Ficha do Proponente
Proponente
- GUILHERME HENRIQUE ANTONIO (UNESP)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação pela UNESP, desenvolvendo pesquisa sobre as produções midiática do Leste Asiático. Mestre pelo Programa de Comunicação -FAAC / UNESP (Bauru), na àrea de produção de sentido em mídias comparadas. Professor-bolsista nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas na UNESP-BAURU. Bacharel em Letras: Português-Mandarim pela FFLCH-USP.
Ficha do Trabalho
Título
- A cidade e o corpo: considerações sobre Rebels of the Neon God (1992)
Resumo
- Este artigo se apresenta como um ensaio do filme Rebels of the Neon God (1992), de Tsai Ming-Liang. As produções do diretor chamam atenção por seu caráter autoral, pela intertextualidade e por seu diálogo com questões da modernidade. Tsai repensa a relação do observador com o cinema, convidando-o a refletir, além de apresentar soluções narrativas que tornaram-se marcas do diretor. Este artigo contribui para os produções
cinematográficas, principalmente no que tange às produções asiáticas.
Resumo expandido
- Tsai Ming-Liang debuta no cinema nos apresentando uma Taipei em pleno movimento e
como essa cidade é vívida e sentida por três jovens. O filme de 1992 Rebels of the Neon God,
nome em inglês para o título 青少年哪吒 (ou Jovem Nezha em tradução literal), retrata a
camada média da juventude de Taipei que se percebe vazia de objetivos e desejos enquanto
vagam pelas ruas de uma noturna e chuvosa Taipei, iluminada pelo farol das motocicletas e
letreiros de neon.
A possibilidade do cinema de captar e suspender a efemeridade de momentos e emoções
convidam o observador a experienciar uma Taipei que se reconfigura em novos componentes
perceptivos. Nessa obra o diretor discute o efeito das transformações urbanas que ocorrem com
grande intensidade nas cidades asiáticas, desde os anos 40 e principalmente a partir dos anos 70
em seus habitantes e também à forma como o cinema, capaz de registrar e preservar um espaço
em desaparecimento, se relaciona com tais mudanças. Essa dinâmica de transformações afinadas
com o espaço urbano abarca corpos, signos, linguagens relações e até mesmo o próprio
observador.
A proposta deste artigo é discutir o papel do observador na obra Rebels of the Neon God
em dois níveis: o observador diegético, voyeur, representado pelo personagem Hsiao Kang (Lee
Kang-sheng); e nós observadores não-diegéticos, que observamos aquele que observa e apontar
relações entre essas duas instâncias. Além disso, levando-se em conta a revalorização do cinema como uma arte espacial, e partindo de uma categorização do espaço como algo dinâmico, definido acima de tudo pela mobilidade, este artigo procura identificar a relação entre espaço, tempo e memória no filme Rebels of the Neon God, traçando um paralelo entre a efemeridade da cidade e a efemeridade do cinema, à luz de
suas constantes mutações.
Algumas leituras possíveis foram e deveriam ter sido feitas sobre esse vertiginoso
maelstrom de desejo, sexo, arependimento e meditação sobre a decadência da carne e da alma
dos personagens de Tsai. O caráter ilusório do desejo e a natureza transitória da vida humana
fazem com que a inocência se perca em uma multiplicação de decepções contemporâneas e uma
vida.
Frequentemente referenciados como excêntricos ou estranhos, esses personagens, cujo
comportamento flerta com manias peculiares e grande fisicalidade, desafiam premissas
normativas de condutas privadas e categorias fixadas de identidades e subjetividade. Os
comportamentos por vezes inexplicáveis contrariam os modelos de normalidade, seus
personagens agem como as pessoas geralmente se comportam ( mas raramente são representadas
se comportando) quando estão sozinhas, ou seja estranhamente.
Nos filmes de Tsai, o comportamento bizarro de seus personagens confunde qualquer tentativa
de explicá-los. Esses personagens solitários são constantemente representados em suas casas,
limitados por janelas, portas e espelhos, quase que emoldurados.
Além de delimitar o espaço dos personagens, portas, janelas e paredes são objetos que
fracionam ou expandem o espaço doméstico em variados planos, oferecendo múltiplos focos de
atenção na mesma cena.
O cinema de Tsai Ming-Liang nos oferece várias perspectivas de espaço e tempo, não se
limitando à dimensão física.
Os protagonistas de seu filme transitam na fronteira entre suas singularidades e os
modelos sociais mais provavelmente estabelecidos como nação, comunidade, família,
capitalismo e até heterossexualidade.
Não há nada de típico e normativo em seus filmes, eles sempre encenam uma jornada
para o novo, a criação do sentido contra o bom senso, contra a ética, moralidade e normalidade.
Nossa condição pós-moderna desencadeia uma reação contra a pressão efetuada pela
implementação da globalização de uma temporalidade universal que apaga imaginações
alternativas e temporalidades com ritmos diferentes. Através de seus personagens, seus espaços e sua
temporalidade, Tsai aponta em nós o que escondemos dos outros e de nós mesmos.
Bibliografia
- BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre fotografia: tradução de Julio Castañon
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