinema e Audiovisual – Anhembi Morumbi (2016) e bacharel em Administração de Empresas – USJT (2009). Bolsista, seu projeto de pesquisa resultou na plataforma Mulheres Audiovisual. Professora de Artes do Governo do Estado de São Paulo. Atua como programadora, administradora, cineasta e produtora executiva. Em sua produtora Fotossíntese Filmes, atua na direção, roteiro, montagem e produção de projetos independentes.
Ficha do Trabalho
Título
- O silêncio audível sobre Alice Guy
Seminário
- Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva
Resumo
- Dada a recorrente ausência da cineasta francesa Alice Guy (1873-1968) na escrita da história cinematográfica, traremos sua história no primeiro cinema. Assim, surge a motivação para analisar algumas causas do silenciamento feminino. Analisando parte dos dados bibliográficos, videográficos e de pesquisa quantitativa levantados durante o desenvolvimento de minha dissertação de mestrado, revela-se essa lacuna ou falta de aprofundamento em livros específicos sobre cinema para a formação acadêmica.
Resumo expandido
- Esta apresentação traz alguns resultados de minha pesquisa de mestrado sobre Alice Guy (1873-1968), sua produção e papel na cultura audiovisual em 26 anos de carreira, e como foi significativa sua participação, já no cinema silencioso, porém, nem sempre a ela devidamente creditada.
Perrot (2005, p. 9) diz que: “No início era o Verbo, mas o Verbo era Deus e, Homem. O silêncio é o comum das mulheres.” Ao buscar compreender a dificuldade de Guy em ser reconhecida naquela época, vemos que alguns dos obstáculos encontrados ainda persistem, não só no cinema.
A metodologia desta pesquisa inclui levantamento teórico e histórico, elaboração e aplicação de um formulário de pesquisa sobre o Primeiro Cinema com estudantes de Cinema. Ao tratar esses dados, obtivemos 118 respostas; destas, 59 vieram de Universidades Privadas e 49, de Públicas, com informações quanto às bibliografias utilizadas em diversos cursos de cinema. A maioria no território nacional: 26 na região Sudeste; 7 na Sul; 5, no Nordeste e 1 no Distrito Federal. Obtivemos, em menor número, informações bibliográficas utilizadas em universidades internacionais, sendo 5 no total. O período de curso citado foi entre os anos de 1993 a 2018 e contempla 19 cursos de universidades federais e estaduais e 25 cursos em universidades particulares, sendo 50 de graduação e 63 de pós-graduação. Ainda verificando a hipótese de silenciamento do nome de Guy nas vias acadêmicas, realizou-se um levantamento de todos os trabalhos apresentados nos últimos 23 anos de Congressos da Sociedade Brasileira de Cinema (SOCINE). E assim pudemos averiguar que Guy não foi trabalhada diretamente em nenhuma apresentação, porém seu nome foi citado em 2 pesquisas, em menos de 3 parágrafos.
Guy conta na sua autobiografia que, como secretária da produtora Gaumont, ao sair da primeira apresentação do cinematógrafo dos Lumière, já havia percebido a importância daquela invenção chamada Cinema. Ela complementa que naquela época ainda se filmava cenas de rua, estações de trem e retratos curtos e repetitivos para promover a nova tecnologia. “Pensei que alguém poderia fazer melhor do que esses filmes de demonstração. Reunindo coragem, timidamente propus a Gaumont que eu pudesse escrever uma ou duas pequenas cenas para alguns amigos atuarem nelas” (BLACHÉ, 1986, p. 26). A proposta foi aceita. A diretora francesa, que recebeu diversos prêmios em sua carreira, produziu e dirigiu mais de 1250 filmes, grande parte deles em estúdio próprio, mantido por ela e seu marido nos EUA. Guy foi reconhecida em festivais e teve sua autobiografia publicada 8 anos após sua morte. Apesar disso, sua trajetória raramente é incluída nas bibliografias e nos cursos universitários de cinema.
No documentário The Lost Garden (LOST, 1995), descobrimos que Guy também procurou diversos escritores e teóricos do cinema para pedir a inclusão de seu nome na história do cinema. Sadoul, a quem a diretora já havia pedido retratação, até cita seu nome, mas como mera secretária e atribuindo a um dos assistentes de Alice a autoria de alguns de seus filmes.
De acordo com a fala de McMahan no documentário Be Natural, os acadêmicos se interessaram por Alice Guy-Blaché desde o início e a convidaram para dar palestras. “Tendo sido a única cineasta mulher do mundo por 17 anos, ela era uma espécie de curiosidade”. (BE, 2018). Mesmo tendo toda essa vasta produção, seu nome não consta na bibliografia oficial dos cursos superiores, segundo os participantes da pesquisa de Cinema. Desde a Universidade, notamos uma não democratização do saber, com o acesso à diretora como algo só discutido em esferas de conhecimento específico; o silêncio em torno das realizações femininas na história tem raízes profundas e arraigadas. “Mas não podemos construir sobre o trabalho que as mulheres antes de nós fizeram, a menos que conheçamos seu trabalho” (MCMAHAN, 2002, p. 245).
Bibliografia
- BE Natural: The Untold History of Alice Guy Blaché. Direção de Pamela B Green. Provo: Wildwood Enterprises, 2018. (103 min). Disponível em: ITunes. Acesso em 27 abr. 2021.
BLACHÉ, A. G. The Memoirs of Alice Guy Blaché. Tradução: Roberta e Simone Blachè. 2. ed. Maryland: The Scarecrow Press Inc, 1986. Disponível em: Kobo Books. Acesso em 27 abr. 2021.
MCMAHAN, A. Alice Guy Blaché: Lost Visionary of the Cinema. Londres/Nova York: Bloomsbury, 2002.
PERROT, M. As mulheres ou os silêncios na história. Tradução Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 2005.
LOST Garden, The: The life and cinema of Alice Guy Blaché (Le jardin oublié: La vie et l’oeuvre d’Alice Guy-Blaché). Direção de Marquise Lepage. Montreal: National Film Board of Canada (NFB), 1995. (52 min., 57 seg.). Disponível em:
. Acesso em 27 abr. 2021.