Ficha do Proponente
Proponente
- Marília Xavier de Lima (UAM)
Minicurrículo
- Doutoranda em Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi. É mestre e graduada em Comunicação Social pela UFJF. Integra o Grupo de Pesquisa Micropolíticas do Cotidiano: formas estéticas e narrativas no documentário contemporâneo (CNPq) e o GRUPIC – Grupo de Pesquisa Imagens em Conflito: Estética e Política no Cinema do Oriente Médio (CNPq), ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi.
Ficha do Trabalho
Título
- A composição em profundidade de campo em “Roma”
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Resumo
- A presente comunicação busca apresentar um estudo acerca do uso da profundidade de campo como um modo de guiar a atenção do espectador no quadro. Na esteira das reflexões de David Bordwell (2008) e André Bazin (2014), propomos a análise da composição fotográfica do filme “Roma” (Alfonso Cuarón, 2018). Nosso intuito com esse trabalho é pensar sobre métodos de pesquisa de direção de fotografia em consonância com a prática que envolve a produção de imagens no cinema.
Resumo expandido
- Como atrair a atenção do espectador foi um dos pontos abordados no estudo de estilo no cinema realizado por David Bordwell (2013). Segundo ele, o olhar do espectador varre o quadro e se fixa em pontos de informações induzidos por elementos plásticos como partes do corpo dos personagens (rosto e mãos), controle de luz e movimentações. Seguindo nessa linha, ele faz um estudo da história do estilo no cinema, olhando, por exemplo, para o Primeiro Cinema e seus modos de atrair o olhar espectatorial em congruência com as tecnologias que havia no período para a produção de imagens. Dessa forma, destaca diversos modos de composição da cena que expressam as intenções da direção para guiar o entendimento da narrativa.
Para o ensino do cinema no âmbito universitário, a pesquisa de Bordwell traz assunções importantes tanto para a história do cinema como para a direção e direção de fotografia na prática audiovisual. Em vista disso, propomos uma comunicação em torno do estudo acerca da composição em profundidade de campo para a pesquisa e prática da direção de fotografia. Como recorte e aplicação dos conceitos, apresentaremos a análise do filme “Roma” (Alfonso Cuarón, 2018), cuja direção de fotografia foi feita pelo próprio diretor, relacionando-o com filmes que exibem construções plásticas similares ao longo da história do cinema mundial, desde o Primeiro Cinema ao cinema brasileiro contemporâneo. Na esteira da metodologia de Bordwell, buscamos um estudo envolvendo tanto o trabalho técnico da construção da imagem por meio da análise dos aspectos plásticos como a iluminação, o enquadramento, a distância focal e a profundidade de campo como também os seus efeitos para o entendimento da narrativa.
No caso de “Roma”, examinaremos as cenas cuja composição realizada com plano aberto e em sequência dispõe os elementos plásticos no enquadramento no intuito de guiar o olhar do espectador. Esse artificio cinematográfico tanto aponta para seu estilo como para uma tradição do cinema que abarca diversas vertentes, do clássico ao realismo.
A profundidade de campo é uma noção técnica que vem da prática fotográfica na qual mantém os objetos do enquadramento em foco. No cinema, concentra as informações necessárias à narrativa em um único plano, isso em uma ocasião de nitidez máxima. Essa manipulação do foco implica um modo de trabalhar o olhar do espectador no campo da cena, dando diversas possibilidades ao fazer cinematográfico (no que tange ao direcionamento do olhar ou a uma maior liberdade desse olhar). A situação dramática, nesse caso, manifesta-se através da ação dos personagens em cena enquadrados no mesmo plano, não mais como consequência da montagem na qual decompõe os acontecimentos derivando em relações artificiais entre os planos. Para Bazin (2014), o artificio, atrelado ao plano aberto e em sequência, é fundamental na construção do realismo no cinema.
Em “Figuras traçadas da luz” (2008), Bordwell se dedica ao estudo das potencialidades da encenação em plano-sequência (tradição que chamou de cinema de mise-en-scène) explorando a forma como o artificio foi experimentado no decorrer da história do cinema. O pesquisador adota a visão do trabalho técnico de encenação como aquele que articula “o cenário, a iluminação, o figurino, a maquiagem e a atuação dos atores dentro do quadro” (2008, p. 33). Seu olhar se volta com proeminência para a técnica da encenação em profundidade de campo em diretores como Louis Feuillade, Hong Sang-Soo, Hou Hsiao-Hsien e Kenji Mizoguchi.
Buscamos, desse modo, um estudo comparado da composição das cenas no filme com outras produções cinematográficas, bem como a fotografia e a pintura. Com isso, nossa comunicação procura refletir sobre métodos de ensino em direção de fotografia em consonância com a pesquisa estética e com a prática de produção de imagens.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. O olho interminável (cinema e pintura). São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
BAZIN, André. O que é o cinema?. São Paulo: Cosac & Naify, 2014.
BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Papirus, 2008.
BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.
COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema. Scritta, 1995.
MOURA, Edgar. 50 anos luz: câmera e ação. São Paulo: SENAC, 2005.