Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Butcher (ESPM)
Minicurrículo
- Jornalista e pesquisador, é professor do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-RJ. Como bolsista Fulbright, foi pesquisador visitante no Departamento de Cinema e Mídia da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, EUA, entre setembro de 2017 e junho de 2018. Em 2019, defendeu a tese “Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípios de uma hegemonia”, no PPGCine, UFF. De 2001 a 2014, editou o Filme B, especializado no mercado de cinema brasileiro. Desde 2014 é curador da mostra Cine BH.
Ficha do Trabalho
Título
- Promessas, promessas: “Paramount e a filmagem brasileira” em Cinearte
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Resumo
- Em março de 1927, a revista Cinearte publicou uma série de reportagens dedicadas à Paramount. Dentre elas, um texto de Pedro Lima em que o autor comentava a promessa do diretor da companhia no Brasil, John L. Day, de que o Rio de Janeiro seria “o centro único para ser instalado um estúdio cinematográfico”. Esse artigo procura analisar essa edição de Cinearte à luz de um entendimento histórico da presença das distribuidoras americanas no Brasil e das relações com a produção brasileira.
Resumo expandido
- Na sua edição de 23 de março de 1927, a revista Cinearte publicou uma série de reportagens dedicadas à Paramount. Dentre elas, um texto de Pedro Lima em que o autor comentava o suposto desejo expresso pela companhia de “colaborar na filmagem brasileira de um modo direto e incisivo”. Lima cobrava uma promessa feita quase dois anos antes pelo diretor da Paramount no Brasil, John L. Day, que, em entrevista à própria Cinearte, em junho de 1925, teria dito que o Rio de Janeiro reunia qualidades para ser “o centro único” para a instalação de um estúdio cinematográfico no país. Na sequência, afirmava que deslocaria “as principais figuras do nosso elenco (…) para confeccionar uma película inaugural, com motivos e assuntos puramente dos nossos irmãos do Sul”, e concluía afirmando que a Paramount desejava “ser a primeira fábrica norte-americana a inaugurar um estúdio na América do Sul” .
Em seu texto, Pedro Lima ressalta a recorrência de promessas da Paramount de apoio “não só financeiro e artístico, mas, também, contando com as casas que exibem seus filmes”, para “popularizar a nossa Indústria Cinematográfica” . Citava como um possível estímulo a esse apoio o sucesso de “O Guarany”, projeto finalizado com recursos de adiantamento de direitos de distribuição pela Paramount, e que, segundo Lima, fora um sucesso de bilheteria.
O objetivo dessa comunicação é dar partida a um dos possíveis desdobramentos de minha pesquisa de doutorado, sobre a instalação dos escritórios das companhias de cinema americanas no Brasil, analisando a edição de 23 de março de 1927 de Cinearte à luz de um entendimento histórico da presença das distribuidoras americanas no Brasil. Nesse primeiro momento, essa etapa da pesquisa se concentrará em um levantamento e estudo das páginas de Cinearte dedicadas às companhias que, mais tarde, seriam denominadas como as “majors” americanas, com foco nas reportagens especiais e na coluna “Cinemas e Cinematographistas”, dedicada especificamente à cobertura do mercado.
Com a fixação e consolidação da presença da cinematografia hollywoodiana nas salas de cinema do país, as revistas passaram a depender cada vez mais do material publicitário fornecido pelas distribuidoras. Cinearte, em especial, pode ser vista como um palco privilegiado das contradições de um mercado ocupado, ao se propor a ser, ao mesmo tempo, plataforma de divulgação dos filmes americanos e defensora do estabelecimento de uma indústria nacional, sobretudo pela voz de Pedro Lima. Como afirma Ismail Xavier (2017, p. 180), “Cinearte é a manifestação integral e contraditória da indústria triunfante e da colonização cultural”, estando “em sintonia com as forças dominantes do presente” ao mesmo tempo em quee “dá lugar para a expressão de forças estranhas ao seu eixo central, embora essa expressão se dê na forma de uma proposta de transplante, conformadora da legitimidade universal do mundo cinematográfico que Cinearte promove”.
O número que é objeto dessa comunicação é exemplar nesse sentido. Quase todo dedicado à Paramount, traz um longo perfil de Adolf Zukor, presidente da empresa nos Estados Unidos; uma entrevista com Emil E. Shauer, diretor do departamento estrangeiro na sede em Nova York; uma reportagem sobre o majestoso cinema da Paramount também em Nova York e uma reportagem sobre o escritório da distribuidora no Rio de Janeiro. Por fim, apresenta ainda a cartela de filmes para o ano de 1927, anunciada no “Álbum Paramount”. Esse conjunto, somado ao texto de Pedro Lima, que evoca a relação com a produção brasileira e alude às constantes promessas, não cumpridas, de um apoio efetivo à cinematografia nacional, pode ser um ponto de partida para o aprofundamento de uma perspectiva histórica sobre a relação das majors hollywoodianas e a produção brasileira.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
BUTCHER, Pedro. Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípio(s) de uma hegemonia. Tese de doutorado. Niterói: UFF, 2019.
GATTI, A. e FREIRE, R. (orgs). Retomando a questão da indústria cinematográfica brasileira. Catálogo da mostra realizada pela Associação Tela Brasilis na Caixa Cultural.
Março de 2009.
AVELLAR, José Carlos (org.). Seminário Cinearte. Rio de Janeiro, Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro: Cinemateca do MAM, 1991.
LUCAS, Taís Campello. Cinearte: o cinema brasileiro em revista (1926-1942). Dissertação de mestrado. Niterói: UFF, 2005.
XAVIER, Ismail. Sétima arte: um culto moderno. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.